Acusações, xingamentos e interrupções – on repeat. O looping dessas ações se estendeu por todo o debate presidencial americano, que aconteceu na noite da última terça-feira, 29 de setembro.

Até mesmo o moderador do evento, o jornalista Chris Wallace, chegou a perder a compostura, subindo seu tom de voz para pedir que Donald Trump e Joe Biden, os dois candidatos à presidência, respeitassem o momento de fala de seu oponente. "Eu odeio elevar minha voz… mas por que eu seria diferente de vocês", disse o apresentador.

Mas os apelos do mediador foram em vão, e os dois candidatos prosseguiram "cortando" as falas um do outro e trocando ofensas. Biden chegou a chamar Trump de "palhaço" e soltou um sonoro "você pode calar a boca, cara?". Trump, por sua vez, apelou para a família de seu adversário e trouxe o passado de vício de um dos filhos do democrata para o palco do debate político.

No final das contas, o republicano teve mais tempo ao microfone. Segundo levantamento da CNN, Trump falou por 39 minutos, enquanto Biden teve 37 minutos de discurso. 

O primeiro debate presidencial americano aconteceu no palco organizado pela Fox News no estado de Ohio, onde estão virtualmente empatados, com Biden gozando de uma frágil margem de 1% das intenções de voto. 

Os candidatos voltam a se encontrar no dia 15 de outubro, na Flórida, e em 22 de outubro, no estado de Tennesse. Os candidatos a vice-presidentes se enfrentam em um debate em 7 de outubro, em Utah.

Neste ano, a eleição presidencial americana acontece no dia 3 de novembro e paira sobre ela a possibilidade de uma contestação jurídica de seu resultado, independentemente de quem seja o vencedor das urnas. 

Por conta da pandemia, muitos americanos optaram por votar por correio, uma alternativa que Donald Trump afirma ser passível de fraudes – mesmo tendo votado dessa maneira em outras eleições. 

Enquanto os americanos não elegem o próximo presidente da nação mais poderosa do mundo, acompanhe os cinco momentos mais marcantes do debate, separados pelo NeoFeed.

Suprema Corte e a saúde nacional

Para dar a "partida" do debate, Chris Wallace pediu para que os candidatos defendessem sua posição quanto à nomeação de um novo juiz para a Suprema Corte Americana, para ocupar a lugar vago por Ruth Bader Ginsburg, que morreu em 18 de setembro.

Trump foi o primeiro a se apossar dos dois minutos de fala ininterrupta, e disse que é da regra do jogo que o presidente aponte um juiz para a posição e que seria, então, seu direito fazê-lo. O atual chefe da Casa Branca pretende indicar a juíza Amy Coney Barrett para o cargo.

Sem margens para a interpretação desta lei, Biden mostrou que decisões importantes estão em jogo e que seria prudente deixar o povo americano participar desse momento, escolhendo o próximo gabinete a comandar o país. Como exemplo, o democrata disse que Barrett seria contra o Obamacare e que o programa instituído por Obama, beneficiava milhões de americanos.

Já seu adversário insistiu na teoria de que o Obamacare é falho e que ele pretende substituí-lo por outro plano – mas não deu detalhes de sua iniciativa.

O gerenciamento da crise do novo coronavírus

Com mais de 7 milhões de casos confirmados e 205 mil mortes, os Estados Unidos são o país mais afetado pela Covid-19 em números absolutos. Não à toa, a pandemia foi um dos tópicos propostos para discussão pelo mediador Chris Wallace. E Joe Biden não deixou barato. 

O democrata acusou Trump de negligência. "Ele sabia, desde fevereiro, o quão séria era essa crise, o quão mortal era o vírus. E o que ele fez? Está gravado isso, ele admitindo que sabia e dizendo que não nos avisou porque não queria causar pânico na população."

Com a palavra, o republicano voltou a culpar a China pelo vírus e disse que, se tivesse dado ouvido aos conselhos de Biden, "os Estados Unidos teriam ficado aberto (para a viagem de estrangeiros) e milhões de pessoas teriam morrido e não 200 mil". Trump ainda apontou o dedo para outros países, dizendo que China, Rússia e Índia não estão sendo exatamente claros nos números de vítimas da pandemia.

Racismo 

Casos como os assassinatos de George Floyd e Breonna Taylor por violência policial provocaram uma verdadeira onda de protestos nos Estados Unidos. Em todos os cantos do país, grupos civis se organizaram para exigir paridade racial, um assunto que não poderia escapar do debate presidencial.

Biden teve a primeira fala e abriu seu discurso com uma mea culpa. "Nós (democratas) nunca fugimos da responsabilidade de trazer igualdade para todos os americanos. Não chegamos lá, mas não fugimos do assunto como ele (Trump)". O candidato prosseguiu sua fala acusando seu oponente de promover o ódio e o racismo. "O que ele fez é uma tragédia para o povo afro-americano". 

Em sua réplica, Trump disse que Biden foi cruel com a população negra, citando um caso de 1994 em que seu adversário político supostamente chamou afro-americanos de "super predadores". O republicano destacou ainda que tem o apoio das autoridades de segurança nacional.

Quando questionado se condenaria grupos milicianos e supremacistas brancos, o atual chefe da Casa Branca se recusou a dar uma resposta direta e disse que vê mais problema com a esquerda. Wallace insistiu e Trump disse: "Mantenham distância e mantenham a calma", mas não condenou os grupos mencionados pelo apresentador. 

Impostos

Em mais de um momento da noite, a questão dos impostos federais sobre a renda pessoal do republicano foi explorada pelo candidato democrata. Biden citou a reportagem do The New York Times que afirma que Trump pagou apenas US$ 750 de impostos em dois anos, um valor muito menor do que a média dos americanos, que desembolsam cerca de 30% de sua renda para esse fim. 

Direto ao ponto, Chris Wallace trouxe o tema ao debate, perguntando a Trump quanto ele teria pago de impostos, uma vez que o atual presidente americano diz que a reportagem é mentirosa. "Paguei milhões, e você vai ver", respondeu o candidato, sem se comprometer com uma data para revelar seu imposto de renda. 

O republicano continuou dizendo que "ninguém quer pagar impostos" e que todo mundo procura brechas para pagar o mínimo de taxas possível. "Nós usamos créditos de impostos", prosseguiu Trump, "e o governo Obama concedeu isso".

Biden encerrou esse segmento afirmando que reformaria as regras de isenções fiscais propostas por Trump, que beneficia corporações e milionários. O republicano disse que isso seria fatal para a economia americana. 

Eleições seguras e transição de governo

"O que vocês planejam fazer para reassegurar à população de que o próximo presidente será legitimamente escolhido pelo voto?", perguntou Wallace na reta final do debate.

Biden saiu na frente deste segmento e encorajou as pessoas a buscarem informações oficiais em sites como o iwillvote.com e a, de fato, votarem, seja por correios ou pessoalmente. "Você vai decidir o resultado desta eleição. Vote, vote, vote!", afirmou o democrata. 

Com a palavra, Trump afirma que será uma tragédia as eleições pelos correios. "Vai ser uma fraude como nunca vimos", profetizou o candidato à reeleição, que confirmou contar com a supervisão da Suprema Corte nesta eleição. 

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