Na disputa pelo título de maior banco digital da América Latina, o Mercado Livre não quer perder espaço na Argentina, seu mercado mais valioso.
A empresa anunciou na quarta-feira, 28 de maio, que o Mercado Pago solicitará uma licença bancária do Banco Central da Argentina para aprimorar suas ofertas de serviços. Segundo a empresa, a licença permitirá ampliar a oferta de produtos para o mercado argentino, como contas correntes e de poupança, cartões de débito e crédito, operações de câmbio e custódia de ativos.
Para analistas, o pedido se encaixa na estratégia que o Mercado Livre está implementando no Brasil e no México, mas destacam que a obtenção da licença bancária na Argentina terá um efeito significativo para os resultados financeiros.
País de origem da plataforma de e-commerce, a Argentina é o maior e mais rentável mercado da empresa, dominando o e-commerce e a parte financeira. Os analistas do Itaú BBA afirmam que a margem de contribuição do país fica na casa dos 40%, enquanto no Brasil e no México é de cerca de 20% e 18%, respectivamente.
O país também respondeu por cerca de 30% da receita do Mercado Pago nos últimos 12 meses, segundo os analistas do Goldman Sachs. Eles estimam que o mercado argentino também responda por 15% do portfólio de crédito, considerando que a empresa não divulga os dados por geografia. Já o Citi destaca que o Mercado Pago também é a carteira digital mais popular do país, com 90% de share neste mercado.
Os analistas do Itaú BBA afirmam que a licença bancária representa um “hedge estratégico” para o Mercado Livre. Ao permitir acesso a fundos com custos mais baixos e ampliar o portfólio de produtos, a empresa reforça a possibilidade de continuar tendo margem líquida de juros após perdas de 50%, mais do que o dobro da média consolidada.
“Com a solicitação de uma licença bancária plena, o Mercado Livre parte para aprofundar sua integração no ecossistema financeiro argentino”, diz trecho do relatório do Itaú BBA. “Vemos este anúncio não como um marco por si só, mas como o próximo capítulo de uma história de geração de valor que está começando a ser precificada.”
Perder espaço na Argentina seria ruim no momento em que nomes como Nubank e Revolut buscam crescer na região. O banco digital fundado por David Vélez recebeu, em abril, a aprovação regulatória para ter a licença de banco múltiplo no México e quer crescer em outros países. Maior startup da Europa, a Revolut está investindo pesado no Brasil, reforçando sua oferta de produtos.
A licença bancária é o mais recente passo do Mercado Livre na parte financeira na Argentina. Antes, a empresa anunciou o lançamento de cartão de crédito no país, que não necessita deste tipo de autorização. Embora a data exata do lançamento não tenha sido revelada, com as apostas sendo de que ocorrerá no segundo semestre, os analistas do Goldman Sachs dizem que as perspectivas da empresa os deixam otimistas com os upsides do produto.
“A administração observou que os elevados níveis de principado e ubiquidade do Mercado Pago na Argentina, combinados com a demanda reprimida por crédito, poderiam sustentar o desempenho para determinados níveis de risco e resultar em spreads ajustados ao risco favoráveis”, diz trecho do relatório.
Para o Citi, o Mercado Livre tem a oportunidade de se consolidar na parte de cartões de crédito, considerando que o meio é responsável por cerca de 2,5% do crédito na Argentina, mesmo sendo bastante utilizado pelos usuários. “Para o Mercado Pago, acreditamos que a maior oportunidade de curto prazo é cartão de crédito”, diz trecho do relatório.
Todos esses desenvolvimentos e suas perspectivas vêm num momento muito positivo do Mercado Livre na Argentina. O país foi o responsável para que a empresa abrisse o ano com um resultado robusto, com alta de 44% do lucro líquido no primeiro trimestre, em base anual, para US$ 494 milhões. A receita no país cresceu 125% no mesmo período, com a margem de contribuição atingindo o patamar recorde de 47%.
“No curto prazo, o bom desempenho da Argentina adiciona um upside aos resultados num momento em que o Brasil e o México apresentam questões para a margem por conta de investimentos em logística e crédito”, diz trecho do relatório do Itaú BBA.
Por volta de 12h10, as ações do Mercado Livre caíam 0,26% na Nasdaq, a US$ 2.544,10. No ano, os papéis acumulam alta de 44,1%, levando o valor de mercado a US$ 128,5 bilhões.