Inflação e juros altos trazem à cena macroeconômica internacional um fantasma: o risco de uma crise de dívida em países emergentes. Roteiro semelhante foi desfiado nas décadas de 1980 e 1990, quando crises financeiras e cambiais foram geradas em longos períodos de crescimento robusto e condições financeiras nada apertadas seguidas de apertos monetários e desaceleração da atividade.

Levantamento da The Economist, publicado na edição semanal de 23 de julho, informa que 53 emergentes são mais vulneráveis por terem dívidas insustentáveis, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), e já estarem inadimplentes em algumas dívidas ou por negociarem seus títulos a taxas de juros muito elevadas.

Embora a representatividade econômica desses países seja modesta – sua produção combinada equivale a 5% do PIB mundial – eles abrigam 1,4 bilhão de pessoas – 18% da população do planeta. Do total observado, 15 países estão inadimplentes. Entre eles: Egito, El Salvador, Paquistão e Tunísia.

O Brasil não está incluído entre os emergentes frágeis. Contudo, é citado ao lado da Turquia como uma economia maior, onde uma crise de dívida pode levar a repercussões para o resto do mundo. Tudo depende do quanto os dois países estão enredados na crise atual, “que combina perspectiva de desaceleração da atividade, inflação e juros elevados para debelar a alta dos preços”, escreve a The Economist.

A publicação afirma que o presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição em outubro, afrouxou os gastos na tentativa de ganhar apoio, aumentando a pesada carga de dívida do país. “Se Bolsonaro assustar os mercados, uma saída de capital poderia, no mínimo, deixar a economia enfrentando uma grave crise fiscal e recessão”, diz um trecho do texto.

Por sua vez, a Turquia tem uma economia dinâmica e um nível modesto de dívida pública, mas depende do fluxo de capital estrangeiro para manter suas reservas cambiais. E o presidente Recep Tayyip Erdogan insiste que o Banco Central do país mantenha suas taxas indevidamente baixas diante da inflação crescente – já próxima de 80%.

Nenhum dos maiores mercados emergentes do mundo – China e Índia – corre o risco de uma crise externa, acredita a revista britânica. Ambos têm reservas internacionais expressivas. Ao mesmo tempo, o governo chinês exerce controle sobre fluxos de capital e sobre o sistema financeiro doméstico, enquanto a Índia depende basicamente de financiamento estrangeiro.

Há poucas opções disponíveis para afastar a crise. O fim da guerra na Ucrânia parece uma perspectiva distante. Uma recuperação do crescimento na China ou em outros países poderia ser uma espada de dois gumes: aumentaria o crescimento, mas também contribuiria para a inflação, levando a novos aumentos nas taxas no mundo desenvolvido.

A The Economist lembra que na década de 1980 a inadimplência dos mercados emergentes em empréstimos devidos aos bancos americanos levou algumas instituições financeiras à beira da insolvência. Hoje, a exposição é menor.

Mas para o bilhão ou mais de pessoas que vivem em países emergentes em risco, a dor será muito grande no caso de uma crise de dívida, tanto por problemas fiscais que podem contaminar os bancos locais quanto por negociações sobre a dívida externa que se mostram intratáveis.