A cada dia, a população urbana global “engorda” em 200 mil pessoas. And counting...  Em 2050, dois terços da humanidade viverá em um grande centro urbano.

O.K., mas alguém já pensou nas cidades como o principal feito da humanidade? E a importância delas para a sobrevivência da espécie? É o que faz o historiador britânico Ben Wilson no fascinante Metrópole: A história das cidades, a maior invenção humana, a ser lançado em fevereiro no Brasil, pela Companhia das Letras.

O livro é a narrativa de todos nós. De como passamos a nos juntar em grupos estabelecidos, deixando para trás o nomadismo. Não é difícil concordar com Wilson: as cidades são as impulsionadoras das maiores transformações e avanços de nossa trajetória na Terra.

Por outro lado, o futuro nos impõe desafios sem precedentes. Para enfrentá-los, defende Wilson, é preciso mergulhar na origem e na evolução das cidades.

O autor foca seu estudo em 20 delas – as mais emblemáticas, entre avanços, derrocadas e reerguimentos. De Uruk, na Babilônia, a Xangai, na China, e Lagos, na Nigéria, Wilson passa por Bagdá, Veneza, Londres e Nova York.

Ao longo de sete mil anos de história, pelo “calor que irradiam”, define o autor, as cidades desencadearam a maioria das revoluções políticas, sociais, comerciais, científicas e artísticas.

Durante toda a existência humana nada nos moldou mais enquanto espécie do que a vida em sociedade, proporcionada pelos centros urbanos.

De um lado, as cidades fez de seus habitantes, em alguma medida, seres civilizados e evoluídos. A convivência em um mesmo espaço propiciou o desenvolvimento da cultura, de novas formas de arte, da maioria das profissões, da economia, das religiões.... um sem-número de inovações.

A educação cívica na Ágora de Atenas, na Antiga Grécia; o comércio global que passava por Bagdá no século 8; os cafés de Londres como pontos de debates e seu papel na ascensão dos mercados financeiros; e o conforto do centro de Amsterdã, em 1900.

Tem mais. O cotidiano intenso e fascinante na Paris da Belle Époque; o impacto causado pela verticalidade na cidade de Nova York no começo do século XX; a expansão acelerada de Los Angeles, a partir de 1920, e a a eco-reinvenção de Xangai no século 21.

Fundada no ano de 762 Bagdá se tornou a capital intelectual e espiritual do mundo oriental (Foto: Divulgação)

Por outro lado, no entanto, as cidades disfarçaram (e reforçaram) os aspectos mais primitivos e violentos dos seres humanos. Com isso, a epopeia da vida em sociedade se fez também com falta de planejamento urbano, segregação e injustiça social.

Uma das passagens mais intrigantes de Metrópole é sobre Uruk, a primeira grande cidade do mundo, fundada por volta de 5.000 a.C. Com sua arquitetura notável, destaca Wilson, o aglomerado na então Mesopotâmia, atual Iraque, foi responsável pelo primeiro sistema numérico, pelas “primeiras técnicas de produção em massa” e pela criação da "palavra escrita", batizada cuneiforme.

Com as civilizações grega e romana, as cidades adquiriram um ar ainda mais civilizado. Em Roma foram inventados os banhos termais, um espaço não só de higiene  como também de socialização, onde “era possível realizar múltiplas atividades, desde comer, fazer negócios, falar de política e ter relações sexuais”.

Bagdá também merece destaque. Fundada em 762, por Al Mansur, a cidade se tornou a capital intelectual e espiritual do mundo oriental. Segundo o autor, possuía o mais sofisticado e deslumbrante desenho urbano. “Um exército de 100.000 arquitetos, topógrafos e engenheiros participou de sua construção”, observa.

Fundada por volta de 5 mil a.C., na então Mesopotâmia, Uruk foi a primeira grande cidade do mundo (Foto: Divulgação)

A Europa, afirma Wilson, teve de esperar até ao início do século12 para assistir ao desenvolvimento de cidades que se beneficiaram das tragédias e da expansão para o leste, como a alemã Lübeck: “A urbanização no continente surgiu como resultado do espírito empreendedor dos seus habitantes, sem dúvida. Mas o seu dinamismo também veio de fontes menos positivas: a Peste Negra, as Cruzadas, guerras endêmicas e rivalidades mortais entre cidades".

No final do século 15, Lisboa tinha uma importância capital em todo o planeta. E era diferente de qualquer outra cidade europeia, lembra o historiador. Cerca de 15% da população era composta por escravizados africanos, além da comunidade muçulmana e a presença massiva de comerciantes judeus, holandeses e alemães.

Sem deslumbramento, Wilson pontua o tempo todo as fragilidades que fazem das metrópoles centros intensos de conflitos; alicerçadas, porém, sobre certa unidade de cidadania. Ao reforçar a ideia de que uma cidade é vulnerável, mas resistente na sua sobrevivência como unidade social, ele se apoia em forças do coletivo.

Entre as benesses e mazelas proporcionadas pelo centros urbanos, as cidades seguem como o espaço onde somos e existimos. E, como pontua Wilson, continuarão a crescer pelas mesmas razões pelas quais as pessoas vêm abandonando o campo nos últimos seis milênios: “a esperança de uma vida melhor, a força vital de qualquer metrópole”.

Capa do livro Metrópole -- A história das cidades, a maior invenção humana

Serviço:

Metrópole
A história das cidades, a maior invenção humana

Ben Wilson

Companhia das Letras

496 páginas

Impresso - R$ 149,90

Digital - R$ 49,90