Depois de fechar o mês de maio a 126.215 pontos, sua alta histórica, o Ibovespa vem registrando pregões consecutivos na faixa de 129 mil a 130 mil pontos e acumula uma alta de 9,4% no ano. Essa marcha ascendente tem levado algumas projeções otimistas de que o índice possa superar a marca de 200 mil pontos em 2022.

A análise sobre o que precisaria acontecer para que tal recorde se consumasse é justamente um dos temas de um relatório divulgado pela XP, que destaca ainda indicadores como a alta da Bolsa de Valores brasileira, em dólares, de 10,4% no ano, acima da Nasdaq, que acumula um crescimento de 9,1% no período. A avaliação da casa, porém, é mais comedida.

Um primeiro ponto para essa leitura mais cautelosa é a perspectiva de que o cenário de forte crescimento dos lucros esperado para 2021 não siga o mesmo ritmo em 2022. Isso se explica pela projeção de que os preços das commodities voltem a um patamar mais baixo, assim como a taxa de câmbio média recente.

“Isso faz com que os setores ligados às commodities, que representam cerca de 35% do índice, impulsionem a expectativa de lucros para 2021, mas não para 2022”, escreveu Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head do Research da XP.

Ele observa, porém, que essa premissa pode ser conservadora e, caso a economia siga acelerando e o ciclo das commodities seja mais extenso, há chance de uma revisão para cima na projeção de lucros para o ano que vem.

Ao mesmo tempo, o analista ressalta que a Bolsa brasileira precisaria ficar mais “cara” e ser precificada em níveis de múltiplos de preço/lucro mais elevados. Para isso, ele afirma que o mercado tem que começar a ter uma visibilidade maior no ciclo atual para além de 2021.

Outros fatores que contribuiriam nesse processo seriam as taxas de juros de longo prazo mais baixas e a continuação do fluxo forte de investidores estrangeiros na B3. Ferreira calcula que, caso o lucro por ação da Bolsa suba 15% em 2022 e o preço sobre lucro cresça 13 vezes, o Ibovespa poderia chegar a 200 mil pontos.

“Isso ainda aparece um cenário bastante otimista e ainda pouco provável de acontecer. 2022 deve ser um ano volátil, por conta das eleições, portanto ainda é difícil de imaginar um cenário que a Bolsa fique mais cara em relação à média histórica”, complementa o analista.

Ele escreve que ainda é cedo e prematuro para estimar “voos mais altos” para o índice nos próximos 12 meses. Mas acrescenta que o cenário permanece construtivo e que segue otimista com a Bolsa brasileira.

Nessa linha, Ferreira estipula um valor de 145 mil pontos para o Ibovespa no fim desse ano. Para justificar essa projeção, além do ciclo favorável das commodities, ele cita questões como as previsões de um crescimento acima de 5% da economia brasileira, a aceleração da vacinação, a expectativa de retomada a partir do segundo semestre e os balanços sólidos das empresas.

Outro dado que alimenta esse otimismo é o retorno do fluxo de investimentos estrangeiros, com a entrada de R$ 30 bilhões na Bolsa brasileira desde março. No ano, esse saldo já ultrapassa R$ 51 bilhões e, nos últimos 12 meses, está positivo em R$ 91 bilhões.