Com 50 milhões de usuários e a meta de se tornar uma espécie de Wechat, o superapp chinês, do Ocidente, o PicPay acaba de protocolar o pedido de IPO na SEC para abrir capital na Nasdaq. O sindicato de bancos que está coordenando a oferta é formado pelos brasileiros BTG Pactual e Bradesco BBI, e pelos internacionais Santander e Barclay’s.

Uma fonte de mercado com a qual o NeoFeed conversou afirma que a conta que tem sido feita é a de que cada usuário ativo valha US$ 1 mil. Por essa régua, com 36,6 milhões de usuários ativos, a empresa atingiria um valuation de US$ 36,6 bilhões. Mas, diante dos descontos que podem ser praticados no mercado e também a base de usuários ativos que será considerada, é muito improvável que chegue neste valor.

No prospecto, o PicPay revelou que, no ano passado, a receita atingiu R$ 385,9 milhões, contra R$ 85,9 milhões, em 2019. No período, o prejuízo foi de R$ 803,6 milhões. Um ano antes, a perda tinha sido de R$ 266,6 milhões. Mas a empresa reforça que o momento agora é de se concentrar no aumento da base de usuários, que tem crescido a um ritmo chinês.

Em 2020, o PicPay começou o ano com 14,9 milhões de usuários e fechou com 38,8 milhões. Em janeiro deste ano, a companhia contava com 41 milhões de usuários e agora está com 50 milhões. A estimativa é de que termine 2021 com 65 milhões de usuários.

No caminho para buscar esse número, a empresa também divulgou os resultados preliminares do primeiro trimestre de 2021. Entre janeiro e março, a estimativa é de que a receita tenha ficado entre R$ 140 milhões e R$ 150 milhões, um salto entre 382,8% e 417,2% sobre igual período, um ano antes.

O movimento do PicPay rumo ao IPO já era aguardado. A companhia vinha se preparando para isso desde 2019, quando começou a conversar com bancos. Uma reorganização societária aconteceu recentemente por conta do IPO.

Antes, 22,70% do PicPay pertenciam ao Banco Original e o restante estava nas mãos de José Batista Sobrinho, o patriarca da família Batista, com 67,64%, e a J&F Participação, que controla a JBS, com 9,66% do negócio. Agora, 100% estão com a J&F.

Desde o início do ano, a companhia liderada por José Antônio Batista, reforçou o management e trouxe executivos de muita expressão no mercado. Entre eles, Eduardo Chedid, ex-CEO da bandeira de cartões Elo, para ser vice-presidente de serviços financeiros, e André Cazotto, ex-PagSeguro, empresa listada na Nasdaq, para ser o diretor de relações com investidores.

A companhia também contratou Augusto Ribeiro para ser o seu diretor financeiro. O executivo, que já tinha sido CFO da BRF e da Iochpe-Maxion, chegou para substituir Rômulo Dias, que ficou apenas um mês no cargo.

Na área de tecnologia, o PicPay trouxe Guilherme Telles, o homem que implementou a operação do Uber no Brasil, para ser o seu Chief Strategy Officer (CSO).

Além dele, Fábio Plein, ex-Uber Eats, foi recrutado para comandar o marketplace, que movimentou 31,1 milhões de transações no ano passado. Essa área fica sob supervisão do fundador e vice-presidente de tecnologia Anderson Chamon.

Mais do que sinalizar uma maior profissionalização ao mercado, os reforços estão chegando para dar suporte a aceleração da companhia. “O crescimento aqui é muito grande. O PicPay foi criado para bípedes com smartphone”, disse José Antônio Batista, CEO da empresa, em uma recente entrevista ao NeoFeed. Só em 2020 o TPV, o chamado volume transacionado, foi de R$ 49,3 bilhões.

Nos últimos meses, a empresa intensificou a atuação em algumas áreas e inaugurou outras, um movimento que foi antecipado pelo NeoFeed em janeiro deste ano. O Picpay entrou no segmento de peer-to-peer lending, crédito pessoal e criou serviço de mensageria.

Na área de cartões de crédito, um negócio iniciado dentro da empresa na metade do ano passado e acelerado a partir de novembro, já foram emitidos 5 milhões de plásticos, o que revela como a companhia tem conseguido fazer o cross sell com sua poderosa base de usuários.

O Picpay ainda se prepara para lançar uma plataforma de investimentos, ofertar seguros e criar uma área de advertising. O dinheiro do IPO, segundo a companhia, vai ser usado para continuar escalando a base de usuários, aumentar a ativação e a retenção de clientes que transacionam, lançar e ofertar novos produtos e também para aquisições estratégicas.

A empresa não informou se a oferta será 100% primária, quando o dinheiro entra na empresa, ou se terá uma parte secundária, quando os acionistas embolsam parte do dinheiro. Isso será informado no segundo filing, depois dos road shows com investidores.

Após a conclusão da oferta, o PicPay terá as classes de ações ordinárias A e B. Essa última será reservada aos controladores, que terão um direito adicional a 10 votos por ação, contra um voto dos acionistas Classe A.