Nas fazendas verticais da Oishii, as frutas são cultivadas como se lapidam joias delicadas. A última “preciosidade” da agtech acaba de ser lançada nos Estados Unidos. The Rubī é um tomate cereja “de pele vermelha, brilhante e fina, envolvendo um miolo suculento e de doçura surpreendente”.
Disponível apenas em algumas lojas da rede de orgânicos The Whole Market, a caixa com onze bagas custa US$ 9,99. Quase US$ 1 por cada uma “daquelas coisinhas, cujo sabor vai fazer todos voltarem para mais, mordida após mordida”, lê-se no comunicado de apresentação do “rubi”.
Ao lançar a Oishii, em 2017, o CEO Hiroki Koga e o COO Brendan Somerville firmaram parceria em torno de um propósito comum: remodelar as práticas agrícolas, ao combinar as tecnologias de última geração com as práticas seculares da fruticultura japonesa.
Eles querem provar que, sim, é possível fazer diferente, tornar os sistemas agroalimentares mais sustentáveis, produtivos e resilientes às mudanças climáticas. E que o futuro pode, sim, ser nutritivo e saboroso. Aliás, oishii, em japonês, significa “delicioso”.
Antes do The Rubī, a Oishii levara para o mercado os morangos Omakase, em 2018, e os Koyo, no ano passado. Cada um em seu tempo, ambos viralizaram nas redes sociais.
Já com a primeira fruta, a agtech de Nova Jersey conseguiu fisgar pelo paladar alguns dos mais badalados cozinheiros da alta gastronomia americana.
O primeiro restaurante a trabalhar com os morangos Omakase foi o Chef’s Table at Brooklyn Fare, um três estrelas Michelin, de Nova York. Não à toa, omasake vem do verbo "confiar", que, no universo das cozinhas, se equipara a “eu confio em você” ou “deixo em suas mãos".
Quando apresentados ao mercado, os Koyo foram classificados como o "epítome do verão". Quem definiria um morango como “uma cápsula de doçura refrescante, acidez equilibrada, aroma perfumado e textura cremosa, levemente firme”? Não à toa, koyo se traduz por “exultante”.
Alimentos sofisticados sempre existiram. Caviar de esturjão-beluga, baunilha colhida de orquídeas, trufas brancas do Piemonte, queijo de alce sueco... mas a Oishii está redefinindo o conceito, ao elevar frutas prosaicas, como os morangos e tomates, à categoria ultrapremium.
Em fevereiro passado, por exemplo, quando se comemora o Dia dos Namorados nos Estados Unidos, o diário The Wall Street Journal incluiu os Omakase na lista de sugestões de presentes. Definidas como “tentadoras” e "as mais sofisticadas do mercado", onze bagas eram anunciadas por US$ 20.
Os morangos apareciam ao lado de headphones de couro da Bang & Olufsen (US$ 500), bolsa de camurça rosa da Ralph Lauren (US$ 1,35 mil) e brincos de diamantes e ouro da Karma El Khalil (US$ 6,4 mil).
As inovações da Oishii conquistaram também os venture capital. Desde a sua fundação, a empresa já levantou US$ 50 milhões, informa a plataforma Crunchbase. Entre os principais investidores, estão os japoneses Sony Innovation Fund, PKSHA Tecnology e Mirai Creation Fund e o americano Social Starts.
Alçar morangos e tomates à categoria de “joias comestíveis” só é possível graças aos avanços das tecnologias focadas na agricultura indoor. No ambiente controlado, a equipe de P&D da agtech consegue reproduzir à perfeição o clima no sopé dos Alpes japoneses –“chuva suave, calor ameno, luz quente e abelhas zumbindo”, descreve Koga em comunicado. “Replicamos os elementos de um dia perfeito no Japão.”
As lavouras em campo aberto estão sujeitas às mudanças de estação, intempéries, doenças e ataques de pragas. Nas três fazendas da Oishii (duas, em Nova Jersey, e uma, em Los Angeles), o “dia perfeito” é sempre.
Na agricultura de ambiente controlado, os produtores têm controle (quase total) sobre o ambiente. Da luz e sombra à agua da irrigação; dos teores de umidade às concentrações de gás carbônico. Com esse domínio, eles conseguem determinar o ritmo de desenvolvimento das plantas, o tempo de colheita, os aspectos físicos dos frutos, folhas e frutas, o valor nutricional e até o seu dulçor e amargor.
Um dos diferenciais da startup é seu sistema de polinização. A Oishii usa inteligência artificial (IA), analytics, internet das coisas (IoT) e reconhecimento visual para mecanizar a polinização. Em entrevista à plataforma AgFunder News, Koga não revela detalhes da tecnologia, mas diz que o sistema está quase atingindo 90% de sucesso com suas “abelhas 4.0”.
A ideia da criação da Oishii surgiu quando Koga deixou Tóquio, sua cidade natal, em 2015. Na época, ele foi para a Califórnia, fazer o MBA, na Universidade de Berkeley.
Não demorou muito para que o jovem começasse a sentir saudades das "frutas de casa". O então estudante ficou impressionando como os americanos priorizavam a quantidade em detrimento da qualidade.
No Japão, as frutas têm valor especial. Frequentemente são vistas como presente dos mais valiosos. Em um leilão, realizado em 2016, por exemplo, dois melões, colhidos na cidade de Yubari, no norte do país, foram vendidos por US$ 27 mil!
Algumas frutarias de Tóquio mais parecem joalherias. Para os japoneses, a fruticultura é uma arte. Uma tradição secular, passada de geração para geração. E é essa filosofia que Koga quer cultivar no Ocidente, como seus morangos e tomates de luxo.