Todos os anos, os serviços de alimentação fora do lar mandam para os aterros sanitários 250 milhões de toneladas de comida, o equivalente a 26% de tudo o que é desperdiçado globalmente, depois que o alimento sai da fazenda. Um prejuízo para a indústria global de foodservice de US$ 330 milhões anuais, sem contar os danos impostos ao planeta.
Dos restaurantes, bares, cafés às lanchonetes de fast-food; dos hotéis, catering para eventos e cantinas escolares aos ambulantes; a heterogeneidade do setor dificulta a quantificação das perdas e, consequentemente, a adoção de estratégias para enfrentar esse que é um dos maiores desafios rumo a sistemas agroalimentares mais sustentáveis, produtivos e inclusivos.
Como costuma dizer o engenheiro e empreendedor irlandês Mark Kirwan: “Você não pode gerenciar o que não é medido”. Vindo de empresas de impacto social, focadas no desperdício de alimentos, em 2020, ele fundou a Positive Carbon, com a bioquímica, amiga e antiga colega de trabalho Aisling Kirwan (sim, os dois têm o mesmo sobrenome).
Sediada em Dublin, a foodtech desenvolveu uma tecnologia capaz de indicar, em tempo real, o quê e em quais quantidades está sendo desperdiçado – não só isso, mas também quanto de dinheiro vai para o lixo com a comida posta fora.
Graças à inovação, a empresa acaba de levantar € 2,3 milhões. A rodada de investimento seed foi capitaneada pelo Fundo EIIS, da Business Venture Partners, e contou com a participação de Heartfelt Capital, Gateway Ventures e Enterprise Ireland. Com os novos cheques, o total financiado sobe para cerca de € 3 milhões.
O sistema da Positive Carbon está baseado em sensores aéreos LiDAR (sigla em inglês para “detecção e alcance de luz”). Criado nos anos 1960 e aperfeiçoado na década de 1990, quando passou a ser usada em larga escala, a tecnologia funciona como uma espécie de radar de altíssima precisão.
O LiDAR usa também ondas eletromagnéticas, mas, de luz – e não de rádio. O mapeamento a laser já está em diversas indústrias –aeroespacial, construção civil, agropecuária e telefones celulares, entre outras. Em um futuro próximo, a tecnologia promete ser os “olhos dos carros autônomos”.
Agora, Aisling e Mark levaram os sensores LiDAR para dentro das cozinhas. Com o formato de uma câmera de circuito interno, o aparelho é instalado no teto, sobre a área de descarte de resíduos. Lá do alto, o equipamento rastreia todo o alimento que vai para a lixeira. Imediatamente, um algoritmo avalia os dados captados e os converte em informações sobre o tipo de produto dispensado, sua quantidade e qualidade.
“Todos os dados coletados dos alimentos são exibidos em painéis de relatórios fáceis de usar, onde os funcionários podem ver exatamente quais alimentos estão desperdiçando”, diz Aisling. “A partir daí, os cozinheiros podem alterar as compras e a produção. Nosso objetivo é tornar o monitoramento do desperdício mais simples e acessível.”
A inteligência artificial da foodtech de Dublin consegue fazer a distinção entre ingredientes e restos de pratos prontos. Os cozinheiros podem receber sugestões do tipo: “Reduza a quantidade de lasanha em 25%”.
Além disso, o sistema indica, item por item, os prejuízos financeiros com os alimentos descartados e a economia com compras mais bem planejadas e com modos de cozinhar mais adequados. Há ainda dados das emissões de gás carbônico e do uso de água pelo estabelecimento. As informações podem ser acessadas via e-mail, mediante relatórios diários, mensais e anuais e/ou SMS, sob a forma de alertas instantâneos.
A Positive Carbono, lê-se em relatório da foodtech, possui cerca de 1,6 mil clientes na Europa. A maioria, restaurantes e hotéis, como a rede americana Radisson e a irlandesa Clayton. A partir da experiência nessas cozinhas, Mark e Aisling contabilizam: a startup conseguiu reduzir o índice de desperdício em 50%, salvando do fluxo de resíduos cerca de 4 mil toneladas de alimentos.