Vasco Campos prefere passar o verão na Europa “porque os dias são mais longos e não chove como no Brasil”, disse ao NeoFeed o diretor da América Latina do grupo português de azeites Sovena, que detém a marca Andorinha no Brasil.

Mas a falta de chuva também pode ser sinônimo de tempestade. Com a seca na Espanha e a queda do abastecimento mundial de azeite, o executivo português, que está no Brasil há dez anos, precisou elaborar uma estratégia de curto prazo para garantir mercado, expandir a marca Andorinha e o portfólio do grupo no país.

Em maio, lançou uma embalagem de 250 ml de Andorinha (puro, mas que o mercado categoriza como virgem) como forma de manter o  "acesso dos brasileiros ao azeite”. O produto custa 10% a menos que a versão extra virgem. De uma forma geral, a embalagem econômica cresceu 30% no país no ano passado, enquanto que a Andorinha aumentou sua participação na categoria em 34%. Na categoria virgem, contudo, o principal concorrente é a Gallo.

No primeiro semestre, a companhia teve de reajustar seus preços em até 30%, em função da escassez de matéria-prima. “No segundo semestre, teremos mais um repasse, mas não chega a 30% porque o câmbio tem nos ajudado.” Segundo ele, o consumidor pode até usar outros óleos para cozinhar, mas na salada o azeite não é substituído.

Antes de embarcar para o Velho Continente de férias, visitou no Chile a Soho, fabricante que detém 40% daquele mercado, e da qual a Sovena adquiriu 25% há dois anos. Ali, acertou um aumento de importação do azeite extra virgem Oliva, que tem um posicionamento de preço inferior ao Andorinha. “O azeite chileno está sendo muito bem aceito no mercado brasileiro”.

De Portugal, a Sovena também vai aumentar as importações de Oliveira da Serra, marca líder naquele país, e que também chega ao mercado mais em conta que Andorinha.

Ainda que chame a estratégia de “complemento de portfólio”, trata-se de uma forma de lidar com a escassez e aumento da matéria-prima (90% de junho de 2022 a junho deste ano).

Entre junho de 2022 e junho deste ano, a matéria-prima subiu 90%

A Espanha respondia por metade da produção do mundo de azeite até a seca do ano passado ter ceifado mais de 50% da sua produção. De 1,5 milhão de toneladas em 2021/2022 caiu para 680 mil toneladas na safra 2022/2023.

As perspectivas para a próxima safra espanhola também são “desanimadoras”, já causando novos aumentos de preços e, por consequência, queda no consumo em países da Europa, como Portugal, de 20%. O consumo per capita de azeite em Portugal é de 7 litros por ano, por exemplo, e no Brasil de meio litro.

“No Brasil, as importações em geral de azeite extra virgem cresceram 12,9% em volume entre 2021 e 2022. Este ano, até abril, caíram 2%. É um sinal, mas muito menos drástico que nos demais países.”

Vasco Campos, diretor da América Latina do grupo português de azeites Sovena

O Brasil tem tido destaque na criação de azeites especiais, mas só produz 2% do que é consumido no país. Pelo levantamento da consultoria Product Audit, o mercado de azeites importados no Brasil (virgem e extra virgem) chegou a 111 mil toneladas no ano passado, contra 99 mil toneladas em 2021. Hoje, as marcas Galo, Andorinha e Borges detém 60% do mercado.

Para além da questão conjuntural, no médio prazo, o projeto da Sovena é fortalecer o portfólio premium do grupo no país. Do Chile, por exemplo, vão passar a trazer o Oliva Premium e estudam outras marcas da parceira Soho nesta categoria como o Montecristo e o Sol del Acurio.

O “principal negócio no Brasil,” contudo, é Andorinha, “líder em extravirgem” e onde “concentramos todos nossos esforços de marketing.” Para tanto, querem incentivar a venda do mix completo da marca, os produtos com maior valor agregado e edições especiais. Um canal estratégico nesse sentido é o e-commerce, “onde as pessoas navegam pelos outros itens do portfólio.”

Acabam de fechar, por exemplo, uma parceria com o marketplace Shopee. Já estavam na Amazon, no Mercado Livre, Magalu, entre outros. O varejo físico “opta pelas versões básicas, por uma questão de preço.” Desta forma, fica difícil conquistar espaço na prateleira para um azeite orgânico, por exemplo, que pela própria matéria prima custa mais.

Um exemplo é a edição especial de Andorinha com azeite brasileiro. Em 2019 e 2022, lançaram a versão em parceria com a gaúcha Ouro de Santana (R$ 76,99 no site oficial da Andorinha). “Queremos valorizar a produção nacional. Há muitos produtores de qualidade, mas ainda sem escala.”

O plano é lançar a safra de 2023 também com a Ouro de Santana e agregar mais um produtor que está em avaliação pela matriz em Portugal. No próximo ano, a proposta é ter três azeites brasileiros com rótulo Andorinha.