A economia americana está desacelerando aos poucos em resposta à política monetária contracionista do Fed para combater a inflação e deve entrar em recessão no fim de 2024. Até lá, os juros devem continuar onde estão (5% ao ano) e pressionar a bolsa americana.

O cenário é da gestora britânica Schroders, com US$ 923 bilhões sob gestão. E com essa perspectiva, as recomendações de alocação passam a ser mais centradas em bonds americanos e em uma maior diversificação global dos investimentos

“Apesar dos apelos do mercado, não vejo como possível uma redução dos juros americanos no primeiro semestre de 2024, pois a economia americana ainda se mostra resiliente. E por isso a recessão que todos esperavam para este ano virá no ano que vem”, afirmou Johanna Kyrklund, co-head of investment e CIO Schroders, em painel mundial para jornalistas no qual o NeoFeed foi convidado como veículo brasileiro.

Mas isso também marca o fim da era do “dinheiro fácil”, com juros mais altos no mundo desenvolvido do que os praticados desde 2008 por muito mais tempo. O custo da dívida para as empresas será agora um tema recorrente. Por isso, se até o início desta década o lema era ‘cash is trash’ (dinheiro é lixo, na tradução), agora entra o ‘cash is king’ (dinheiro é o rei).

Outras três grandes forças estão mudando o mundo como o conhecíamos: a desglobalização, novos booms demográficos e a descarbonização.

Por isso, para Alex Tedder, head of global and thematic equities da Schroders, os investidores precisam deixar para trás o que direcionou os portfólios em ações na década passada: a busca por beta em ações americanas de tecnologia, independentemente do seu valuation e dos lucros que davam.

Desde 2010, o S&P 500 valorizou 337%, o MSCI Europa 93%, o MSCI Emerging Markets 19% e o MSCI China -10,8%. As sete super ações americanas (Meta, Tesla, Nvidia, Amazon, Alphabet, Microsoft e Apple) hoje representam mais de 16% do índice MSCI ACWI (das maiores empresas de países desenvolvidos e emergentes) do que todas as empresas francesas, japonesas, chinesas e britânicas nele.

O jogo tem tudo para virar

“Os EUA estão caro e os investidores precisam voltar a pensar no resto do mundo e em uma diversificação maior de países e de setores. E principalmente terem um olhar mais apurado para geradoras de caixa”, disse Tedder.

Olhando dados do Banco Mundial, os Estados Unidos representavam cerca de 40% da economia mundial em 1960 e caíram para 25% em 2020. A projeção é que represente menos de 15% em 2070, quase o mesmo tamanho do que terão China e Índia. Já a Europa terá menos representatividade ainda, caindo de 18% para apenas 10% no mesmo período.

Uma das grandes apostas dos especialistas para 2024 é o Japão, que saiu de um quadro de desinflação e tem ganhado competitividade e gerado dividendos. Já o Reino Unido aparece como excessivamente descontado, com sua bolsa sendo negociada a 11 vezes o seu preço sobre lucro. Não muito atrás estão os mercados emergentes (EM), sendo negociados a 14 vezes o seu preço sobre lucro.

Na avalição dos estrategistas, a inflação, até então um grande problema para esse tipo de investimento, está alinhada com o mundo desenvolvido ocidental se é que não mais controlada. O que deve gerar grandes oportunidades.

O dólar já teria chegado ao seu pico de valorização frente a cesta de moedas emergentes, o que deve ajudar no crescimento das economias na América Latinas. Mas as expectativas estão mais concentradas na Ásia, principalmente em China e Índia, onde vive-se um boom demográfico que impulsiona a economia.

Tendências nos mercados privados

O aumento das taxas de juros também tem impactado os mercados privados, com a captação em queda e voltando aos níveis pré-pandemia. E com as grandes tendências (desglobalização, novos booms demográficos e a descarbonização) ditando os melhores valuations.

“Os investidores não devem continuar automaticamente com o que funcionou no passado. Em vez disso, as estratégias e os investimentos devem ser avaliados quanto à sua adequação ao novo mundo em que estamos entrando”, afirmou Nils Rode, diretor de investimentos, ativos privados da Schroders Capital.

As oportunidades em private equity para o ano que vem, até o fim da década, estrão mais em early stage e pequenas empresas, enquanto os deals em grandes empresas parecem mal avaliados. Em termos de setores a gestora aposta em health care e tecnologia, e em regiões na Índia como super atrativo e na China como atrativo.

Já no segmento de infraestrutura, o segmento mais interessante é energia solar e eólica, seguido por outros segmentos de energia renováveis, com oportunidades atrativas nos EUA, Europa e algumas oportunidades em (EM). Em real estate, o Reino Unido e os países Nórdicos são vistos como super atrativos.