No fim do ano passado, o fundador da gigante de moda chinesa Shein , Chris Xu (que também é conhecido como Yangtian Xu), esteve no Brasil para se encontrar com alguns dos principais fornecedores de roupas do varejo de moda brasileiro, conforme revelou com exclusividade o NeoFeed.
Na ocasião, o objetivo do empreendedor era conhecer melhor o mercado brasileiro, entender as questões tributárias e estudar um modelo para começar a operar no Brasil, país na qual já fatura mais de R$ 2 bilhões.
Cinco meses depois dessa visita, a Shein, que produz roupas baratas no modelo fast-fashion, já bateu o martelo. A companhia acaba de contratar Felipe Feistler para ser o gerente-geral da operação brasileira. Feistler estava na Shopee, onde era responsável pelo comércio eletrônico na América Latina.
O executivo já tem feito reuniões e se apresentado como o responsável pela operação brasileira da Shein, segundo apurou o NeoFeed, que não conseguiu contato com Feistler para comentar os planos para o Brasil.
Além de Feistler, a Shein trouxe também para a operação local Fabiana Merlino Magalhães, que será a head da categoria de moda. Ela estava no Aliexpress, onde ficou apenas sete meses. Antes, trabalhou por mais de nove anos no comércio eletrônico Dafiti.
No LinkendIn, é possível ainda encontrar pelo menos 14 vagas abertas para trabalhar na operação brasileira, localizada em São Paulo. A Shein está recrutando para diversas áreas, desde recursos humanos e tributação, passando por comunicação e logística. Até um intérprete de mandarim, português e inglês está na lista de profissionais que estão sendo requisitados pela gigante de moda chinesa.
A razão do intérprete é simples. Um grupo de chineses está lado a lado dos executivos brasileiros que estão sendo contratados para definir como será o modelo de operação do subsidiária brasileira.
O mais provável é operar no Brasil através de parcerias com fabricantes de roupas para que as peças possam ser produzidas localmente, reduzindo o prazo de entrega. Atualmente, a Shein conta com um site em português, mas traz suas peças da China, o que pode aumentar muito o tempo de entrega, que pode chegar a 30 dias.
“Esse é um movimento de amadurecimento do negócio”, diz uma fonte do setor de moda. “Primeiro, ela penetra o mercado via cross-border, entende o perfil de consumo, constrói uma base de clientes e, gradualmente, vai criando uma estrutura local e passando a operar com mais proximidade.”
Essa movimentação da Shein, no entanto, acontece na esteira de uma potencial medida provisória para aumentar a taxação de produtos vendidos em plataformas cross-border, como Shopee, Shein, AliExpress e Wish.
“Caso ela avance, nós vemos as varejistas de moda como as mais beneficiadas, uma vez que o modelo de negócios da Shein é essencialmente baseado em importações com a competitividade de preço como um diferencial importante, enquanto acreditamos que o Shopee provavelmente aceleraria operações locais (que hoje já ultrapassam de 85% do GMV)”, diz um relatório da XP, sobre o tema.
Hoje, o limite liberado para importação cross-border é de US$ 50, o que faz com que muitos compradores façam dezenas de compras picadas para escapar da fiscalização. A medida em estudo pelo governo brasileiro é tributar toda compra em 60%, independentemente do limite do preço.
Há também uma pressão de diversos varejistas, na figura do IDV, que representa mais de 70 empresas, como Americanas, Riachuelo, Renner, Marisa, Magazine Luiza e Casas Bahia, para que a fiscalização seja aumentada. O IDV estima que apenas 5% das remessas foram fiscalizadas pela aduana em 2020 e que 7% das remessas são efetivamente declaradas.
Ganhando terreno no Brasil
Mesmo sem uma operação local, a Shein vem ganhando tração no mercado brasileiro. Em 2021, o aplicativo da varejista chinesa foi o mais baixado do setor de modas, com 23,8 milhões de downloads, de acordo com relatório do Goldman Sachs, com base em dados da consultoria Sensor Tower.
O desempenho foi três vezes superior ao do segundo colocado na categoria, a Lojas Renner. A Shein esteve à frente também de C&A, Marisa e Arezzo. “Vemos a Shein como uma força crescente no setor de varejo de vestuário brasileiro”, escrevam os analistas do BTG Pactual, Luiz Guanais, Gabriel Disselli e Victor Rogatis, em um relatório.
Mas não é só no Brasil que a Shein tem crescido. Globalmente, estima-se que ela faturou quase US$ 16 bilhões em 2021. Em abril, em uma rodada de investimento de mais de US$ 1 bilhão, que teve a participação do Tiger Global, General Atlantic e Sequoia, foi avaliada em US$ 100 bilhões, mais do que a Indetex, dona da Zara.
Ao mesmo tempo que cresce, aumentam as polêmicas que cercam a empresa chinesa, fundada em 2008 por Xu e que começou a evoluir a partir de 2015, quando conquistou os consumidores de 12 anos a 27 anos, a chamada geração Z.
Em abril deste ano, a Shein foi acusada de plagiar peças da Zara – empresa que também, no passado, se envolveu em polêmicas parecidas por conta de ser acusada de copiar peças de estilistas famosos.
Não é a primeira vez que a Shein convive com acusações de que produz peças que são cópias de diversas marcas. Em sua trajetória, a varejista já esteve envolvida com polêmicas que envolvem plágio de roupas desde pequenos fornecedores até de fabricantes maiores, como americana Levi’s.
A empresa chinesa é acusada também de contratar serviço de fornecedores que mantêm trabalhadores em instalações sem condições adequadas de saúde e segurança, com jornadas de trabalho de 11 horas por dia e pagamento por peça produzida.
Esse cenário descrito, em novembro do ano passado, em um relatório da ONG Public Eye, que registrou depoimentos de trabalhadores terceirizados da Shein na Vila de Nancun, onde existem diversos fornecedores da empresa. Após o relatório, a Shein informou que abriria investigações para apurar as denúncias.