Durante muitos anos, as operadoras de telecomunicações cultivaram o receio de ficarem restritas à simples conexão entre os usuários e os serviços digitais como Netflix e afins, sem que tivessem acesso a receitas adicionais nesse novo cenário. Esse possível papel de coadjuvante tinha, inclusive, um termo no mercado: “dumb pipes” ou, na tradução, “tubos burros”.
As teles não mediram esforços nos últimos anos para evitar que esse script fosse encenado. Uma das protagonistas desse processo, a Telefônica Vivo tem construído novas ofertas, que complementam e reforçam o seu negócio principal.
“Vamos seguir combinando dados e um portfólio completo de serviços digitais”, disse Christian Gebara, CEO da Telefônica Vivo, em conferência com analistas nesta quarta-feira, 24 de fevereiro. “Temos a crença que podemos levar essas ofertas usando a capilaridade e as capacidades de big data, e a força da nossa marca.”
Fruto de um projeto-piloto realizado entre agosto de 2019 e abril de 2020, e lançada em outubro do ano passado, uma das iniciativas recentes é o Vivo Money, serviço 100% digital de contratação de empréstimos, na faixa de R$ 1 mil a R$ 30 mil. As taxas de juros partem de 1,99% ao mês e os prazos variam de seis a 24 meses.
Segundo a operadora, desde o seu lançamento, a plataforma cresceu em 2,5 vezes o número de contratos e em 2,4 vezes a originação de crédito. “Nós começamos com clientes segmentados, de planos pós e híbridos, e estamos sendo cautelosos nesse momento”, afirmou Gebara.
“Não fizemos uma campanha maciça, mas estamos aprendendo e abrindo, aos poucos, a oferta, à medida que trazemos mais parceiros”, acrescentou o executivo sobre a plataforma, financiada, inicialmente, por meio de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FDIC).
Apesar dos passos cuidadosos, Gebara projetou um portfólio mais amplo no segmento. “Vamos falar mais de serviços financeiros no futuro. Esse é só um pedaço da nossa estratégia”, disse, acrescentando que enxerga oportunidades em áreas como carteiras digitais, partindo de processos como as recargas dos clientes.
Outro projeto recente é a Loja Vivo, marketplace lançado no fim de julho, que combina ofertas próprias de serviços da empresa com produtos de parceiros como Samsung, Electrolucx e LG, em categorias como smartphones, TV e áudio, eletrodomésticos, e dispositivos para casas conectadas.
Apesar de não revelar as cifras, a Telefônica Vivo informou que o GMV do canal cresceu 6,7 vezes desde o lançamento. “Estamos trabalhando em diversas outras frente de serviços digitais e em muitos setores, entre eles, saúde e educação.”
À parte desses projetos, a empresa destacou os avanços e as metas para um de seus principais focos, a expansão das ofertas de serviços de fibra, ou FTTH (Fiber to the Home, na sigla em inglês).
Nesse plano, a Telefônica anunciou que tem negociações avançadas com um grande investidor financeiro internacional para a construção e oferta de rede de fibra ótica neutra e independente para atacado.
Segundo o fato relevante, a nova empresa deverá contar ainda com a participação da Telefônica Infra, unidade de infraestrutura do grupo e terá como objetivo a aceleração da expansão da rede de fibra para novas localidades, por meio de um modelo de menor investimento para a tele.
“Vamos contribuir com uma base de 1,6 milhão de domicílios já cobertos com FTTH para essa rede neutra”, observou Gebara. “O objetivo é chegar a 2024 com mais de 5,5 milhões de domicílios nessa rede, que vão contribuir com nossa meta total de cobrir 24 milhões de lares no período.”
Em 2020, a Telefônica Vivo adicionou 4,7 milhões de domicílios a essa base, encerrando o ano com um potencial total de 15,7 milhões de lares com o serviço disponível para contratação. Hoje, 3,37 milhões de clientes já contratam essas ofertas, contra 2,47 milhões no fim de 2019.
No quarto trimestre do ano passado, os serviços de FTTH geraram uma receita de R$ 896 milhões, 52,9% superior na comparação anual. A empresa encerrou 2020 com uma cobertura total de 266 cidades nessa modalidade.
Entre outubro e dezembro, o lucro líquido da operadora foi de R$ 1,29 bilhão, um crescimento de 1,5% sobre igual período de 2019. No ano, a última linha do balanço ficou em R$ 4,77 bilhões, um recuo de 4,6%.
Já a receita operacional líquida foi de R$ 11,1 bilhões no quarto trimestre, queda de 1,6% na comparação anual. No balanço consolidado do ano, o indicador recuou 2,6%, para R$ 43,1 bilhões.
As ações da Telefônica Vivo estavam sendo negociadas a R$ 44,33, queda de 1,73%, por volta do meio-dia. Os papéis da empresa, avaliada em R$ 74,8 bilhões, acumulam queda próxima de 3% em 2021. No ano passado, o recuo na cotação foi de 19,8%.