O combo férias escolares e recesso no Congresso desmobiliza lideranças no setor público e privado. Não à toa, julho prescreve desaceleração no ritmo das operações financeiras com preços de ativos mais expostos à influência externa.

Indicadores da economia chinesa – inclusive o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do 2º trimestre com relevância global – serão disparados no domingo à noite, 16 de julho, e impõem sinal de alerta no mercado internacional já na abertura dos negócios, na segunda-feira, 17 de julho.

Aqui, dois dados de atividade cobram atenção e recomendam cautela aos investidores porque instauram um “tira-teima” capaz de reforçar ou abrandar estatísticas cruciais para as perspectivas econômicas. E influenciar a construção de cenários que respaldam apostas no mercado financeiro representado, no geral, pela renda fixa e renda variável.

Se de um lado, aplicações em renda fixa estão ancoradas em decisões do Banco Central (BC) sobre a Selic e a expectativa consensual é de queda em breve; de outro, a renda variável está sujeita à precificação de empresas cujo desempenho também contempla sinalizações macroeconômicas. E o início da temporada de balanços do 2º trimestre ajudará a mapear o impacto da atividade nos resultados.

Merecem detida avaliação o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) e o Monitor do PIB, calculado pela FGV Ibre, com divulgações previstas para, respectivamente, segunda-feira e quarta-feira, 17 e 19 de julho – ambos referentes a maio.

A atualização desses dados, após resultados díspares em abril, deve balizar projeções para o crescimento deste ano. As revisões promovidas aceleradamente nas últimas semanas têm sido positivas.

Por ora, nada aponta para um revertério, mas a desaceleração do PIB esperada para 2024 persiste e pode ser revisitada em sua magnitude, ante a possibilidade de o Federal Reserve (Fed) abreviar o aperto monetário nos EUA devido a dados mais benignos de inflação.

Previdência Complementar, um novo consignado?

O IBC-Br e o Monitor do PIB são importantes porque mensuram a atividade mensalmente e elevam a consistência de análises que contribuem para a tomada de decisões, inclusive do governo, que segue focado em negociações com o Congresso, mas segue comprometido com o fortalecimento da economia e do seu caixa.

Concorre para a relevância dos indicadores, o fato de o desempenho das contas públicas estar atrelado à expansão das receitas. Se o PIB avança, a arrecadação do governo cresce. E, sob a nova âncora fiscal, as despesas seguem o mesmo compasso.

Entretanto, recomenda um olhar ponderado sobre os indicadores, o clima otimista instaurado dentro e fora do governo, graças à aprovação de projetos encaminhados pela equipe econômica ao Congresso. Temas caros ao governo passaram em grande estilo na Câmara e no Senado, mas ainda dependem de novas votações.

Por ora, destacam-se entre as propostas mais badaladas, a Reforma Tributária aprovada na Câmara que chegou ao Senado; a segunda parte da Reforma Tributária voltada à renda a ser encaminhada à Câmara em agosto e que, se aprovada, segue para o Senado; o “voto de qualidade” no Carf, chancelado pela Câmara e que também migrou para o Senado; e o Marco Legal das Garantias, que sofreu mudanças no Senado e voltará à Câmara.

Outro projeto relevante por potencializar o uso de garantias e reduzir o risco de inadimplência e o custo do crédito foi aprovado, na terça-feira, 11 de julho, pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. E segue em regime de urgência para análise do Plenário.

Esse projeto – iniciativa da Presidência da República – autoriza participantes de planos de previdência complementar aberta a utilizarem valores depositados como garantia para empréstimos bancários.

O patrimônio da Previdência Complementar é trilionário e, portanto, revelador sobre o potencial dessas garantias disponíveis, a ponto de sugerir estar nascendo aí um novo “crédito consignado” – modalidade de operação lançada em 2003 com papel decisivo para dobrar a proporção do crédito em relação ao PIB e alimentar a atividade nos primeiros mandatos do presidente Lula.

Também concorre para o ambiente positivo, talvez pontual pela resistência dos preços na prestação de serviços, a deflação do IPCA em junho, anunciada pelo IBGE na terça-feira, 11 de julho. O índice caiu 0,08% no mês passado e 3,16% em 12 meses – melhor resultado desde setembro de 2020 e inferior à meta de inflação, de 3,25%, neste ano.

Deflação amplifica discurso contra Selic

Embora esperada, a queda da inflação é importante por amplificar a zanga de Lula contra o BC, tornar mais concreta a cadência de projeções para o IPCA de 2024 e 2025, fortalecer a expectativa de corte da Selic em agosto; e sinalizar despesas futuras menores no pagamento de juros da dívida pública.

Nesse cenário mais construtivo, a tendência natural é de intensificação de prognósticos favoráveis ao PIB deste ano, reconhecem analistas consultados pela Coluna para quem é relevante a possibilidade de os próximos dados de atividade apontarem mais claramente o impacto do agronegócio – ou o fim dele – na evolução das contas nacionais.

Essa avaliação leva em conta que o desempenho do PIB no 1º trimestre, em expansão de 1,9% sobre o período anterior, ter sido ancorado na supersafra de soja. Os analistas lembram que os indicadores de abril ainda estavam sujeitos à influência do fortalecido 1º trimestre.

Em abril ante março, o IBC-Br – popular no mercado financeiro por ser visto como estimativa do PIB calculado pelo IBGE – surpreendeu com alta de 0,56% ante projeção de estabilidade. Em base anual, o indicador subiu 3,31%.

Em consonância com o alerta dos analistas, ou vice-versa, no Relatório Trimestral de Inflação, publicado no final de junho, o BC ponderou que o IBC-Br de maio – agora no pipeline – poderia refletir um recuo da agropecuária, ressaltando que a maior parte da safra de soja ocorre até abril.

Também referente a abril, o Monitor do PIB – de mensuração mensal a exemplo do IBC-Br – caiu 1,2% ante março e também surpreendeu. Mas, nesse caso, por registrar o pior desempenho desde janeiro de 2022 e já incorporando menor influência positiva do agronegócio.

Nos próximos dias também tem início a safra brasileira de resultados do 2º trimestre de empresas e bancos. Os balanços poderão justificar um vaivém mais animado do Ibovespa, ajudarão a compor um mosaico sobre a atividade e, poderão apontar – sobretudo ao governo – os setores mais necessitados e sensíveis a estímulos que ainda em gestação na área econômica.