A startup argentina Nuvemshop, dona de uma plataforma de comércio eletrônico para pequenas e médias empresas, está recebendo um aporte de US$ 500 milhões (R$ 2,6 bilhões) em uma rodada série E liderada pela Insight Partners e Tiger Global Management.

Na rodada, a Nuvemshop, que se chama Tiendanube em países de língua espanhola na América Latina, foi avaliada em US$ 3,1 bilhões, tornando-se o mais novo unicórnio da região latino-americana, como são chamadas as startups que valem mais de US$ 1 bilhão.

À frente da Nuvemshop estão apenas o Nubank (US$ 30 bilhões), Rappi (US$ 5,25 bilhões), C6 Bank (US$ 5,05 bilhões), QuintoAndar (US$ 4 bilhões) e Kavak (US$ 4 bilhões), segundo ranking da consultoria americana CB Insisghts, que monitora os unicórnios ao redor do mundo.

“De um lado, estou com os pés no chão, acreditando que ser um unicórnio não tem muito valor. Gosto de celebrar outras coisas em vez de uma marca financeira”, diz Santiago Sosa, cofundador e CEO da Nuvemshop, em entrevista ao NeoFeed. “Por outro lado, é um sinal de que estamos construindo algo de valor.”

A rodada contou também com a participação de outros investidores, como Alkeon, Owl Rock, Sunley House Capital (subsidiária da Advent) e VMG Partners, e foi seguida por Accel, Kaszek, Kevin Efrusy, Qualcomm Ventures LLC e ThornTree Capital.

Essa é a terceira rodada de investimentos da Nuvemshop desde outubro de 2020. No total, incluído o aporte que está sendo anunciado, a startup levantou US$ 620 milhões (aproximadamente R$ 3,2 bilhões) em apenas 10 meses. “Temos dinheiro no banco e essa é uma captação adicional”, diz Sosa. “É dinheiro para a construção de longo prazo.”

A Nuvemshop vai investir os recursos em quatro áreas. A primeira delas é no avanço de sua plataforma de comércio eletrônico, que é considerada o negócio “core” da startup. De acordo com Sosa, há ainda muito espaço para inovar em áreas como experiência de compra, segurança e gestão de inventário.

A startup vai também investir em seu ecossistema de aplicativos, uma área na qual conta com soluções que são integradas à sua plataforma de e-commerce. Atualmente, são 300 aplicativos em diversas categorias, como comércio, pagamentos, logística e ferramentas de marketing. “Queremos que a Nuvemshop seja um sistema operacional para o varejo.”

Os recursos vão ser usados ainda para o desenvolvimento de soluções financeiras e de logística. Mas sobre esses dois itens, Sosa não dá detalhes. A ideia, diz o empreendedor, é ter soluções próprias para oferecer aos seus clientes, mas mantendo a opção de eles escolherem serviços de terceiros. “Seremos sempre abertos”, afirma Sosa.

Santiago Sosa, cofundador e CEO da Nuvemshop

O plano da Nuvemshop inclui ainda expandir-se para outros países. A startup está presente na Argentina, Brasil e México. Agora, deve abrir operações internacionais em países andinos, como Chile, Colômbia e Peru. Fusões e aquisições estão no radar, em todos esses pilares citados anteriormente. “Não será uma estratégia agressiva de M&A, seremos mais seletivos”, diz Sosa. “Será um meio para resolver alguns desafios e muito direcionada a algumas oportunidades.”

Com 90 mil clientes, a grande maioria no Brasil, a plataforma da Nuvemshop deverá movimentar um GMV de R$ 7 bilhões no fim deste ano. A meta é que esse número se multiplique por até 15 em cinco anos. Seu modelo de negócio combina uma assinatura mensal com uma taxa em cada venda. Os planos começam a partir de R$ 14. E, quanto maior o número de pedidos, maior o valor da assinatura e menor a comissão cobrada por transação.

Sem divulgar seus dados financeiros, a startup informa que, ano passado, era lucrativa. Com os aportes e investimentos, a Nuvemshop passou a ser deficitária na última linha do balanço, mas Sosa afirma que tem ‘unit economics’ positivo – cada cliente dá lucro, mas a companhia queima caixa por conta dos investimentos de crescimento. Com 600 funcionários, a meta é chegar a 900 até o fim deste ano. Em cinco anos, Sosa estima em até 6 mil empregados.

De vento em popa

A Nuvemshop se beneficia do crescimento do comércio eletrônico, um dos setores da economia que acelerou por conta da pandemia do novo coronavírus. Essa tendência, no entanto, ajuda também a todos os concorrentes da Nuvemshop.

Entre eles estão companhias com capital aberto na bolsa, como a Locaweb e VTEX – está última, fez o IPO na Bolsa de York e estreou avaliada em US$ 2,75 bilhão em julho deste ano (atualmente vale US$ 4,8 bilhões).

“No ano passado, foram abertas 100 mil novas lojas virtuais no Brasil em sua maioria de pequenos negócios”, diz Maurici Junior, membro do Conselho Administrativo da ABComm, associação que representa empresas da área e conta com nomes como DrogaRaia, Magazine Luiza, Mercado Livre e Renner entre seus associados. “No auge, nasceu uma loja virtual por minuto.”

Em 2020, segundos os cálculos da ABComm, o comércio eletrônico atingiu R$ 120 bilhões no Brasil, uma alta de 68%, o que representou 10% do total do varejo. Neste ano, a expansão estimada é de 18%. “É um crescimento menor, mas ainda assim expressivo”, afirma Maurici Junior. “É um hábito que veio para ficar.”

É o que acredita a startup fundada em 2011 na Argentina por Sosa, Alejandro Vázquez, Martin Palombo e Alejandro Alfonso. Anos antes, Sosa, que era estudante de Engenharia, precisava de um estágio para concluir o curso e pegar o diploma. Em vez de buscar uma colocação, ele propôs aos professores fundar uma empresa. Foi assim que surgiu um marketplace chamado Linkedstore, um embrião da Nuvemshop.

Sosa trabalhou na Linkedstore de seus 20 anos até os 22 anos. Mas o negócio não deu certo. A experiência, no entanto, serviu para que Sosa e seus companheiros percebessem que os clientes queriam mais personalização de suas lojas virtuais. Foi daí que surgiu a ideia da Nuvemshop, uma plataforma que permite que pequenos negócios possam criar suas lojas virtuais de forma fácil e acessível.

O Brasil esteve no mapa da Nuvemshop desde o começo. Durante a faculdade, Sosa fez um estágio na Índia e conheceu um brasileiro, que lhe abriu os olhos para o potencial do País. “A primeira viagem de negócios para cá foi em 2011”, conta Sosa. Um ano depois, já atuava no Brasil.