No momento em que o País vê a chegada de novas plataformas de e-commerce, como o TikTok Shop, e a consolidação de outras, como o Shopee, o Mercado Livre decidiu reagir, reduzindo o valor mínimo para compradores terem frete grátis e cortando os custos de logística para os vendedores.

A plataforma de e-commerce anunciou nesta sexta-feira, 5 de junho, que compras a partir de R$ 19 podem ter frete grátis em todo o País. É o menor patamar oferecido na história da companhia no Brasil – antes, o valor mínimo para se obter o benefício era de R$ 79. Itens de supermercado e compras cross border não estão incluídos neste movimento.

Ao mesmo tempo, o Mercado Livre informou ter reduzido em 40% os custos logísticos aos vendedores. A medida começou a ser aplicada em maio e prevê o corte nos custos de envio para produtos entre R$ 79 e R$ 199,99, com até 30 quilos. Para quem começou a vender na plataforma em 26 de maio, a empresa também diminuiu em 17% o custo de envio.

Segundo Fernando Yunes, vice-presidente sênior e líder do Mercado Livre no Brasil, as medidas foram tomadas principalmente para aumentar a recorrência dos compradores na plataforma e trazer novos clientes, facilitando a compra de itens mais baratos, que normalmente não avançavam porque o valor não era suficiente para acionar o frete grátis.

Ao mesmo tempo, as iniciativas devem trazer novos vendedores para a plataforma, atraídos pelos menores custos e pela perspectiva de aumento das vendas, oferecendo preços competitivos para os consumidores.

“Os compradores vão encontrar melhores preços e mais frete grátis e os vendedores vão vender mais, porque esperamos uma aceleração bem grande nas vendas do Mercado Livre com essa decisão combinada, de frete grátis e redução de custos aos vendedores”, disse Yunes em entrevista coletiva, na quinta-feira à noite, 5 de junho.

As medidas vêm acompanhadas de uma forte campanha publicitária. O Mercado Livre contratou Ronaldo Fenômeno e Neymar como garotos-propaganda e está investindo mais de R$ 24 milhões em cupons de desconto na plataforma. “A campanha que começa amanhã [hoje] terá mais investimento do que a Black Friday de 2024”, disse Yunes.

As iniciativas visam também a manter o Mercado Livre crescendo numa taxa “super atrativa”. Segundo Yunes, considerando o tamanho que a empresa alcançou, manter o crescimento em ritmo forte é um desafio. “Acelerar a migração do offline para o online é parte agora da estratégia”, disse Yunes.

O frete grátis tem sido uma tática do Mercado Livre para crescer e atrair consumidores, uma estratégia com resultados no longo prazo. Desde que implementou a medida, em 2017, para compras a partir de R$ 120, o market share veio crescendo.

Dados divulgados pela companhia mostram que, entre 2017 e 2025, o Mercado Livre aumentou em 20 pontos percentuais sua participação de mercado. Yunes não quis falar qual o market share estimado pela empresa, mas citou que pesquisas de mercado apontam que a participação da empresa gira entre 39% e 43%.

“Vemos que muita gente não compra online e o frete é uma barreira para a compra online”, afirmou Yunes. “Então, ao praticamente zerarmos o frete, nós estimulamos mais compradores e mais frequência, para que o mercado siga crescendo mais rápido.”

Crescer e não perder espaço são pontos cruciais diante da concorrência que vem se estabelecendo no e-commerce brasileiro, com cada vez mais players globais chegando ao País. Quem recentemente estreou foi o TikTok Shop, plataforma de comércio eletrônico da rede social fenômeno, conforme revelado com exclusividade pelo NeoFeed.

Em relatório na semana passado, quando o Mercado Livre já havia feito alteração em sua política de frente, o Itaú BBA classificou a medida como uma resposta direta à intensificação da concorrência.

“Mais do que os impactos nos lucros e perdas, vemos isso como outro sinal de intensificação da concorrência no Brasil. O aumento do desconto no frete tem como alvo uma faixa de preço de produtos próxima à qual a Shopee parece estar ganhando força”, informa o relatório do Itaú BBA.

O Itaú BBA destaca que o Mercado Livre é historicamente atento aos movimentos do setor e considera a medida “calculada e correta” para reforçar sua posição competitiva.

Sobre a nova concorrência, Yunes disse que os anúncios do Mercado Livre não são uma resposta a qualquer movimento da concorrência. “É um movimento nosso, para seguir ganhando competitividade e acelerar o ganho de market share, estimulando o crescimento do mercado”, afirmou.

Em relação aos custos, Yunes disse que a companhia é quem vai assumir os impactos financeiros da decisão, vista pela companhia como uma medida de longo prazo.

Mas ele afirmou que muitos clientes começam com compras de valores mais baixos e vão subindo de categoria, virando um cliente que gera valor para a empresa. “Esperamos ter ganhos no ecossistema como um todo”, disse.

Em abril deste ano, o Mercado Livre anunciou um plano de investimento de R$ 34 bilhões para o Brasil a ser aplicado em 2025. O montante representa um crescimento de 47,8% sobre o volume de recursos injetado na operação em 2023 e traduz o maior aporte já realizado pela empresa no mercado local.

A cifra, segundo a companhia, será aplicada em frentes como logística, tecnologia para e-commerce e serviços financeiros, programas de loyalty e entretenimento, além de ações de marketing.