Criado em 2016 pela Unilever, o Compra Agora se estabeleceu como uma das principais plataformas B2B voltadas para mercadinhos do Brasil. Percebendo que muitos desses varejistas recebiam visitas esporádicas dos distribuidores, a Unilever desenvolveu um marketplace para otimizar os pedidos, garantindo que os intermediários da cadeia atendessem às demandas desse público, cujos tíquetes e retornos são mais baixos.

Com seis anos de vida, a proposta do Compra Agora ganhou aderência, a ponto de ganhar vida própria e deixar de estar sob o guarda-chuva da Unilever. Como empresa autônoma desde junho de 2020, ele passou a oferecer produtos de outras empresas, como Kimberly-Clark e Reckitt Benckiser, para uma base de quase 450 mil pequenos varejistas, dos quais 70 mil abastecem seus comércios via a plataforma todo o mês. Somente no ano passado, a plataforma realizou um total de R$ 4 bilhões em vendas. 

Diante deste desempenho, o Compra Agora parte agora para fora do País. O marketplace já está na Argentina desde o início deste ano. Em 2023, vai chegar ao México. O Chile é a próxima parada. E há planos para Uruguai, Equador e Paraguai.

“O canal de distribuição das indústrias na América Latina é muito forte porque o pequeno varejo é muito grande na região, diferente da Europa e Estados Unidos”, diz Thaise Hagge, diretora-geral do Compra Agora para a América Latina ao NeoFeed. “E as indústrias têm um formato muito similar de distribuição para chegar no pequeno varejista na América Latina.”

A primeira parada do plano de internacionalização do Compra Agora no continente foi na Argentina, onde inaugurou suas operações no começo deste ano. Sem abrir números de faturamento e vendas realizadas até o momento, Hagge diz que a plataforma já conta 15 mil lojistas plugados, que compram todos os meses, e seis empresas parceiras. 

Além da Unilever, que é a acionista majoritária do Compra Agora e quem ajuda a abrir portas nos países da região, o marketplace oferece na Argentina produtos da Kimberly-Clark, além de nomes locais, como a Molinos Tres Arroyos, que produz massas. 

Segundo Hagge, a escolha da Argentina como primeiro destino ocorreu por pedido das empresas para as quais o Compra Agora já prestava serviços no Brasil, por elas terem participação relevante no mercado argentino. Esta situação, inclusive, suplantou os receios quanto à crise econômica que o país atravessa, com a inflação acumulando alta de 56,4% até agosto. 

“O market share dessas empresas nos permitiu começar a operar já com um marketplace de relevância”, afirma. “A economia é um desafio, com inflação galopante, mas não alterou os planos, foi muito mais uma questão de como se adaptar.”

O próximo destino do Compra Agora na América Latina é o México, com as operações previstas para iniciar em janeiro de 2023. Hagge demonstra muito otimismo com as possibilidades que o mercado mexicano oferece, pelo fato de ser um país em que o modelo de mercado de vizinhança é “gigantesco”. 

Segundo ela, existem cerca de 900 mil pequenos comércios no México, os chamados changarros. São lojas muito menores do que no Brasil, que contam com um a nove caixas, mas que tem um peso forte na economia mexicana. “Normalmente, os changarros são informais, operam nas garagens das casas, mas são superrelevantes”, diz. 

Depois de estabelecer operações no México, Hagge afirma que o Compra Agora pretende ir para o Chile, onde iniciou conversas com indústrias locais e com distribuidores. Mais adiante, a ideia é levar a plataforma para Uruguai, Equador e Paraguai, mas ainda não foram iniciados movimentos neste sentido.  

A expectativa é de que as operações internacionais demorem um tempo para maturar. O Compra Agora não está contando com os resultados da Argentina para cumprir com a meta estabelecida para 2022, de alcançar um montante de R$ 5 bilhões em vendas realizadas. 

No Brasil, o Compra Agora conta com 47 indústrias e 100 distribuidores plugados à plataforma. Além de buscar ajudar o pequeno comércio a abastecer suas gôndolas de maneira mais eficiente, com uso de dados para identificar perfil de consumo e realizar sugestões adequadas e promoções, também oferece serviço de crédito para que o varejista possa fazer compras de reposição e programas de fidelidade.

A plataforma é uma das iniciativas produzidas pela indústria de alimentos e bens de consumo para solucionar questões com distribuição de produtos e melhoria de serviços para lojas de tamanho menor, segmento econômico que registrou forte crescimento nos últimos anos. 

Em 2021, o número de mercadinhos abertos no Brasil cresceu 13,6% em relação ao ano anterior, segundo dados do Sebare. São cerca de 400 mil estabelecimentos do gênero funcionando, com os Microempreendedores Individuais (MEIs) sendo a maioria desses empreendimentos. 

A fim de atender melhor o pequeno varejo, a Ambev lançou em 2021 a plataforma Bees, um marketplace voltado para atender bares e restaurantes, além de contar com serviços financeiros, um deles liberando crédito para os pontos de venda, e uma parceria com o Pão de Açúcar para aumentar o sortimento de produtos. 

Um serviço que não nasceu na indústria, mas que se propõe a conectar pequenos varejistas com as empresas é a Souk. A plataforma nasceu da experiência da Seara Alimentos, da JBS, de escoar produtos prestes a vencer. 

“Esse segmento é muito fragmentado e pulverizado, então o atendimento desse universo de minimercados, mercados de bairro, a maioria deles independentes, é bastante complexo dentro de um território vasto, regionalizado e com as limitações de infraestrutura como o Brasil”, diz Alberto Serrentino, sócio-fundador da consultoria Varese Retail.