O programa nacional de Mobilidade Verde e Inovação (Mover), anunciado pelo governo federal no final de dezembro, vai oferecer oportunidades de ganhos para alguns dos principais fabricantes ou fornecedores da indústria automobilística que já vinham investindo em projetos de descarbonização.

Isso porque o Mover, que vai substituir o Rota 2030, cuja validade chegou ao fim em 2023, amplia as exigências de sustentabilidade da frota automotiva do País e, por essa razão, deverá impactar em toda a cadeia produtiva da indústria automobilística.

Em relatório divulgado nesta quinta-feira, 4 de dezembro, o BTG Pactual cita quatro empresas engajadas, em especial, na tendência crescente de eletrificação de veículos pesados ou no desenvolvimento de soluções tecnológicas verdes para o setor: a Marcopolo, a Tupy, a Randon e a Weg.

“Vemos padrões mais elevados de eficiência energética e redução da pegada de carbono como impulsionadores cruciais para esses produtores locais de componentes e equipamentos”, diz um trecho do relatório do BTG, assinado pelos analistas Lucas Marquiori e Fernanda Recchia.

Ao citar as quatro empresas, os analistas recomendam a compra de ações dessas companhias, pelo potencial de valorização após a criação do programa Mover.

Os analistas observam que o papel dos fornecedores na cadeia automotiva vai ganhar em importância por conta de uma das novidades do novo programa, cujo objetivo é reduzir em 50% as emissões de carbono até 2030: a forma da medição das emissões de carbono.

Ela passa a ser feita "do poço à roda", ou seja, considerando todo o ciclo da fonte de energia usada -- o Rota 2030 media apenas "do tanque à roda".

No relatório, eles destacam uma das principais diretrizes do novo programa: a mudança de uma mentalidade de "eletrificação a todo custo" para uma estrutura mais razoável, focada em reduzir a pegada de carbono de toda a cadeia de produção.

“No Brasil, isso é altamente significativo, pois o país é capaz de produzir biocombustíveis em larga escala, oferecendo ao mercado local uma solução que é mais econômica do que a eletrificação pura”, diz o relatório do BTG.

Perfil adequado

As quatro empresas citadas se encaixam neste perfil, a despeito de atuarem em áreas diferentes na cadeia produtiva do setor automotivo.

A Marcopolo anunciou em dezembro um investimento de R$ 50 milhões para ampliar, este ano, a produção do ônibus elétrico Attivi na fábrica de São Mateus, no Espírito Santo. A empresa fechou 2023 com a fabricação de 130 unidades do Attivi na unidade de Caxias do Sul (RS).

A fabricante planeja desenvolver novas versões elétricas, de micro-ônibus e ônibus articulados. Em outra frente, avança no projeto de um ônibus híbrido e já começou a testar um modelo movido a hidrogênio, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP).

De acordo com o relatório do BTG, a Tupy -- multinacional brasileira do ramo da metalurgia --, deverá se beneficiar de projetos de alta especificação e descarbonização por meio de sua unidade de motores MWM, adquirida em 2022.

A MWM também está presente no setor de energia e descarbonização, com fabricação de grupos geradores e conversão de motores para gás natural, biodiesel, biogás e biometano -- as principais rotas de descarbonização do agronegócio brasileiro.

No ano passado, a Tupy e a MWM firmaram parceria com a cooperativa agrícola Primato para a construção de uma usina de biogás em Ouro Verde do Oeste (PR), a partir da utilização de dejetos de suínos.

Outra empresa com projetos verdes é a Randon, fabricante de reboques automotivos, citado pelo BTG por ter desenvolvido “soluções interessantes para reduzir o consumo de combustível, como o sistema e-Sys”.

Há duas semanas, a empresa colocou em operação no Chile os primeiros conjuntos totalmente elétricos de semirreboques e caminhões para o transporte de cargas das Américas equipados com eixo elétrico e-Sys, que permite uma redução de 25% do combustível.

Já a Weg é apresentada pelo BTG Pactual “como potencial vencedora da tendência crescente de eletrificação, que exigirá infraestruturas de carregamento substanciais”.

Em mobilidade, uma das oportunidades da Weg está em baterias para veículos pesados, focando principalmente em ônibus elétricos. A linha de produção de baterias ganhou um reforço de R$ 100 milhões para expansão.

Mais do que fornecer baterias para esses veículos, a Weg também quer se tornar cada vez mais representativa em soluções de recarga — um ponto que abrange tanto os veículos pesados como os leves. Hoje, a empresa tem mais de 10 mil estações de recarga.