Além de fundador e CEO da Creditas, o espanhol Sergio Furio é investidor em mais de 30 empresas. Ele falou ao NeoFeed sobre seus negócios, a dificuldade de empreender e o que observa em um bom empreendedor. Acompanhe:

A Creditas já recebeu aportes milionários. Você pensa em vender a empresa por completo?
Não penso em vender a empresa. Para quê? Você está vivendo o momento de sua vida, fazendo o trabalho que sonhou, tendo impacto, sendo respeitado. Vai fazer o quê? Virar velho? Vai na praia?

Muitos jovens pensam assim, de criar um negócio, vender por milhões e aproveitar a vida...
Acho que quando você começa a criar uma empresa, você pensa em um valor ‘X’ em cinco minutos e depois começa a trabalhar. Aí, passa dois anos, três anos e vê como é difícil. O pessoal diz “que legal, empreender, abrir um negócio!”, mas ninguém lembra como é comprar o papel do banheiro todos os dias, motivar a galera por um salário de um terço do que ganhariam em um banco, de trabalhar em um escritório feio, que não cheira bem e ficar sem receber salário por quatro anos. Aí, passa o tempo, de repente o negócio vai bem, você pensa: vou vender o negócio para quê?

Você pensa em criar outras startups?
Esse negócio de empreendedor serial não é comigo. Não me vejo passando de novo por todo o sofrimento dos últimos sete anos.

Mas você investe em empresas...
Tenho investimento em mais de 30 startups. A maluquice virou grande. Invisto em fintechs e empresas de serviços.

Que dicas daria para quem está começando?
Acho que no mundo de hoje se desmitificou a ideia de que para ter uma boa carreira tem de trabalhar em uma grande empresa e ir subindo a escadinha no mundo corporativo. Não precisa ter uma carreira corporativa de sucesso para ter uma vida profissional de sucesso. Outra coisa é saber que as coisas não acontecem de um dia para o outro. Não existe esse negócio de criar uma empresa e, em apenas um ano, o negócio está certo. É muito difícil isso acontecer.

"O pessoal diz 'que legal, empreender, abrir um negócio!', mas ninguém lembra como é comprar o papel do banheiro todos os dias, motivar a galera por um salário de um terço do que ganhariam em um banco"

O que mais?
A resiliência é muito importante. A pessoa tem que pensar que essa é uma briga de 10 anos, de 15 anos, de 20 anos. O grande valor das empresas não se cria no começo, se cria no final. É a partir de 15 anos que começa a criar a valor. Isso não é uma brincadeira. Estamos sim em uma garagem, vai trabalhar de tênis, é descolado, mas no final, o que é mais relevante é que colocamos uma barra alta e a gente gosta de trabalhar, sofre trabalhando. Por último, é a escolha do mercado. Se você escolher um mercado pequeno demais vai ter duas consequências. Primeiro, vai poder errar pouco. Se você pega um mercado pequeno e erra, acabou. Em um mercado grande, como o financeiro que escolhemos, erramos muito, mas isso te permite. A segunda implicação é a capacidade de levantar funding. As empresas de venture capital olham para isso.

O que você olha em um empreendedor?
Gosto de empreendedores completos, que entendem do mercado no qual estão operando, que têm fundamento de como a tecnologia vai gerar valor e que tenham boas noções de finanças, que conheçam as métricas que serão relevantes daqui a seis meses, dois anos, dez anos. E, por último, tem de ser um líder nato, que inspire as pessoas.

A Creditas já levantou muito dinheiro em aportes. Pensa mais para frente em abrir capital?
Um IPO está nos planos da companhia. A gente gosta da ideia de tornar a empresa transparente, tornar pública, porque somos uma empresa financeira. E acreditamos que, neste segmento, a transparência é boa, cria uma governança que gera valor e nos permite reduzir o custo de funding. Mas não é imperativo. Hoje tem fundos investindo US$ 1 bilhão em startups, antes não existia isso.

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