O resultado acima do esperado no terceiro trimestre impulsiona as ações da Amazon em mais de 10% na sexta-feira, 31 de outubro, levando os papéis às máximas históricas de US$ 250,19.
A empresa registrou lucro líquido de US$ 21,2 bilhões no período, um crescimento de 38% na comparação anual. O resultado foi equivalente a US$ 1,95 por ação, bem acima do consenso de mercado, que apontava para US$ 1,56.
No trimestre, a companhia apresentou números expressivos em suas principais frentes: a AWS, divisão de computação em nuvem, teve alta de 20% na receita, para US$ 33 bilhões, enquanto as vendas do comércio eletrônico subiram 13%, para US$ 180,2 bilhões.
Mas foi um fator inédito no balanço que respondeu por boa parte do salto no lucro: os ganhos com os investimentos feitos na Anthropic, startup de inteligência artificial que vem se consolidando como uma das principais concorrentes da OpenAI.
A Amazon registrou um ganho contábil de US$ 9,5 bilhões com a valorização de sua participação na Anthropic, após a empresa ter passado por novas rodadas de investimento que elevaram significativamente seu valuation de mercado.
Os investimentos da Amazon na Anthropic começaram em 2023, quando a gigante americana aportou US$ 1,25 bilhão na companhia e se comprometeu a investir até US$ 4 bilhões, valor que foi totalmente concretizado em março do ano seguinte. Em novembro de 2024, a Amazon dobrou esse montante ao aportar mais US$ 4 bilhões, elevando o compromisso total para cerca de US$ 8 bilhões.
Os ganhos com o investimento na Anthropic têm como pano de fundo a última rodada de captação da startup, concluída em setembro deste ano. Na operação, a Anthropic levantou US$ 13 bilhões em uma Series F, que contou com aportes de grandes gestoras globais como BlackRock, Blackstone, Coatue, General Atlantic, GIC e Goldman Sachs.
O novo aporte avaliou a companhia em US$ 183 bilhões, consolidando a criadora dos modelos Claude como uma das empresas de inteligência artificial mais valiosas do mundo.
Em julho, ainda antes da última rodada de investimentos da Anthropic, a Amazon já havia reequilibrado o valor contábil de sua participação na empresa. Segundo o Financial Times, documentos regulatórios indicavam que o “fair value” do investimento da Amazon na Anthropic era de aproximadamente US$ 13,8 bilhões.
Ainda segundo o Financial Times, os aportes foram estruturados por meio de notas conversíveis, das quais apenas uma parte havia sido convertida em ações até aquele momento, e, para evitar uma concentração excessiva de capital, a Anthropic estabeleceu um limite que mantém a fatia da Amazon abaixo de 33%.
Além da participação acionária, os aportes garantiram à AWS o status de provedora primária de nuvem e infraestrutura de hardware para o treinamento e a execução dos modelos de inteligência artificial da Anthropic.
O modelo de investimento segue uma lógica semelhante à adotada pela Microsoft na OpenAI. Ao adquirir uma participação acionária relevante na criadora do ChatGPT, a companhia garantiu exclusividade no fornecimento de infraestrutura em nuvem por meio da Azure, tornando-se a base tecnológica por trás do treinamento e da execução dos modelos da startup.
Na prática, a parceria consolidou a OpenAI como principal vitrine da plataforma de inteligência artificial da Microsoft, que passou a integrar os modelos da desenvolvedora em produtos como o Copilot e o Bing Chat. Nesta semana, os acordos entre as duas empresas foram renovados, estendendo os contratos de fornecimento de serviços de nuvem e direitos de propriedade intelectual até 2033.
Os investimentos da Microsoft na OpenAI também vêm contribuindo para a linha final do balanço. Nos nove meses encerrados em setembro deste ano, a companhia reconheceu um impacto positivo de US$ 3,086 bilhões no lucro líquido relacionado à sua participação na criadora do ChatGPT. O ganho contabilizado foi quase seis vezes superior ao observado no mesmo período do ano anterior, quando o efeito havia sido de US$ 523 milhões.
No último balanço, a Microsoft também atualizou o valor de sua participação na OpenAI, que passou a ser avaliada em cerca de US$ 135 bilhões, o equivalente a 27% do capital da companhia, segundo dados divulgados pela própria empresa.
A OpenAI, embora seja hoje a empresa de capital fechado mais valiosa do mundo, avaliada em cerca de US$ 500 bilhões, ainda representa apenas uma fração dos quase US$ 4 trilhões de valor de mercado da Microsoft.
O mesmo vale para a Anthropic, que, mesmo avaliada em US$ 183 bilhões após a última rodada, ainda é uma pequena parcela dos US$ 2,7 trilhões da Amazon. Mas, diante do ritmo de crescimento dessas startups e do papel central que a inteligência artificial vem ganhando nas estratégias das big techs, a tendência é que essa distância comece a diminuir.