Boas novas para o ecossistema de inovação egrocery. Depois de dois anos de dinheiro à mingua, 2024 chegou e trouxe € 355 milhões (US$ 389 milhões, aproximadamente) para a cesta da foodtech holandesa Picnic.
Liderado pela Bill and Melinda Gates Foundation e pela Edeka, a maior rede de supermercados da Alemanha, ao que tudo indica, o investimento significa uma retomada do interesse dos capitalistas de risco pelas empresas de venda de alimentos online.
Com os cheques de agora, o total arrecadado pela Picnic é de € 1,3 bilhão (US$ 1,42 bilhão), informa a plataforma Crunchbase. Nada mal para uma empresa fundada em 2015. Sediada na cidade de Amersfoot, a 40 minutos de Amsterdã, a Picnic se tornou o supermercado online de crescimento mais rápido da Europa.
Nos últimos três anos, o número de funcionários da empresa criada por Bas Verheijen, Frederik Nieuwenhuys, Joris Beckers e Michiel Muller saltou de dez para 200. De um punhado de clientes nos arredores da capital holandesa, agora eles têm condições de atender 80% os residentes do país.
Além disso, em 2018, os empreendedores levaram as operações para a Alemanha e, em 2021, para a França. Ao todo, a startup está em pouco mais de 200 cidades. O novo dinheiro será usado para expandir ainda mais o alcance da Picnic.
O sucesso da foodtech está estruturado em três pontos básicos – tecnologia, sustentabilidade e foco, quase obsessivo, no cliente. A ferramenta desenvolvida pela equipe de P&D permite a gestão de toda a cadeia de abastecimento, com muita precisão. Da previsão de quanto e quando os alimentos devem ser adquiridos e despachados à logística urbana.
Com esses dados, as entregas, sempre gratuitas, são certeiras e levam a menos quilômetros percorridos. Dessa forma, a empresa consegue comercializar produtos mais frescos e baratos do que os supermercado tradicionais.
O que, no fundo, acaba por evitar o desperdício de alimentos – um dos maiores desafios dos sistemas agroalimentares rumo a um futuro sustentável, mais produtivo e inclusivo e resilientes às mudanças climáticas.
“Perturbar o status quo”
A frota de veículos da Picnic é 100% elétrica e os centros de distribuições são alimentados por energia solar. As iniciativas nos campo da sustentabilidade vão além. A startup está o tempo todo reavaliando, por exemplo, quais as embalagens são imprescindíveis na entrega dos alimentos.
“Veja o que acontece com a caixa de sucrilhos: a embalagem é enorme, porque deve ser transportada com segurança e chamar atenção na gôndola do supermercado. Ao fim e ao cabo, metade do que as pessoas compram é ar”, diz o CTO Daniel Gebler, à revista holandesa Distrifood, especializada em varejo alimentar.
“Se a coleta acontecer no armazém, é possível dispensar essa embalagem e, assim, tornar a entrega mais eficiente, sustentável e barata para o cliente.”
Tem mais. Todas as semanas, as equipes responsáveis pelo atendimento ao cliente, compostas por funcionários com experiência em hotelaria, fazem reuniões com grupos de consumidores para azeitar as operações.
Como se lê no site da foodtech, “sempre há espaço para projetar soluções exclusivas e perturbar o status quo”.
Em ritmo acelerado de expansão
A Picnic atua em um mercado em franca expansão, no mundo todo. Avaliado em US$ 50,28 bilhões, em 2022, até 2030, o egrocery deve evoluir a uma taxa de crescimento anual composta de quase 27%, informa a consultoria Grand View Research.
Um ritmo muito mais acelerado do que os 3% previstos para o setor de varejo de alimentos e mercearias, em geral –que, obviamente, movimenta mais dinheiro, US$ 11,32 trilhões globais.
O setor de supermercados online ganhou força com a pandemia do novo coronavírus. ‘Os avanços tecnológicos, a urbanização contínua e a mudança de paradigma nos hábitos de compra dos consumidores impulsionam a preferência pelas compras através de canais online”, lê-se no relatório. “Modelos de negócios inovadores, como entrega expressa e sistemas de entrega sob demanda ou por assinatura também estão incentivando os consumidores a optar por compras on-line.”
Menos US$ 13,9 bilhões
Apesar do potencial, os investimentos nas startups de egrocery caíram drasticamente nos dois últimos anos. Os dados mais recentes indicam um declínio, em 2022, de 73% nos aportes, lê-se em Global AgriFoodTech Investment Report 2023, elaborado pelo AgFunder, fundo americano dedicado às inovações agroalimentares.
É muita coisa. Sobretudo quando se leva em conta que, no mesmo período, o financiamento mundial em tecnologia agroalimentar caiu 44%, chegando a US$ 29,6 bilhões.,
Apesar da queda, o segmento segue como mais valioso do ecossistema global de inovação agrifoodtech. Em 2022, atraiu US$ 5,1 bilhões, o equivalente a 17% do total investido nas empresas de tecnologia alimentar, mostra o levantamento. Em um ano, as startups de venda de alimentos online perderam “impressionantes” US$ 13,9 bilhões.
Mas, os € 355 milhões, arrecadados pela Picnic, acenam com a promessa de um futuro de aportes mais generosos.