Quando surgiu 2009, a Spectra tinha uma tese simples: investir nas gestoras de private equity brasileiras, em uma estratégia de fundo de fundos.

Ao longo de mais de uma década e cinco fundos captados – o mais recente deles no ano passado, quando levantou R$ 1,7 bilhão – a Spectra foi se transformando e fazendo apostas pequenas em diversas classes de ativos para testar o mercado.

“De fundo de fundos, viramos um bicho cujo nome não sei explicar”, diz Ricardo Kanitz, sócio da Spectra, ao Café com Investidor, programa do NeoFeed que entrevista os principais gestores do mercado.

Atualmente, a Spectra é um dos mais importantes investidores dos principais fundos de venture capital do Brasil, além de fazer investimentos diretos em empresas e de comprar cotas no mercado secundário, administrando mais de R$ 5 bilhões.

A regra para atuar em diversas classes de ativos é sempre testar antes o mercado com pequenos investimentos. O que, internamente, Kanitz chama de “pingos”. Se der errado, não terá impacto à rentabilidade do fundo. Mas, se der certo, valida a tese para gastar mais energia e dinheiro.

Foi assim com venture capital, em 2012 e 2013, quando ninguém dava bola para esses investimentos e, mais recentemente, com os “search funds”, uma modalidade pouco difundida no Brasil que a Spectra começou a apostar – nesta modalidade, a gestora investe em um empreendedor que vai buscar uma empresa para comprar.

O mais novo “pingo” da Spectra é o mercado de biotecnologia. “Estamos testando a hipótese no mundo de biotecnologia, que é relevante nos Estados Unidos, mas é quase zero no Brasil e na América Latina.”

O teste da Spectra é através do fundo de venture capital Zentynel, criado por um dos pesquisadores mais influentes do mundo: o chileno Pablo Valenzuela.

O cientista tem mais de 50 patentes em seu nome. Ele é ainda o desenvolvedor da vacina contra a hepatite B e vendeu a Chiron, uma empresa fundada por ele que desenvolvia uma vacina contra gripe, por US$ 8,9 bilhões à Novartis, em 2010.

A Spectra está fazendo um cheque pequeno no primeiro fundo da Zentynel, que está levantando US$ 60 milhões para investir em empresas de biotecnologia na América Latina. “É o pingo”, afirma Kanitz. “Aprendemos o valor fundamental que tem o pingo no nosso processo de aprendizagem e de formação de carteira.”

De acordo com ele, a região latino-americana não é o melhor lugar para se investir em hard science do mundo, mas a Covid-19 foi um evento catalisador que fez o mundo se voltar mais para a área de biotecnologia, o que deve favorecer o surgimento de empresas nessa área na América Latina.

Kanitz lembra que, em 2012 e 2013, acreditava-se que as startups brasileiras não teriam chance de se desenvolver e que seriam engolidas por Google e Facebook, que eram gigantes e iriam matar todas elas. “E apareceram muitos negócios”, diz o sócio da Spectra.

A expectativa é que aconteça o mesmo fenômeno de quando a gestora começou a investir em fundos de venture capital. Na época, Kanitz diz que avisou os investidores da Spectra em voz baixa.

Os primeiros fundos a receber os recursos foram a Astella, Kaszek, monashees e DGF – hoje uma decisão que parece óbvia, mas que estava longe de ser há 10 anos.

Atualmente, a maioria das gestoras conta com a presença da Spectra como investidor. São nomes novos como Big Bets, Bridge One e Cloud9. Mas a lista contempla também as casas mais tradicionais, como Aqua Capital, Oria Capital e Kinea, entre muitos outras.

Nesta entrevista, Kanitz explica a estratégia da Spectra, responde se há exageros nos valuation do mercado privado, explica a estratégia de “serch funds” e conta que faz uma pesquisa com empreendedores para saber quais fundos eles gostam – esse é um critério para decidir em qual gestora vai alocar recursos. Assista a mais um episódio do Café com Investidor.