A um ano da eleição presidencial no Brasil, são poucos os analistas do mercado financeiro que se arriscam a prever quem ocupará a cadeira de presidente da República no próximo mandato. O que está mais perto do “job description” deles é tentar antecipar como estará a economia, como parte do trabalho para montar posições.

Em relatório publicado nesta terça-feira, 14 de setembro, a XP atualizou suas projeções econômicas e, no detalhamento do que espera para cada trimestre do ano que vem, mostrou que a atividade econômica deve beirar à estagnação no segundo e no terceiro trimestre do ano que vem - os seis meses que antecedem o primeiro turno da eleição.

Para 2022, a XP está mais pessimista. A estimativa para a expansão do PIB caiu de 1,7% para 1,3%, após uma alta esperada de 5,3% em 2021, que não foi alterada. O ano que vem deve começar com crescimento de 0,3% no primeiro trimestre em relação aos últimos três meses deste ano. Depois, deve desacelerar para 0,1% no segundo trimestre e cair para 0,2% no terceiro. No quarto trimestre, deve ter uma alta de 0,2%.

“Como teremos uma variação muito próxima de zero no segundo e no terceiro trimestre, não dá para descartar recessão técnica”, afirma o economista da XP Rodolfo Margato, responsável pelos cálculos.

Segundo ele, a principal razão para números piores nesse período é o efeito “atrasado” da alta dos juros que tem sido praticada pelo Banco Central (BC). "Consideramos que há uma defasagem de dois a três trimestres para que as condições monetárias mais apertadas afetem a atividade doméstica", disse o economista, que vê impacto maior sobre investimentos e consumo de bens duráveis.

Além disso, ele afirmou, há ainda um efeito secundário relacionado à própria eleição. "É uma situação que aumenta a percepção de risco", disse.

A XP, aliás, também revisou as suas expectativas para a Selic, a taxa básica de juros, que está em 5,25% ao ano. Se antes a instituição esperava que o ciclo de alta do BC estacionasse em uma taxa de 7,25%, agora a projeção é de 8,5%. “Além das altas que já esperávamos, agora estamos projetando mais dois aumentos, uma de 0,75 ponto porcentual em dezembro e outra de 0,5 pp no início do ano que vem”, disse o economista-chefe da XP, Caio Megale.

Segundo ele, a XP está mais pessimista com o PIB e elevou as previsões para a Selic por uma combinação de três fatores: o aumento do risco fiscal e da temperatura política; os dados que mostram que a inflação está mais disseminada; e os efeitos da crise hídrica.

“E há ainda um quarto fator, por enquanto menos relevante, que é a acomodação da economia global, que está desacelerando e com os preços das commodities parando de subir”, disse.

Segundo ele, a crise hídrica preocupa mais, no momento, do que o risco fiscal, pois há uma chance estimada em 30% de haver um racionamento, o que forçaria uma nova revisão das estimativas para o PIB.

De acordo com Margato, em cenário que considera uma redução forçada de 10% no consumo de energia ao longo de 2022, a atividade econômica perderia 1,2 ponto percentual e iria para perto de zero. “Mas ainda consideramos como um cenário improvável”, disse.

Quanto à inflação, a expectativa da XP é que o IPCA chegue a 8,4% em 2021 e desacelere para 3,7% em 2022. “Com a ação mais firme do BC na política monetária, a tendência é de desaceleração da inflação e, com a economia global em menor ritmo, isso deve contribuir no processo desinflacionário”, disse.