A CI&T registrou lucro líquido de US$ 8,9 milhões no terceiro trimestre de 2025, equivalente a US$ 0,07 por ação. O resultado representa um avanço de 72% em relação aos US$ 5,2 milhões do mesmo período do ano passado. A receita somou US$ 127,3 milhões, 13,4% a mais na comparação anual.

Os resultados ficaram em linha com as expectativas de mercado. A previsão era de lucro por ação (EPS) de US$ 0,08, segundo o consenso da americana Zacks Research, e receita de US$ 124,8 milhões. No período, o Ebitda ajustado da companhia cresceu 7,5%, para US$ 23,5 milhões.

Apesar do crescimento, a companhia teve queda de margem: o Ebitda ajustado recuou de 19,5% para 18,5%, enquanto a margem de lucro líquido caiu de 9,1% para 8,9% na comparação anual.

“Estamos priorizando o crescimento. Então, não estamos otimizando meio pontinho [de margem] pra cá, meio pontinho pra lá”, diz Cesar Gon, CEO e fundador da CI&T. “Temos uma rentabilidade sólida, uma geração de caixa absurda. E vamos manter isso. Nossa otimização é mercado, crescimento, vendas. E eu acho que é isso que o mercado espera da gente.”

O avanço reflete, segundo Gon, o impacto das iniciativas da empresa em inteligência artificial. Desde o início de 2023, a CI&T vem reposicionando o negócio em torno da plataforma proprietária Flow, um sistema de gestão de IA que permite o uso de modelos como OpenAI, Gemini e Anthropic de forma segura e mensurável para as empresas.

Hoje, cerca de 90% dos 8 mil colaboradores da companhia utilizam a ferramenta diariamente, e o número de agentes criados dentro da plataforma já passa de 5 mil. “Fomos muito rápidos no início de 2023, quando começou o segundo capítulo da disrupção digital, com o GPT-3.5. Percebemos que teríamos que nos reinventar, porque o nosso cliente ia passar por isso na sequência.”

Na avaliação de Gon, já não é possível falar em transformação digital, core business da empresa, sem inteligência artificial. O executivo afirma que a integração do Flow aos projetos de digitalização marcou uma virada estrutural na companhia e nos resultados entregues aos clientes. “Fazer transformação digital sem IA é fazer rádio na TV."

Apesar das iniciativas com IA, Gon avalia que os investidores ainda demonstram cautela em relação aos possíveis impactos da tecnologia sobre o setor de serviços de TI. “Existe muita dúvida se a IA vai acabar com esse mercado ou se ele vai explodir de crescer”, diz.

Listada na bolsa de Nova York (NYSE), a CI&T acumula queda de 26,6% no ano, com as ações cotadas a US$ 4,45. Desde o IPO, realizado em 2021, quando os papéis foram precificados a US$ 15, a desvalorização chega a 70,3%. Em setembro, a companhia abriu um programa de recompra de até 5 milhões de ações.

“Em segmentos como BPO ou help desk, a inteligência artificial é extremamente deflacionária, por automatizar atividades repetitivas. Mas, para nós, ela é uma nova arma, que multiplica as possibilidades de geração de valor, de criação de receita e de ganho de eficiência.”

Para acompanhar o aumento da demanda, a CI&T vem ampliando de forma acelerada seu quadro de funcionários. A empresa encerrou setembro com 7.858 colaboradores, um crescimento de 16,3% em relação ao mesmo período do ano passado, o que representa a adição de cerca de 1.100 profissionais.

Gon conta que o perfil desses novos profissionais é majoritariamente de tecnologia, incluindo desenvolvedores, especialistas em dados e arquitetos de sistemas, necessários para atender aos novos projetos impulsionados pelo uso de inteligência artificial.

Segundo ele, a empresa vem contratando para sustentar o ritmo de expansão e reforçar competências ligadas à criação e integração de agentes de IA em clientes de diferentes setores.

“Estamos contratando. De maneira geral, [o número de funcionários] deve seguir o nosso crescimento de receita, que vem forte e deve continuar forte”, afirma o CEO.

Esses efeitos, segundo o empresário, já são percebidos pelos clientes, que vêm ampliando o escopo dos projetos e contratando novos serviços da companhia. Por outro lado, ao mesmo tempo em que tenta expandir a oferta dentro de suas principais contas — muitas delas parceiras há mais de duas décadas —, a CI&T busca reduzir a dependência dos maiores contratos.

“Eu acho que esse é um progresso gradual. Conforme a gente cresce, vai ampliando em geografias e mercados. Só que tem um outro lado, que é by design, porque a gente também tem uma estratégia bem agressiva de crescer dentro dos nossos principais clientes.”

Entre os principais clientes da companhia, segundo o CEO, estão Johnson & Johnson, Coca-Cola, Itaú, Bradesco, Volkswagen e Audi. “Jogamos também a favor de uma certa concentração por modelo de negócio. A gente quer criar intimidade e ficar com esses clientes durante muito tempo.”

Os contratos firmados com essas grandes corporações são, em sua maioria, acordos de longo prazo, estruturados como multi-year master agreements, que permitem à CI&T ampliar gradualmente o escopo de atuação dentro de cada cliente.

Em vez de projetos pontuais, a empresa atua de forma contínua em frentes como e-commerce, super apps e plataformas de dados, acompanhando a evolução digital dessas companhias.

“A natureza do investimento digital é de continuidade, principalmente se dá certo. Você não lança um e-commerce e depois desiste do jogo. Se você for bem-sucedido no seu marketplace, na sua estratégia de super app ou na estratégia de insights de uma plataforma de dados, você vai continuar investindo”, afirma Gon.