O rali é um dos momentos mais esperados pelos gestores. Um movimento de alta nos ativos após um longo período de baixa por mudar um período de retornos ruins. Mas, desta vez, o rali no mercado acionário global não está sendo comemorado por todos. Especialmente por quem estava apostando no sentido contrário.
Esse é o caso de um grupo de hedge funds que está embolsando um prejuízo de US$ 43 bilhões nos últimos dias depois de apostar na queda de algumas ações nos Estados Unidos e na Europa, segundo o Financial Times, citando levantamento da consultoria S3 Partners.
Desde que o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, sinalizou, em outubro, que dificilmente a autoridade monetária vai voltar a aumentar os juros neste ciclo de aperto monetário, os investidores ficaram confiantes em retornar ao mercado de ações.
E os mais recentes dados de inflação nos Estados Unidos, divulgados na terça-feira, 14 de novembro, mostrando estabilidade no acumulado de 12 meses até outubro, de 3,2%, reforçaram ainda mais a confiança dos investidores nos últimos dias, que voltaram com força a comprar ações.
O resultado é que o S&P 500 acumula alta de 8,6% no mês até quarta-feira, 22 de novembro. Na Europa, o Euro Stoxx 50, composto pelas 50 ações com maior liquidez de 17 países da região, avança 7,4%.
Esse cenário foi negativo para aqueles gestores que apostaram contra companhias que entendiam estar com dificuldades e prejudicadas pelo ambiente de juros altos. Mas com o otimismo retornando ao mercado, as ações de companhias em dificuldade acompanharam a alta e as apostas acabaram se voltando contra os fundos de hedge.
Alguns deles tiveram que recomprar ações para cobrir suas perdas, ajudando no movimento de alta dessas ações.
Segundo os dados da S3 Partners, os fundos de hedge sofreram principalmente apostando contra nomes dos setores de tecnologia, saúde e consumo discricionário. Somente a alta de 14% das ações da operadora de cruzeiros Carnival, registrada entre os dias 13 e 20 de novembro, custou um total de US$ 240 milhões aos hedge funds.
Na Europa, as ações da companhia de real estate sueca SBB também machucaram os hedge funds que apostaram contra ela nos últimos dias. Apesar de os papéis terem perdido quase três quartos de valor no ano, gerando grandes retornos para quem realizou short, ela recuperou quase um terço do valor na semana encerrada na segunda-feira, dia 20.
De acordo com o FT, a alta das ações da SBB afetou afetou casos como as americanas Balysany, que tem cerca de US$ 19 bilhões em ativos sob gestão, e a Arrowstreet Capital, que administra quase US$ 100 bilhões.
A grande dúvida é se esse movimento de alta vai continuar ou se ele arrefece (ou mesmo reverte) até o final do ano. De qualquer forma, o impacto foi sentido.
“O mercado neste ano tem sido bastante complicado, mas este short squeeze esta realmente prejudicando o desempenho de muitos fundos neste fim de ano”, disse Emmanuel Cau, chefe de estratégia para equities na Europa do Barclay’s ao FT.