Em meio a um cenário macroeconômico mais desafiador, com os juros em patamares elevados e a aceleração da inflação de custos, a opção da Tenda de priorizar a reconstrução de suas margens, em detrimento a um volume maior de vendas e lançamentos, está sendo bem recebida pelos analistas que acompanham a empresa. 

Enfrentando dificuldades financeiras após o aumento dos custos dos insumos, que estourou orçamentos e elevou o endividamento, a construtora se viu obrigada a rever sua estratégia, reduzindo o ritmo de lançamentos e elevando os preços. 

As iniciativas para recuperar as finanças foram vistas no segundo trimestre. Dados operacionais divulgados ontem, dia 19 de julho, após o fechamento do mercado, mostram que o preço médio das vendas no segundo trimestre subiu 20% em relação ao mesmo intervalo de 2021 e 9% ante o primeiro trimestre, a R$ 176,6 mil. 

Já as vendas líquidas totalizaram R$ 558,4 milhões, queda de 35% em base anual e 3,5% na comparação trimestral. A chamada VSO bruta, medida que demonstra o percentual de unidades comercializadas em relação ao estoque disponível, recuou em 8,3 pontos percentuais (p.p.) em relação ao segundo trimestre de 2021 e 2,7 p.p. ante o primeiro trimestre deste ano, para 30%. 

Foram lançados dez empreendimentos no segundo trimestre, recuo de 22% na comparação com o mesmo período de 2021, mas um avanço de 64,6% ante os primeiros três meses do ano. O preço médio subiu 33,2% em base anual e 14,1% na trimestral, para R$ 201,1 mil. 

Para o analista Pedro Hajnal, do Credit Suisse, a Tenda está conseguindo levar adiante a intenção de recuperar margens, sendo mais rígida com a aprovação de projetos e tendo bons resultados com a estratégia de recomposição de preços. 

“Acreditamos que a Tenda está fazendo o que é necessário ser feito para recompor suas margens”, diz trecho do relatório. O Credit Suisse tem recomendação neutra para as ações, com preço-alvo de R$ 6,00, vendo um potencial de alta de 42,2% ante os patamares atuais. 

O BTG Pactual também elogiou os esforços da Tenda em recompor as margens via aumento de preços, mas destacou que a perspectiva no curto prazo ainda é desafiadora para a empresa. 

Segundo os analistas Gustavo Cambauva, Elvis Credendio e Bruno Tomazetto, as margens permanecerão pressionadas até que novos projetos, alinhados com essa nova estratégia de preços, comecem a se sobrepor aos antigos empreendimentos nos resultados. Junto a isso, eles estimam que a alavancagem permanecerá elevada, diante do fluxo de caixa mais baixo com a desaceleração das vendas. 

Este último ponto é sensível para a Tenda, que conseguiu no começo do mês com debenturistas novos termos para seu endividamento. Os credores aceitaram flexibilizar as metas de endividamento previstas nas emissões – a empresa captou cerca de R$ 1 bilhão por meio de cinco séries de debêntures e um certificado de recebíveis imobiliários (CRI) nos últimos anos.

A Tenda encerrou o primeiro trimestre com uma dívida líquida de R$ 596,7 milhões, alta de 80% em relação ao quarto trimestre e 15,7 vezes maior ao apurado no mesmo período de 2021. 

Os termos originais dos financiamentos exigiam que a Tenda mantivesse a relação entre sua dívida e o patrimônio líquido abaixo de 15%, mas as dificuldades enfrentadas pela empresa fez com que a alavancagem atingisse 33% no primeiro trimestre. Esse descumprimento obrigaria a construtora a pagar de uma vez vencimentos previstos para 2024 e 2028.

Após negociações, os credores decidiram no começo de julho conceder o chamado waiver alterando as metas. Eles aceitaram que a alavancagem possa subir a 80% em 2022, atingindo pico de 85% em 2023, para depois ir caindo até chegar a 30%, ou menos, no final de 2024.

Por volta das 15h58, as ações da Tenda subiam 7,11%, a R$ 4,52. No ano, elas acumulam queda de 72,9%, com o valor de mercado somando R$ 436,6 milhões.