(Essa reportagem foi atualizada, informando que a moeda digital inspirada em Round 6 era um golpe)

A série sul-coreana Round 6, que se tornou a mais assistida da Netflix e conta a história de pessoas endividadas que topam participar de um jogo mortal, tem feito tanto sucesso ao redor do mundo que até inspirou a criação de uma criptomoeda.

Batizada de Squid, em referência ao nome da série em inglês (Squid Game), a nova criptomoeda foi criada para ser a moeda oficial de um jogo online que tenta simular a produção audiovisual, o Squid Game Project - este sem consequências mortais.

Lançada no dia 20 de outubro, há uma semana, a Squid já teve a chance de experimentar uma explosão no mercado de criptomoedas. A unidade, que começou valendo US$ 0,01, agora é cotada a US$ 13,6. Nas últimas 24 horas, a valorização é de 135%, segundo o site CoinMarketCap.com. O ativo já soma US$ 9,8 bilhões em valor de mercado.

De acordo com os criadores, as cotas foram esgotadas em apenas um segundo após o lançamento. Quanto mais o ativo se valoriza, mais caro fica para participar do jogo online. Cada rodada do jogo tem uma taxa de entrada. A rodada final cobra 15 mil Squids, equivalente a US$ 204 mil.

Trata-se de mais uma criptomoeda criada para fazer referência a algo ou a alguém. Nesta semana, por exemplo, foi anunciado que uma criptomoeda em homenagem a Diego Maradona seria lançada neste sábado, 30 de outubro, quando o craque argentino, que morreu em novembro do ano passado, completaria 61 anos.

O ativo recebeu o nome de “Maradólar” e surgiu como uma alternativa mais viável à ideia de criar uma moeda de 10 mil pesos argentinos com o rosto do ex-jogador. A proposta inicial foi descartada em razão da inflação descontrolada da Argentina, que poderia rapidamente desvalorizar a moeda e afetar a imagem de Maradona.

O caso mais emblemático é o da Dogecoin, criada em 2013 como uma piada, em referência a uma foto de uma cachorra da raça japonesa shiba que virou meme na internet pela sua expressão de espanto. A Dogecoin, que ao longo dos últimos 12 meses chegou à máxima de US$ 0,73, hoje está cotada a US$ 0,02.

No mercado financeiro, essas criptomoedas temáticas ainda encontram resistência. Jennie Li, estrategista de ações da XP, acredita que esses ativos não são sustentáveis, porque foram criados como brincadeira e não porque tinham uma função específica.

“O bitcoin, por exemplo, foi criado com o objetivo de ser uma moeda de troca em um sistema descentralizado, para gerar facilidade de transação”, diz Li. “Tanto é que o bitcoin costuma ser mais usado em países emergentes, onde a volatilidade da moeda própria é maior e há mais instabilidade política e econômica.”

Para a estrategista de ações da XP, se alguém decide investir em uma criptomoeda que nasce como um meme, é preciso ter em mente que o risco é muito maior. “Ela pode despencar a qualquer momento, como aconteceu com a Dogecoin.”

Jennie lembra que até mesmo as criptomoedas mais tradicionais, como o bitcoin e o ethereum, ainda são um desafio para os analistas que se arriscam a calcular um preço justo.

O bitcoin é um exemplo desse sobe-e-desce do valor das criptmoedas. Ele já chegou a valer mais de US$ 60 mil neste ano. Depois caiu para abaixo de US$ 30 mil. E agora está cotado a US$ 62.275,67, próximo de seus patamares recordes.

“Se você conversar com investidores que são contra ou a favor, as estimativas vão do zero ao US$ 1 milhão", afirma Jennie. "Não há consenso, porque os fundamentos não são claros e está tudo muito no início.”

Se até as mais tradicionais moedas digitais exigem cautela, o investidor médio “tem de ter muito cuidado” com os ativos temáticos ou que surgem como brincadeira. “As histórias de pessoas que ficaram milionárias com isso são únicas. É pra quem tem estômago ou sorte”, diz Jennie.

(Atualização: no dia 2 de novembro, o valor da moeda digital Squid Game caiu para US$ 0,003. E os criadores da moeda "ganharam" quase US$ 3,4 milhões com esse golpe online. Saiba mais nessa reportagem.)