Se tem uma lei da qual ninguém escapa, é a lei da gravidade. Sua jurisdição, contudo, afrouxa na fronteira terrestre. Sem ela, alguns processos naturais, como os de sedimentação, são colocados em xeque. Esse cenário extremo e singular, impossível de ser replicado em laboratórios terrestres, é a condição ideal para o crescimento da startup israelense SpacePharma, que busca fazer da microgravidade seu habitat natural.

Fundada em 2012 por Yossi Yamin, que já liderou a Unidade de Satélite de Israel, a companhia acredita que esses estudos avançados em microgravidade possam ser benéficos para os campos da biotecnologia, nutrição e ciência química. "Estamos trabalhando, por exemplo, em uma molécula cristalizada que pode ser colocada em inaladores, para auxiliar o tratamento de pessoas com problemas pulmonares, como a asma", explica Yamin em entrevista ao NeoFeed

Segundo o executivo, a microgravidade, que é um milionésimo da gravidade terrestre, pode acelerar e baratear o custo da produção de novos medicamentos. De acordo com uma análise da SpacePharma, o tempo médio para o desenvolvimento de uma droga é de 15 anos, ao custo de US$ 1,2 bilhão.

A companhia israelense, contudo, levantou "apenas" US$ 20 milhões em investimento acredita que em poucos anos possa apresentar resultados impactantes para a luta contra o câncer, além de novidades como pequenas baterias que possam ser colocadas diretamente no corpo humano, vacinas, anticorpos para doenças que ainda desafiam os cientistas e até soluções que combatam o envelhecimento.  

Os profissionais responsáveis pelas pesquisas e testes que validam as apostas da SpacePharma estão aqui na Terra, mas o laboratório está mesmo no espaço. "Já mandamos cinco missões à Órbita Terrestre Baixa (LEO, na sigla em inglês), que fica a até 2 mil km de altitude", explica.

Segundo Yamin, os mini-laboratórios são levados e trazidos do espaço por outras empresas. A primeira missão da SpacePharma, por exemplo, viajou abordo do foguete indiano PSLV-37. Outro pegou "carona" no foguete americano Antares e mais um mini-laboratório foi à órbita graças ao foguete Vega, da italiana Avio.

Mais recentemente, a companhia firmou parceria com a italiana Thales Alenia, que construiu um mini-shuttle reutilizável, e com a Space X, de Elon Musk. "Estamos preparando uma versão do mini-laboratório para ir ao espaço a bordo do foguete AXIOM-1 Dragon. Com isso, podemos atracar na Estação Espacial Internacional e depois de um ou dois meses trazer de volta os laboratórios, lançando-os no oceano".

Todos os mini-laboratório da startup israelense são equipados com sensores, microscópios e todas as demais ferramentas necessárias, só que tudo nas mínimas proporções. O mini-laboratório da SpacePharma é colocado em uma pequena caixa de 40 cm x 10 cm x 10 cm. 

"Somos completamente independentes e o laboratório é totalmente nosso. Nós usamos um lançamento comum, e quando chegamos ao nível desejado, somos ejetados e então abrimos os painéis solares e começamos a rodar, por celular ou computador, experimentos de todas as partes do mundo", completa. 

Yamin garante que os medicamentos criados "no espaço" sejam absolutamente seguros. "Alguns, inclusive, poderão ser aplicados em casa, sem a necessidade de levar o paciente ao hospital e expô-lo a outras doenças, como a Covid-19".

Por enquanto, a SpacePharma, com cerca de 25 funcionários, sede na Suíça e  escritórios nos Estados Unidos e em Israel, está negociando sua metodologia e tecnologia com governos, mas admite um crescente interesse comercial também. "Essa economia espacial está apenas começando e há muito potencial. Já fomos procurados por farmacêuticas, por empresas do setor de alimentos e outras", diz. 

Prestes a apresentar sua startup revolucionária no Amazon Tech Summit, que acontece virtualmente nesta quinta-feira, 26 de novembro, às 9 h, Yamin acredita que o Brasil possa ser um dos maiores beneficiários das pesquisas em microgravidade.

Isso porque a Amazônia ainda é o ponto de partida de muitos medicamentos ainda usados. "Acredito que podemos usar a matéria-prima da floresta amazônica para desenvolver melhores compostos, melhores revestimentos e melhores e únicos medicamentos", explica o israelense. Tudo isso, claro, respeitando os limites éticos e ambientais que protegem a mata brasileira. 

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