O crescimento em 2024 será mais lento, a inflação seguirá declinante e os bancos centrais darão início ao ciclo de corte dos juros, preconizam divisões de pesquisas econômicas das maiores instituições financeiras do mundo.
Embora com viés de baixa, os juros nas economias centrais devem seguir inalterados no primeiro semestre ou em boa parte dele. Portanto, as condições financeiras vão se manter apertadas, mas não devem patrocinar retração.
“A recessão que muitos esperavam em 2023 nunca chegou. A inflação atingiu o pico em 2022 em muitas regiões e a desinflação continuou em 2023, devendo prosseguir em 2024. Entretanto, juros altos deverão enfraquecer o crescimento e conduzir a taxas de desemprego mais elevadas, mas a perspectiva é de lenta aterrissagem e não de recessão”, afirma o Bank of America.
O europeu UBS, que se agigantou ao incorporar o Credit Suisse, concorda com seu par norte-americano de que a direção é de “pouso suave” – a começar pelos EUA. A Europa deverá ter expansão moderada e a China chegará a um ‘novo normal’ de crescimento mais baixo, mas de melhor qualidade.
Esse cenário econômico tem elevada probabilidade de se concretizar. Porém, eleições presidenciais em mais de 50 países despontam como fonte de incerteza e com potencial para alterar relações estabelecidas entre países e respingar na economia.
EUA, Índia, África do Sul e Indonésia estão entre as nações que escolherão novos mandatários. No Reino Unido, o primeiro-ministro Rishi Sunak não fixou data, mas declarou que eleições ocorrerão até dezembro.
A Rússia também integra a bateria, embora sem gerar expectativas quanto a uma eventual repercussão na política global. Vladimir Putin, há mais de duas décadas no poder, deve se candidatar à reeleição em março e sem concorrentes. Os opositores estão exilados ou presos.
Apontada como o grande evento político do novo ano, a eleição americana ocorrerá em novembro, quando os norte-americanos deverão comparecer às urnas para escolher o Colégio Eleitoral que poderá reeleger Joe Biden ou optar por Donald Trump. Acredita-se que a dupla veterana poderá renovar a disputa pela Casa Branca, a partir do cenário traçado hoje.
Há poucas semanas, o Supremo Tribunal do Colorado decidiu que Trump não pode concorrer naquele estado por sua intervenção no ataque ao Capitólio, em janeiro de 2021. Em compensação, a Corte de Michigan decidiu na quarta-feira, 27 de dezembro, que Trump poderá disputar as eleições presidenciais no estado. Portanto, para o ex-presidente a batalha jurídica continua.
Cabo de guerra entre China e EUA?
Há consenso entre analistas de que um avanço dos Republicanos à Casa Branca – com ou sem Trump – poderia afetar o alinhamento dos EUA do democrata Biden e do Ocidente à Ucrânia e ressuscitar disputas comerciais.
Com Trump, contudo, efeitos econômicos tendem a ser mais contundentes. Ele já avisou, por exemplo, que, se eleito, aplicará tarifa de 10% sobre todas as importações norte-americanas. Iniciativa que teria impacto no mundo inteiro.
Mas a estreia do congestionado período eleitoral se dará na Ásia. Em 13 de janeiro, Taiwan escolherá o próximo presidente e especialistas alertam que o pleito definirá a probabilidade de uma invasão chinesa à ilha no curto prazo, se o futuro governante caminhar em direção à independência.
De governo autônomo, mas considerada pela China parte do seu território, Taiwan tem nos EUA um suporte de defesa – firmado em acordo – para receber ajuda em caso de confrontos. Em contraponto, os EUA dependem fortemente do fornecimento de produtos de alta tecnologia vindos da ilha que o governo americano não quer ver sob orientação de Pequim.
Com Taiwan no foco da tensão geopolítica entre China e EUA, as relações entre as duas maiores economias do planeta poderão ser estremecidas a partir da eleição de janeiro.
Sinal de que um cabo de guerra está sendo armado, às vésperas do Natal, a rede de TV NBC informou que o presidente chinês Xi Jinping assegurou a Biden que pretende reunificar a ilha à China.
Com atenção dedicada nas últimas semanas ao histórico calendário eleitoral de 2024, a imprensa europeia insiste que as potenciais mudanças de governos podem fazer pender, decididamente, o precário equilíbrio geopolítico.
Há risco concreto das eleições comprometerem fontes de apoio à Ucrânia na longa guerra contra a Rússia e também pesar, contra ou a favor, do conflito Israel-Hamas e nas relações comerciais de uma economia global interligada.
Mas não é apenas a definição de novos presidentes que preocupa analistas. É grande também a expectativa com o resultado da gigantesca eleição transnacional – marcada para junho – quando mais de 400 milhões de pessoas de 27 países deverão eleger diretamente 720 deputados para o Parlamento Europeu.
Essa eleição transfronteiriça importa porque ocorrerá num momento considerado particularmente delicado: de fortalecimento de partidos de direita ou extrema-direita, imigração sendo alvo de intensos debates, desaceleração da atividade e renda em queda.
As pressões inflacionárias estão atenuadas é fato. Entretanto, ao custo de taxas de juros historicamente elevadas que retardam a recuperação das economias – um agravante para distúrbios sociais que poderão sacudir o velho continente.