A Azul anunciou no domingo, dia 1º de outubro, a conclusão do processo de reestruturação de suas obrigações com parte de seus arrendadores de aeronaves e fabricantes de equipamentos. E como parte dos acordos firmados, a companhia emitiu US$ 370,5 milhões em títulos de dívida e vai emitir até US$ 570 milhões em ações preferenciais.

Segundo o fato relevante divulgado pela empresa, a emissão de títulos de dívida sem garantia, com vencimento em 2030 e cupom de 7,5%, é uma contrapartida a determinados pagamentos e outras obrigações devidas pela companhia aos arrendadores e fabricantes.

No caso da emissão de ações, arrendadores e fabricantes concordaram em receber até US$ 570 milhões em ações preferenciais a um valor de R$ 36 a unidade. A emissão das ações será feita em parcelas trimestrais, com início no terceiro trimestre de 2024 e conclusão prevista para o quarto trimestre de 2027.

Segundo o comunicado, se o preço das ações estiver abaixo de R$ 36,00 ao longo deste período, a Azul poderá compensar a diferença através da emissão de ações preferenciais adicionais, por meio de liquidação em dinheiro ou através da emissão de novos instrumentos de dívida.

Caso o preço de negociação das ações preferenciais da Azul for superior a determinados limites não especificados no comunicado, o número de ações será limitado a esses limites. Com isto, a diluição será menor.

As operações fazem parte de um plano estruturado pela Azul para fortalecer sua geração de caixa e melhorar a estrutura de capital, duramente afetadas pela pandemia. A Azul fechou o segundo trimestre com uma dívida bruta de R$ 20,6 bilhões, redução de 5% em relação ao primeiro trimestre. O prazo médio de vencimento da dívida da Azul, excluindo obrigações de leasing e debêntures conversíveis, era de dois anos, com uma taxa de juros média de 9,8%.

A companhia anunciou em março que firmou um acordo com um grupo de arrendadores de aeronaves, que representam mais de 90% do seu passivo de arrendamento.

O acordo com os arrendadores contempla temas como a eliminação das obrigações de pagamento de arrendamento que haviam sido anteriormente diferidas durante a pandemia e a redução permanente nos pagamentos contratuais de arrendamento para novas taxas.

Ele prevê ainda o diferimento de determinados pagamentos a arrendadores e fabricantes, bem como obrigações contratuais com fornecedores e outras concessões. Isso inclui reduções nas obrigações de final de contrato de arrendamento e condições de devolução de aeronaves, eliminação de pagamentos de reservas de manutenção futuras e rescisão antecipada de determinados arrendamentos de aeronaves.

Segundo a Azul, a reestruturação vai reduzir os passivos de arrendamento, com a redução dos pagamentos de arrendamento futuros, em mais de R$1 bilhão por ano. Para 2023, o valor de amortização de leasing, incluindo entregas futuras, passa de R$ 4,2 bilhões a R$ 2,9 bilhões. Em 2024, o valor recua de R$ 4 bilhões para R$ 3 bilhões.

Além do acordo com os arrendadores, a empresa realizou ofertas de troca de dívidas seniores, com alongamento de prazos, negociou extensão de prazo com detentores de debêntures conversíveis e concluiu com sucesso uma oferta privada de títulos de dívida sênior com garantia prioritária no valor de US$ 800 milhões.

Segundo a companhia informou no balanço do segundo trimestre, com a conclusão do plano de otimização da estrutura de capital, não há vencimentos significativos pelos próximos cinco anos.

O acordo com as empresas de arrendamento de aeronaves e detentores de bonds é considerado por analistas que acompanham a companhia um ponto importante para a tese de investimento da Azul. Com o tema encaminhado, o sentimento em relação à empresa voltou a ser positivo, em meio à retomada do mercado aéreo, conforme apontou o Goldman Sachs na semana passada, quando elevou a recomendação para as ações de neutro para compra.

Ele também vem num momento em que companhias de diversos setores vêm reestruturando seu passivo para lidar com os efeitos dos juros altos e as consequências financeiras do período pós-pandemia. Uma das companhias que foi por esse caminho foi a Oi, que tomou um empréstimo de US$ 300 milhões junto ao BTG Pactual para pagar credores antigos.

As ações da Azul fecharam o pregão de sexta-feira, dia 29 de setembro, com alta de 2,84%, a R$ 14,48. No ano, elas acumulam alta de 31,5%, levando o valor de mercado a R$ 5 bilhões.