O enredo é o mesmo de três meses atrás e o Fundo Monetário Internacional (FMI) não hesitou em repetir o refrão na revisão de cenário divulgada nesta terça-feira, 26 de julho. Inflação crescente, política monetária restritiva, desaceleração pior que o esperado na China e consequências da guerra na Ucrânia justificam a redução nas projeções de crescimento econômico mundial que podem piorar.

O Produto Interno Bruto (PIB) mundial deve crescer 3,2% este ano e 2,9% em 2023, ante, respectivamente, 3,6% previstos em abril para este ano e para o próximo. No cenário “menos provável, mas possível”, o PIB global pode avançar cerca de 2,6% este ano e 2% em 2023.

A redução das projeções reflete a piora das perspectivas para os EUA, China e Índia, diz o FMI. Para a economia americana, o PIB esperado para este ano declinou 1,4 ponto para 2,3%. A China deve avançar 3,3% também este ano, no pior resultado em quatro décadas, excluindo a fase inicial da Covid-19 em 2020, que afundou todas as economias.

A Índia poderá crescer 7,4%, ante a leitura anterior de 8,2%. Para a Zona do Euro, a estimativa é de expansão de 2,6%, ante 2,8% anterior. Para América Latina e Caribe, a estimativa de crescimento é de 3% este ano e de 2% em 2023. O Brasil, informa o FMI, deve crescer 1,7% este ano e 1,1% no próximo. O FMI pondera que os riscos para as perspectivas são “esmagadoramente” inclinados para o lado negativo.

No inventário de pontos negativos que colaboram para dias piores, o FMI diz que a guerra na Ucrânia pode levar a uma parada repentina das importações europeias de gás da Rússia. E alerta que a inflação pode ser mais difícil de derrubar do que o previsto, se os mercados de trabalho estiverem mais apertados do que o esperado ou as expectativas de inflação não se alinharem

O fundo acrescenta também que as condições financeiras globais mais restritivas podem agravar a dívida em mercados emergentes e economias em desenvolvimento e que surtos e bloqueios renovados de Covid-19, bem como uma nova escalada da crise do setor imobiliário, podem suprimir ainda mais o crescimento chinês. Por fim, a fragmentação geopolítica poderia impedir o comércio global e a cooperação.

O FMI projeta inflação de 6,6% nas economias avançadas neste ano e de 9,5% nas economias emergentes e em desenvolvimento, em função do aumento dos preços dos alimentos, reforçando a “prioridade” para os formuladores de políticas: domar a inflação.

O resultado, segundo o FMI, será “inevitavelmente” custos econômicos reais. E um recado aos bancos centrais: o atraso na prática de uma política monetária mais apertada só exacerbará os custos do combate à inflação.

O FMI envia também uma mensagem direta aos governos, alertando que o apoio direcionado pode ajudar “amortecer o impacto sobre os mais vulneráveis, mas com os orçamentos do governo esticados pela pandemia e a necessidade de uma postura desinflacionária de política macroeconômica global, tais políticas precisarão ser compensadas pelo aumento dos impostos ou pela redução dos gastos do governo”.