O Brasil está diante de uma janela histórica de oportunidades para atrair investimentos do mercado de capitais daqui e do exterior, por causa da migração das cadeias de suprimentos da Ásia para o Ocidente e das vantagens competitivas do País na era da descarbonização e da transição energética.
Esse foi o tom da participação do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, em um painel do CEO Conference, evento do BTG Pactual nesta quarta-feira, 7 de fevereiro, que se transformou num monólogo diante da mediadora, a jornalista Amanda Klein, que mal teve chance de fazer perguntas.
Mercadante chamou a atenção pela citação interminável de números do banco, de indicadores positivos da economia brasileira e até de um livro de Sigmund Freud, o pai da psicanálise, para convencer a plateia que o BNDES de hoje, ao contrário do banco de anos atrás, trabalha ao lado do setor privado para financiar projetos para alavancar a indústria nacional.
Segundo ele, a oportunidade histórica que o País vive se deve, além da melhoria do quadro fiscal e regulatório, às mudanças na economia mundial. E como o Brasil vai sediar o G20 este ano e a COP30 daqui a dois anos, terá vantagens para aumentar seu espaço no cenário internacional.
“O mundo mudou, aquele processo de globalização e de integração econômica, com regras de governança de comércio da OMC (Organização Mundial do Comércio), não existe mais”, disse o presidente do BNDES.
Mercadante acredita que o deslocamento das cadeias de suprimento levará o Brasil a concorrer com países como México, Coreia do Sul e Índia por investimentos externos. E a necessidade de descarbonização trabalha a favor do Brasil, que tem a maior fonte de energia limpa do planeta.
“Não tem como competir com sol e o vento que temos”, disse, enfatizando a “vantagem competitiva extraordinária” do Brasil. “A Rússia perdeu o mercado do gás e podemos atrair investimento da Europa na transição energética, por exemplo”, acrescentou.
Daí a importância, em sua visão, da nova política industrial do governo que tende a trazer valor agregado e tecnologia. Além disso, assegura ele, nova política terá mecanismos de acompanhamento e fiscalização e uma perspectiva de reindustrializar o País.
“Antes, a nossa indústria era 30% do PIB e hoje não passa de 15%, estamos revertendo esse processo”, afirmou. Segundo Mercadante, todos os países importantes estão fazendo política industrial mesclada com protecionismo.
“Subsídio na veia”
Mercadante citou um estudo do BNDES mostrando que Estados Unidos, União Europeia e China respondem por 48% das medidas de políticas industriais adotadas em todo o planeta.
“Só o plano dos EUA de infraestrutura, de US$ 1,7 trilhão em dez anos, não é subsídio embutido no crédito, e sim na entrada de investimento, ou seja, é subsídio na veia, não é fácil competir com isso”, afirmou.
Questionado sobre a diferença do BNDES de hoje em relação ao do governo de Dilma Rousseff, quando o banco distribuiu subsídios de R$ 500 bilhões a empresas “campeãs nacionais”, o que não se reverteu em ganho de produtividade, Mercadante foi irônico.
“Esse BNDES de antes não vai voltar, o atual BNDES é o do futuro”, assegurou, afirmando que ia comprar e distribuir um livro de Freud no qual o psicanalista austríaco escreveu um ensaio sobre o trauma.
“Freud disse que o trauma é o que fica no consciente e a pessoa não consegue se mexer”, disse, tentando convencer a plateia de que o BNDES de hoje tem outro perfil. Taxas preferenciais, afirmou, só de projetos de inovação, que o setor privado não costuma bancar.
“No ano passado, 88% da entrada de projetos e 17% de desembolsos do BNDES foram sem subsídios”, assegurou. “O equity do banco é todo com fundos privados, entramos com 25% e alavancamos três vezes o investimento.”