A montanha-russa de expectativas sobre o futuro da economia dos Estados Unidos, que ora desce com temor de o país caminhar para uma recessão, e ora sobe com a divulgação de novos indicadores sinalizando uma recuperação, desta vez causou euforia nos mercados com o anúncio nesta quinta-feira, 15 de agosto, de um forte crescimento das vendas no varejo no mês passado no país.

O aumento de vendas em julho foi de 1%, mais do que o triplo do crescimento de 0,3% esperado pelos analistas, indicando a possibilidade do sonhado “pouso suave” – redução da inflação sem recessão na economia.

Por isso, o anúncio causou uma reação em cadeia dentro e fora do país. O S&P 500 saltou cerca de 1,5% no início da tarde, a caminho de seu sexto ganho diário consecutivo. Os índices Nasdaq, de alta tecnologia, e o Dow Industrial também subiram mais de 1%.

O rendimento dos títulos do Tesouro de dois anos, sensíveis ao sobe-e-desce da economia, cresceu 0,17 ponto percentual, para quase 4,12% - os rendimentos aumentam à medida que os preços caem.

Também em ritmo de euforia com as notícias vindo dos EUA, as bolsas da Europa fecharam em forte alta. O Ibovespa, que chegou a avançar 0,90% na hora do almoço, batendo novo recorde intradiário, operava em alta de 0,60%, a 134 mil pontos, às 15h30.

Na Ásia, as boas notícias vieram de novos relatórios mostrando que as vendas no varejo também aumentaram na China, enquanto os gastos do consumidor ajudaram a elevar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Japão no segundo trimestre em 0,8%.

Os gastos do consumidor são um indicador-chave da economia dos EUA, representando cerca de dois terços do PIB americano. A divulgação do relatório de vendas no varejo, que não é ajustado pela inflação, coincidiu com o anúncio do desempenho surpreendente do Walmart, a maior rede varejista do mundo, que registrou crescimento anual de 4,2% nas vendas nas suas principais lojas dos EUA no segundo trimestre.

As ações do Walmart subiram 6,7% no horário do almoço em Nova York, número surpreendente para uma empresa de seu tamanho. “Até agora, não estamos enfrentando um consumidor mais fraco em geral”, disse o presidente-executivo do Walmart, Doug McMillon, a analistas após os resultados trimestrais.

Com base nos dados das vendas no varejo, os gastos do consumidor nos EUA estão no caminho certo para um crescimento de 3,5% no terceiro trimestre, de acordo com Kathy Bostjancic, economista-chefe da Nationwide, citada pelo jornal The New York Times.

Isso impulsionaria o crescimento econômico da economia americana para uma taxa de mais de 2% no trimestre, escreveu ela em uma nota a clientes.

Boas notícias

O desempenho do varejo foi o mais recente de uma série de dados da economia americana divulgados esta semana que acalmaram as preocupações dos mercados quanto a uma possível recessão.

Os pedidos de seguro-desemprego na semana encerrada em 10 de agosto caíram em relação à semana anterior, indicando resiliência no mercado de trabalho. A inflação geral foi de 2,9% em julho em uma base anual, informou na quarta-feira, 14, o Bureau of Labor Statistics – foi a primeira vez que a inflação dos EUA caiu abaixo de 3% desde 2021.

Apesar da redução, os preços dos produtos alimentares e dos bens de consumo estão entre um quarto e um terço mais elevados do que antes da pandemia, mostram dados do governo.

O arrefecimento da inflação reforçou as previsões dos investidores de que o Federal Reserve (o banco central dos EUA) começará a reduzir no próximo mês as taxas de juros, hoje entre 5,25% e 5,50% ao ano, as maiores em três décadas.

Mas, por outro lado, obrigou os investidores a reverem os ritmos de cortes, reduzindo as apostas em cortes maiores, de 0,50 ponto percentual nas taxas. Com isso, os mercados estão precificando agora menos de quatro cortes de 0,25 ponto percentual cada nas taxas de juro este ano, em comparação com pouco mais de quatro no início desta semana.

Um total de quatro reduções este ano exigiria um corte 0,50 ponto percentual, uma vez que faltam apenas três reuniões do Fed antes de janeiro. Com a economia mais aquecida, a tendência é balizar os cortes em 0,25 ponto percentual – melhor do que encarar uma recessão.