O Guiabolso é uma das mais antigas fintechs do Brasil. Fundada em 2012, pelo brasileiro Thiago Alvarez e pelo americano Benjamin Gleason, a startup surgiu como um aplicativo para organizar as finanças pessoais a partir do acesso direto às contas bancárias do consumidor, que tinha de autorizar a visualização dos dados.

Ao longo do tempo, a fintech foi evoluindo sua estratégia em busca de um modelo de receita. Primeiro, o Guiabolso tentou um voo solo com a Just, braço próprio de empréstimo pessoal e online lançado em 2017 e vendido ao banco BV (ex-Banco Votorantim) no fim de 2019.

Na sequência, a aposta foi a criação de um marketplace de serviços financeiros que ganha a cada dia mais serviços e parceiros – os atuais são Digio, BV, Órama, Icatu, Youse e Ciclic.

Agora, o Guiabolso começa um de seus projetos mais importantes na busca por receita com o Guiabolso Connect, um serviço que vai competir com birôs de crédito como Serasa Experian, Boa Vista SCPC, SPC e Quod.

“É um serviço em que nos espelhamos nos modelos de birôs de crédito e tem muito potencial para evoluir”, afirma Gleason, em entrevista ao NeoFeed.

O novo serviço marca a estreia do Guiabolso no mercado B2B, fornecendo a clientes corporativos análise financeira sobre quem está buscando empréstimos, financiamentos e até alguns serviços como a disponibilidade de cartões de crédito e limites mais altos.

Tudo será feito com a autorização do consumidor, que terá de ter uma conta no Guiabolso. A partir dela, o aplicativo usa os seus algoritmos para traçar um histórico do consumidor e fornecer um score de crédito ao cliente corporativo. “Vamos fornecer informações sobre o risco dele”, afirma Gleason.

A vantagem do Guiabolso é que ele tem acesso às contas bancárias do consumidor e consegue saber em detalhes o seu histórico financeiro. “É uma versão 2.0 de um birô”, afirma Ingrid Barth, diretora executiva da ABFintechs, associação que representa as fintechs. “Com todos esses dados, ele conhece os clientes de uma maneira ímpar.”

Mas há riscos. O open banking permitirá o compartilhamento de informações, produtos e serviços entre as instituições financeiras. Dessa forma, o mercado pode ser inundado de soluções semelhantes. Gleason, no entanto, acredita que levará tempo para as empresas desenvolverem algo do mesmo nível do Guiabolso.

“Temos anos e anos de experiência pegando dados brutos, convertendo em modelos de análise e entendendo o risco de crédito” afirma Gleason. “Vai demorar muito para essas empresas estarem nesse patamar.”

O Guiabolso Connect tem como modelo o serviço da Plaid, startup americana comprada pela Visa por US$ 5,3 bilhões em julho deste ano, que facilita o acesso e o compartilhamento de dados financeiros dos clientes.

As soluções da Plaid permitem que os consumidores compartilhem informações financeiras com milhares de aplicativos e serviços, como Acorns, Betterment, Chime, Transferwise e Venmo. Um em cada quatro pessoas com conta bancária nos Estados Unidos já usou o Plaid, segundo a Visa.

No Brasil, o Guiabolso conta atualmente com mais de 6 milhões de pessoas cadastradas em seu aplicativo, mas a fintech não fornece o número de quantos deles são ativos e usam o serviço com frequência.

O serviço B2B é mais uma tentativa do Guiabolso de encontrar um modelo de negócio viável. A operação própria de empréstimo pessoal Just foi uma tentativa do Guiabolso de gerar receita que não deu certo. Tanto que a operação foi vendida a preço simbólico para o BV, segundo apurou o NeoFeed.

A startup já chegou a ser considerada uma candidata a se tornar um unicórnio, termo para se referir as empresas iniciantes que valem mais de US$ 1 bilhão, mas derrapou em sua estratégia, de acordo com fontes com quem o NeoFeed conversou.

“O Guiabolso deu uma derrapada e agora estão se recompondo, mas não é mais a estrela da vez e perdeu o time”, diz uma fonte. “Tem muita gente fazendo o que o Guiabolso faz e ele perdeu a capacidade de se diferenciar.”

Antecipação ao PIX

Ao mesmo tempo em que entra no B2B, o Guiabolso não está abandonando o seu braço voltado ao consumidor. Ao contrário. Na semana passada, a startup começou a permitir transações financeiras em seu aplicativo, antecipando-se a chegada do PIX, o sistema de pagamentos automáticos do Banco Central, programado para começar a funcionar em novembro deste ano.

O novo recurso permite a transferência entre pessoas físicas de bancos diferentes de maneira instantânea e sem custo. Para realizar a transferência, o usuário precisa apenas cadastrar um cartão de débito e preencher o valor da transferência e os dados bancários do recebedor. A pessoa que irá receber o dinheiro não precisa fazer cadastro.

Gleason diz que o Guiabolso não está usando o recurso como uma fonte de receita. O objetivo, nesse caso, é aumentar a frequência com que as pessoas cadastradas usam o aplicativo.

“Para fazer a gestão financeira, o usuário, em geral, entra poucas vezes no aplicativo. Agora, com esse recurso de transferência, ele pode entrar várias vezes”, afirma o fundador do Guiabolso.

Há uma segunda intenção no serviço. Ao aumentar a frequência ao seu aplicativo, a meta é levar o consumidor para o marketplace, ganhando uma comissão na intermediação financeira dos serviços.

Gleason diz que, com a pandemia, o Guiabolso se preparou para perder o ano. Com a crise sanitária e econômica, a demanda por investimentos caiu e as instituições financeiras ficaram mais restritivas com o fornecimento de crédito. “Mas agora está voltando ao normal”, diz Gleason.

O empreendedor afirma também que a fintech está capitalizada e que não precisa buscar novos aportes. Desde 2012, o Guiabolso captou R$ 215 milhões em cinco rodadas de investimento, de investidores como QED Investors, Kaszek Ventures, Endeavor Catalyst, Ribbit Capital e International Finance Corporation. O último aporte, de R$ 125 milhões, foi realizado no fim de 2017 e foi liderado pelo fundo sueco Vostok.

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