Um banco digital da Índia, o Jupiter, é o mais novo investimento do Nubank. Pela primeira vez, a fintech brasileira, que também tem operações próprias no México e na Colômbia, está colocando os pés fora da América Latina, mesmo que indiretamente, para explorar outras regiões.

O Nubank acaba de coliderar um aporte de US$ 44 milhões na startup indiana, agora avaliada em US$ 300 milhões. Trata-se também do primeiro investimento puro do Nubank em outra companhia. Até o momento, a companhia havia feito apenas aquisições.

O Jupiter, que está sediado em Bangarole e Mumbai, foi fundado por Jitendra Gupta, um veterano da indústria de fintechs, e ainda opera como um aplicativo beta para convidados, lançado em junho. A expectativa é que comece a funcionar para valer em um mês.

"Os mercados indiano e latinoamericano têm muitas semelhanças e, com esse investimento, pretendemos apoiá-los em seu caminho de crescimento e aprender com os desafios que encontrarão por lá", afirma David Vélez, CEO e fundador do Nubank, em nota. "Vemos muito potencial na empresa e estamos ansiosos para nos juntar a eles tão cedo em sua jornada”.

A rodada Series B também foi liderada por Global Founders Capital, Sequoia Capital e Matrix Partners India. Também participaram Mirae Assets Venture, Addition Ventures, Tanglin VC, 3one4 Capital, Greyhound e Beenext. Com este segundo aporte, o Jupiter soma cerca de US$ 70 milhões em captações.

A entrada do Nubank na Índia ocorre dois meses depois de a fintech captar US$ 500 milhões com a Berkshire Hathaway, do lendário investidor Warren Buffett, em uma extensão da rodada Series G, realizada cinco meses antes. Houve também outro aporte de US$ 250 milhões, liderado por Sands Capital. Após as captações, a companhia passou a ser avaliada em US$ 30 bilhões.

O investimento do Nubank na Índia é estratégico porque, embora a empresa não esteja chegando com produtos da própria marca, terá a chance conhecer de perto o mercado indiano, um dos países emergentes que mais crescem no mundo e que sofre com problemas similares aos do Brasil, como o alto número de desbancarizados e desigualdade de renda.

Na Índia, 191 milhões de pessoas não têm acesso a uma conta bancária, número próximo ao da população brasileira, que tem 211 milhões de pessoas.

O país, com isso, tem se mostrado um terreno fértil para o surgimento de novas fintechs. Segundo dados da agência governamental indiana para promoção de investimentos, das 2,1 mil fintechs existentes na Índia, 67% nasceram nos últimos cinco anos.

A Índia, que em 2020 teve a sua primeira recessão em 25 anos, em razão da pandemia, deve crescer 12,9% em 2021, segundo projeção da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a maior expansão entre todos os países analisados.

O Nubank, que até então tem se concentrado em economias emergentes durante seu processo de internacionalização, vê o investimento na startup como uma oportunidade para aprender com a Índia, que antes do Brasil já usava um sistema de pagamentos instantâneos similar ao Pix, lançado em 2011.

Além disso, a fintech brasileira, que surgiu como uma empresa de cartão de crédito, cada vez mais tem buscado se posicionar como um banco digital, embora ainda não tenha a licença do Banco Central (BC).

“O Nubank pretende aproveitar as similaridades com o sistema bancário indiano para reforçar seus conhecimentos ao revolucionar a indústria financeira da América Latina”, afirma, em nota, a empresa, que tem 40 milhões de clientes.

Até o momento, as operações do Nubank no exterior são no México e na Colômbia, onde trabalha apenas com o cartão de crédito, em estratégia similar ao que fez no Brasil. A companhia também tem um escritório na Argentina, mas aguarda uma melhora da conjuntura econômica do país vizinho para começar a lançar produtos.

No México, onde pôs os pés em 2020, já são mais de 2 milhões de inscritos para o cartão. Na Colômbia, onde a fintech desembarcou há oito meses, mais de 300 mil estão na lista de espera para se tornarem clientes.