O primeiro trimestre está por um fio e o feriado da Paixão de Cristo, 29 de março, abrevia um calendário repleto de indicadores econômicos e expectativas com a agenda do Congresso que, entre outras propostas do governo, aguarda a regulamentação da Reforma Tributária sobre o consumo para aprovação ainda neste ano – mais enxuto pelas eleições municipais.

No exterior, são destaques mais uma leitura do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no quarto trimestre, dados de atividade da China e uma bateria de índices de confiança da Zona do Euro.

A agenda local prevê balanços do Banco Central (BC) sobre operações externas, crédito e resultado fiscal do setor público em fevereiro, dados do Caged e Pnad Contínua e sondagens setoriais monitoradas pelo FGV Ibre.

Os índices de confiança da Construção, Indústria, Serviços e Comércio de março, contemplados nas sondagens, poderão calibrar o otimismo turbinado pelo Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) e o Monitor do PIB, da FGV.

As duas estatísticas de janeiro trouxeram, de fato, excelente notícia ante a frágil atividade no segundo semestre do ano passado e, sobretudo, no quarto trimestre de PIB zero. Entretanto, os dados dispararam alertas sobre a inflação.

E num cenário de apostas, dentro e fora do governo, de que salários, programas sociais, pagamento de precatórios e antecipação do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS irão alavancar a atividade ao longo do ano, a inflação merece atenção em diferentes abordagens protagonizadas pelo BC nesta saideira de trimestre. E não à toa.

A queda da inflação corrente é lenta e as expectativas resistem. Entra semana, sai semana a Pesquisa Focus reitera que as projeções para o IPCA até 2027 superam com folga a meta de 3% definida para este ano e para os próximos.

Essa constatação, somada aos dados recentes de atividade e a um cenário externo mais tenso, redobra a cautela do BC quanto ao corte da Selic, como indicou o Copom na reunião concluída na quarta-feira, 20 de março.

O juro caiu a 10,75%. Em maio, declina a 10,25%, graças à sinalização assegurada. Em junho, porém, a tesoura de Roberto Campos Neto estará menos afiada, ante incertezas que a ata do comitê deverá detalhar na terça-feira, 26 de março. Dia em que o IBGE divulgará o IPCA-15 de março. Prévia da inflação oficial do País, o índice deverá desacelerar na passagem mensal e, em base anualizada, recuar de 4,50% para 4,21%, calcula a LCA Consultores.

Na quarta-feira, 27 de março, a FGV anunciará o IGP-M também de março. O indicador seguirá em deflação, anualizada acima de 4%, alimentando a expectativa de repasses de preços em baixa no atacado para o varejo. Mais adiante e lentamente.

Caça à “agenda positiva”

Na quinta-feira, 28 de março, o BC publicará o primeiro Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de 2024. Como é de praxe, o documento deve ser apresentado por Campos Neto e pelo diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, cujas declarações poderão ajudar o mercado a balizar a Selic do fim do ciclo de baixa. Hoje precificada em 9%, mas sujeita a correção após a ata e entrevista de ambos na véspera do feriado religioso.

O RTI propriamente deverá atualizar projeções de inflação e do PIB. Em dezembro, o relatório avaliou como benigno o cenário para a inflação, mas alertou insistentemente para a desancoragem das expectativas – quadro que se mantém. Já a estimativa para o PIB desde ano, foi reduzida de 1,8% para 1,7%. E, agora, deverá subir. A Focus prevê 1,8%, a Fazenda 2,2%. Bancos e consultorias já apontam para 2,5%, dadas as condições atuais.

Entretanto, essas estimativas poderão surpreender para mais, a depender de iniciativas do Executivo para assegurar atividade mais aquecida. Por tabela, arrecadação mais robusta e mais favorável, portanto, para as contas públicas. Sendo que, para isso, busca uma “agenda positiva” que também favoreça a imagem do governo e do presidente Lula – desgastada neste início de ano.

Projetos a serem encaminhados ao Congresso nem sempre têm apelo popular, apesar da relevância macroeconômica e/ou institucional. Popular, a antecipação do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS já foi anunciada, assim como a redução do juro do crédito consignado.

A mudança no saque-aniversário do FGTS – cuja limitação ou eliminação, que desagrada trabalhadores, está em discussão no governo – poderá ter viés positivo no papel de garantia ao consignado. Mas não é certo.

A redução na cobrança de valores de bandeiras tarifárias nas contas de luz dos consumidores por atualização de metodologia de acionamento dessas bandeiras pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) foi formalizada no início de março, mas mal percebida. A chuvarada que castiga o país tira da memória pagamentos adicionais de tempos de seca.

Afinal, há quase dois anos, a manutenção da bandeira verde por condições metereológicas favoráveis livra o consumidor dessas cobranças que atingem, particularmente, o orçamento das famílias de mais baixa renda.

Mas o tempo pode mudar. E, na quinta-feira, 28 de março, quando anunciar a bandeira tarifária de abril, a Aneel poderá alertar para uma economia que, mais cedo ou mais tarde, chegará à população – ainda que gradualmente.