Em 14 de abril de 2021, a Coinbase fez sua listagem direta na Nasdaq, concluindo seu tão esperado IPO, o primeiro de uma plataforma de negociação de criptomoedas e encarado, por esse próprio mercado, como um marco para o setor.

Um ano depois de ultrapassar essa fronteira, a exchange, fundada em 2012 por Brian Armstrong e Fred Ehrsam, começa a pagar o preçondo seu pioneirismo, a partir da ascensão de plataformas concorrentes em um mercado que ajudou a desbravar.

Esse é o ponto central de um relatório divulgado nesta terça-feira, 12 de abril, pelo banco de investimentos Mizuno Securities e destacado em reportagem da revista americana Barron’s. Assinado pela equipe do analista Dan Dolev, o documento mostra que a Coinbase começa a perder participação de mercado.

De acordo com o relatório, a Coinbase capturou 11% do volume de criptomoedas negociado entre concorrentes, um universo que inclui nomes como Binance, Crypto.com, FTX e Kraken. Esse índice caiu, porém, para 10%, em março, e 8%, neste mês.

“A rápida ascensão de exchanges concorrentes, como Crypto.com, nos deixa cada vez mais preocupados com a pressão de preços e a sustentabilidade do modelo de negócios da Coinbase no longo prazo”, escreveram os analistas.

Nesse cenário, Dolev destacou, por exemplo, o fato de a Crypto.com, que lançou sua plataforma nos Estados Unidos há um mês, já registrar volumes nos mesmos patamares que a Coinbase. A estreia da rival no mercado americano foi precedida por investimentos pesados.

Além de anúncios no Super Bowl, em novembro de 2021, a Crypto.com assinou um cheque de US$ 700 milhões para adquirir o naming right do Staples Center, arena multiuso palco dos jogos do Los Angeles Lakers, que foi rebatizada de Crypto.com Arena.

“Nos preocupamos com o fato de que o aumento da concorrência apenas amplie a necessidade investir ainda mais em marketing, o que acreditamos que, provavelmente, seguiria pesando no lucro da Coinbase além de 2022”, destacaram os analistas do banco de investimentos.

Essa dúvida é reforçada por uma projeção de Christopher Brendler, analista do banco de investimentos D. A. Davidson. Ele estima que a Coinbase tenha fechado o primeiro trimestre com um volume total de negociações de US$ 314 bilhões, o que significaria uma queda de 40% ante o quarto trimestre de 2021.

Na segunda-feira, 11 de abril, uma análise publicada pelo analista Patrick Shaughnessy, do banco de investimentos Raymond James, seguiu nessa mesma linha. Ele estima que o volume de negociações da empresa entre janeiro e março foi ligeiramente menor, de US$ 307 bilhões, uma queda anual de 9%.

Outros ingredientes estão aquecendo o caldeirão da Coinbase. Para Dolev e seu time, o lançamento de uma plataforma de tokens não-fungíveis (NFT), programada pela companhia para esse ano, deve trazer um acréscimo de 130% nas despesas operacionais da empresa.

“Questionamos a lógica estratégica de perseguir os NFTs. Especialmente porque o hype sobre o NFT parece estar diminuindo”, ressaltaram os analistas do Mizuho Securities.

No início desta semana, a suspensão dos serviços de pagamentos da plataforma da empresa na Índia, apenas três dias após o lançamento da exchange no país, também alimentou as incertezas sobre as perspectivas da companhia.

Nessa terça-feira, as ações da Coinbase desceram ao patamar mais baixo desde que a empresa chegou à Nasdaq. Os papéis encerraram o pregão com queda de 2,61%, negociados a US$ 149,85, com a companhia avaliada em US$ 39,2 bilhões.

Essa cotação equivale a uma desvalorização de quase 61% em relação ao preço da ação fixado no IPO, quando a companhia foi avaliada em US$ 65 bilhões. Em 2022, os papéis acumulam uma baixa de quase 41%.