Num curto comunicado, sem especificar o motivo, o governo chinês anunciou na sexta-feira, 28 de fevereiro, a demissão de Jin Zhuanglong, ministro da Indústria e Informação e responsável desde 2022 pela condução de áreas-chave do governo no setor de tecnologia, como internet, inteligência artificial, semicondutores, telecomunicações, carros elétricos e big data.

Jin estava ausente de reuniões de cúpula do governo e de eventos oficiais de sua pasta desde o final dezembro, sinal de que estava em desprestígio com o presidente Xi Jinping – que o havia nomeado para reduzir a dependência da China do mundo desenvolvido para obter tecnologia.

Desaparecimentos prolongados e inexplicáveis de autoridades chinesas historicamente indicam uma investigação anticorrupção, o que levou analistas ocidentais a especular que o ministro afastado estaria preso.

Se confirmado o motivo, Jin seria o quarto integrante do gabinete de Xi a ser afastado por corrupção – antes dele, caíram os ministros da Defesa, Agricultura e Relações Exteriores. No ano passado, o órgão anticorrupção da China disciplinou 889 mil funcionários, um aumento de 46% em relação ao ano anterior e o maior número em pelo menos uma década.

Yeling Tan, professora da Universidade de Oxford, disse ao jornal britânico Financial Times que o foco na disciplina partidária e na lealdade partidária causou um esfriamento no sistema e levou à aversão ao risco na burocracia chinesa. “É mais seguro não ser proativo”, advertiu Yeling.

Jin teve papel fundamental no salto tecnológico chinês dos últimos anos. Engenheiro aeroespacial, comandou a construção do C919, a primeira aeronave de passageiros desenvolvida internamente no país pela estatal de aviação Comac, e teve vários encontros com líderes das big techs americanas durante seu mandato, incluindo com o CEO da Apple, Tim Cook, no final de outubro, menos de dois meses após sumir de aparições públicas.

O fato de lidar com contratos bilionários do governo sempre colocou a pasta na mira dos órgãos de controle anticorrupção da China, que costumam ser implacáveis em suas investigações.

Jin substituiu em 2022 Xiao Yaqing como secretário e ministro do partido. Mais tarde naquele ano, Xiao foi expulso do Partido Comunista e rebaixado após investigadores anticorrupção concluírem que ele havia aceitado propinas.

Especialista aeroespacial com expertise em design de mísseis, Jin fez carreira no setor e também atuou como vice-diretor executivo do escritório do Comitê Central de Desenvolvimento da Fusão Militar-Civil, presidido por Xi.

O jornal The South China Morning Post, de Hong Kong, relacionou a queda de Jin a uma ofensiva do governo no setor aeroespacial. No início desta semana, Tan Ruisong, ex-presidente e chefe do partido na Instituto da Indústria da Aviação da China, a principal fabricante de aeronaves militares do país, foi expulso do PC chinês após ser acusado de aceitar uma "grande quantia" em subornos.

Em 2023, três altos executivos aeroespaciais foram removidos do principal órgão consultivo político do país: Wu Yansheng, presidente do Instituo de Ciência e Tecnologia Aeroespacial; vice-gerente da estatal Instituto de Ciência e Indústria Aeroespacial da China; e Liu Shiquan, presidente do Grupo de Indústrias do Norte da China.

No comunicado em que anunciou o afastamento de Li, o governo chinês afirmou que ele seria substituído por Li Lecheng, sem fornecer maiores informações. Li foi anteriormente governador da província de Liaoning e acompanhou Xi em uma excursão pela província no mês passado.