Quando o assunto é China, o presidente americano Joe Biden e seu antecessor Donald Trump estão muito mais próximos do que em qualquer outro tema.
Em nome da segurança nacional, o democrata e o republicano defendem uma mesma tese em relação ao TikTok: para manter suas operações nos Estados Unidos, a rede social de vídeos curtos deve se desvincular de sua empresa mãe, a ByteDance.
Até recentemente, a Casa Branca negociava com o comando do TikTok uma série de medidas para garantir a proteção de dados dos usuários do aplicativo em território americano. Nos últimos dias, porém, Biden endureceu sua posição, adotando a mesma tese defendida por seu adversário político, durante sua gestão como presidente dos Estados Unidos.
De modo a garantir sua presença no país, as lideranças do TikTok não descartam a separação da ByteDance, mas apenas como último recurso. No ano passado, a empresa concordou em implementar uma série de mudanças para satisfazer as demandas por segurança das autoridades americanas.
Batizado Projeto Texas e orçado em cerca de US$ 1,5 bilhão, o plano envolve a contratação de um parceiro nos Estados Unidos, a Oracle, para armazenar as informações dos usuários americanos e protegê-los contra qualquer influência de Pequim.
Além de revisar seu software, os chineses se comprometeram a submeter ao crivo de Washington os funcionários e integrantes do conselho daquela que viria a ser a subsidiária americana do TikTok.
“Sob o Projeto Texas, os dados do TikTok para nossos usuários nos Estados Unidos seriam mantidos em um padrão de segurança significativamente mais alto do que qualquer empresa americana”, diz Brooke Oberwetter, porta-voz da rede social, em comunicado.
Plano semelhante, nomeado Projeto Clover, foi proposto na Europa. Em entrevista ao jornal The Wall Street Journal, Shou Zi Chew, CEO do TikTok, diz que os projetos Texas e Clover custarão aos cofres da empresa US$ 1 bilhão, por ano.
Embora o TikTok seja uma empresa privada, uma lei de 2017, permite ao governo chinês exigir dados das companhias chinesas, caso essas informações sejam classificadas como importantes para a soberania da China. Até hoje, não houve sinais de que a rede social tenha sido usada para espionagem.
O comando do TikTok foi pego de surpresa com a notícia da exigência da separação da ByteDance. O desinvestimento resultaria ou em uma venda ou em um IPO e exigiria a aprovação de Pequim.
Fundada em 2012, a controladora do TikTok está avaliada em US$ 220 bilhões. Seu fundador Zhang Yiming teria 20% da companhia, os investidores globais responderiam por 60% e os funcionários, os outros 20%. Lançado em 2016, o aplicativo conta com 1 bilhão de usuários ativos mensais e seu valor de mercado gira em torno dos US$ 66 bilhões.
Se o Projeto Texas não receber a aprovação do comitê do Departamento de Justiça dos Estados Unidos (o que alguns analistas dão como certo), aí, sim, o TikTok estaria disposto a se desvincular da ByteDance. Com 100 milhões de usuários no país, o braço americano da rede social está avaliado entre US$ 40 bilhões, na contas da Bloomberg Intelligence.
A união de adversários políticos em torno do risco que as empresas chinesas podem oferecer aos Estados Unidos se mantem firme no Congresso.
O projeto de lei que daria ao presidente Biden o poder de limitar a participação de uma empresa estrangeira nos Estados Unidos, por exemplo, foi apresentado, no Senado, pelo democrata Mark Warner e pelo republicano John Thune. A Casa Branca não apenas apoiou a proposta como pediu rapidez em sua votação.
Entre os aliados políticos de Biden, porém, há quem se oponha ao banimento do TikTok, por considerarem a medida impopular, com risco de repercussão negativa para o governo americano.
Para Gina Raimondo, secretária de Comércio, a proibição do aplicativo resultaria na perda “para sempre de todos os eleitores com menos de 35 anos”. A média diária de uso da rede social é de 56 minutos, mais do que o Instagram e o Facebook, conforme análise da consultoria Insider Intelligence.