O sexto e novo relatório do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado no dia 9 de agosto, avança nas evidências científicas de que estamos à beira do precipício climático. A humanidade tem as próximas duas décadas para, na melhor das hipóteses, manter o aquecimento global em 1,5°C, conforme o Acordo de Paris.

Os 195 países integrantes do IPCC já não discutem. Ao contrário, concordam que o aquecimento global é causado pela atividade humana e a urgente mudança nos modos de produção e de viver é a única maneira de evitar imensos prejuízos à vida no planeta.

Reproduzindo o que escreveu o jornal britânico The Guardian: “Ondas de calor extremas, esperadas uma vez a cada 50 anos sem qualquer aquecimento global, já acontecem a cada década. Com aquecimento de 1,5°C, isso acontecerá a cada 5 anos; com 2°C, a cada 3,5 anos; e com 4°C, uma vez a cada 15 meses. Mais aquecimento também significa mais interrupções nas chuvas das monções, das quais bilhões dependem para se alimentar.”

Os eventos climáticos extremos já são cada vez mais frequentes em todas as regiões do planeta. Somente nas últimas semanas assistimos a temperaturas inimagináveis de 48°C no Canadá, chuvas e inundações na Alemanha, incêndios incontroláveis na Grécia. Queimadas já assolaram a Califórnia, Portugal, Austrália e o Cerrado brasileiro.

Sob um ponto de vista bastante pragmático, as mudanças climáticas são um risco real para o agronegócio brasileiro e para todo o país, uma vez que esse setor foi o que salvou a lavoura da economia brasileira nos últimos anos. No mínimo por cautela e proteção da produtividade e dos lucros, os produtores brasileiros devem agir rapidamente para evitar mudanças mais drásticas de temperatura e de ciclo das chuvas na região central do país, grande produtora de soja e de carne.

O Brasil já enfrenta uma crise hídrica que coloca em risco o abastecimento de energia e de água potável em várias regiões. Quando os fenômenos naturais alcançarem o ponto de afetar mais constantemente à produção de alimentos, graves efeitos sociais se seguirão: desabastecimento e consequente aumento do custo dos produtos, perda de empregos no setor, aumento da pobreza. É esperado que as mudanças climáticas serão ainda mais cruéis com as populações mais pobres.

Pois a “boa notícia” no novo relatório do IPCC é que, se mudanças drásticas acontecerem nas emissões de Gases causadores do Efeito Estufa – em especial, o CO2 – será possível conter o aquecimento global ao padrão atual. Isto implica em rever como transportamos os bens e as pessoas; como fazemos a transição energética e migramos dos combustíveis fósseis para as fontes renováveis; ou ainda como consumimos, trabalhamos, moramos etc.

É esperado que as mudanças climáticas serão ainda mais cruéis com as populações mais pobres

Pesquisa que será divulgada pela consultoria GlobeScan somente em setembro vai revelar que a preocupação sobre mudanças climáticas nunca esteve tão alta entre os consumidores ao redor do mundo. O acompanhamento é feito desde 1998 em 17 mercados e aponta para o nível mais alto em 2021: 63% desses consumidores consideram mudanças climáticas um problema muito sério. Tão sério quanto a epidemia do coronavírus. No Brasil, o nível de preocupação dos consumidores é ainda maior que a média dos 17 países e subiu de 67% em 2020 para 73% neste ano.

Isso indica que, apesar da conhecida diferença entre considerar importante e agir, há uma clara sensibilização dos brasileiros que vivem nos grandes centros urbanos sobre o risco das mudanças climáticas. E, na medida em que os efeitos forem sentidos com maior frequência, a ação do consumidor deverá emergir muito rapidamente.

Alguns grandes elos da cadeia agrícola já estão em movimento. É o caso, por exemplo, da Bayer que lançou um amplo programa de Carbono Zero. Entre os compromissos está a redução de 30% da pegada de Gases de Efeito Estufa no campo (por quilograma de rendimento) dos sistemas de cultivo mais emissores nas regiões em que a companhia opera. Isso inclui ajudar os agricultores a utilizar métodos que respeitem o clima, como a redução do arado, que pode liberar CO2 sequestrado no solo.

Outro bom exemplo é a Suzano, que lançou o um compromisso para ser Climate Positive, ou seja, capturar mais CO2 do que as emissões de toda sua cadeia. Investindo em várias estratégias de redução de emissões e ainda no cálculo apurado do balanço de suas florestas plantadas e nativas, a companhia vai além da meta de Carbono Neutro (Net Zero), que se dissemina entre as grandes empresas, e se propõe a manter um resultado ainda mais positivo para o clima.

É fundamental agir agora para não chorar depois. Já não se trata mais de pensar em gerações futuras. Em 20 anos, a maioria de nós estará viva para ver (e celebrar) se fomos bem-sucedidos em fazer a transição para uma economia de baixo carbono e conseguimos, assim, conter as mudanças climáticas – ou se colocamos a nós e a nossos filhos sob um risco que não poderemos controlar ou prevenir.

Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião do NeoFeed

Álvaro Almeida é jornalista especializado em sustentabilidade. Diretor no Brasil da consultoria internacional GlobeScan, sócio-fundador da Report Sustentabilidade, agência que atua há 17 anos na inserção do tema aos negócios. É também organizador e curador da Sustainable Brands São Paulo, integra o Conselho Consultivo Global desta rede de conferências e participa da Comissão de Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).