Há três anos, o empresário Roberto Lee, fundador da corretora Avenue Securities, estava em uma conferência de fintechs nos Estados Unidos quando, depois do evento, participou do almoço de encerramento. Na mesma mesa que ele, estava Vlad Tenev, o fundador do Robinhood.

Tenev começou a contar sobre sua experiência e dizer que os maiores eventos de captação de dinheiro e aberturas de conta aconteciam antes dos grandes IPOs. Lee, ainda não tinha iniciado a Avenue, nunca esqueceu aquilo e pode sentir na pele nesta semana.

A segunda-feira, 12 de abril, e a terça-feira, 13 de abril, se tornaram os dias recorde de aberturas de contas e captação na história da corretora que permite brasileiros comprarem ações e ETFs diretamente no mercado americano. O “culpado” disso foi o IPO da empresa de criptomoedas Coinbase.

“Você não tem noção do que foram esses últimos dias”, diz Lee ao NeoFeed. E continua. “Na segunda-feira e na terça-feira, abrimos 30% acima do último recorde. Captamos mais de R$ 60 milhões em um dia. Nos primeiros cinco minutos de negociações, enviamos seis mil ordens de Coinbase.”

Lee afirma que nunca havia visto tal fenômeno, nem na época em que trabalhou em suas corretoras no Brasil, como a Clear, fundada por ele e depois vendida para a XP. “Foram seis mil ordens de brasileiros aqui no exterior”, diz ele. “Isso tem a ver com adoção, a turma está adotando e usufruindo o sistema financeiro internacional.”

Os números da Avenue mostram isso. A empresa demorou sete meses para atingir os primeiros 40 mil clientes. Agora consegue captar isso em um mês – caso de março passado. Hoje, a companhia conta com 265 mil clientes e US$ 850 milhões sob custódia e Lee afirma que busca um crescimento de Nubank. “Vamos ter milhões de clientes”, afirma.

Na entrevista que segue, ele diz ao NeoFeed que os eventos de maior captação acontecem, por incrível que pareça, quando o dólar sobe ou quando os Estados Unidos vão bem. Ele fala também sobre o perfil do investidor brasileiro e a disputa com a indústria nacional. Acompanhe:

Como tem sido o ritmo de abertura de contas?
O mês que passou abrimos 40 mil contas. Temos aberto, em média, duas mil contas por dia. Hoje estamos com 265 mil contas.

Na sua opinião, o que tem feito a sua operação saltar?
Tenho certeza de que foram os BDRs (que chamaram a atenção para o investimento internacional).

Só os BDRs? Não tem a questão da bagunça que é o Brasil?
Sempre foi assim no Brasil, sempre teve altos e baixos. O problema é que nunca teve veículo. A Avenue entrou como um veículo simples e um produto fácil que foi adotado pelo público. Mas a categoria internacional nunca existiu. No imaginário popular, há dois anos, investir no exterior beirava o ilegal.

Ou era visto como coisa de rico...
Ainda é visto como um bicho de sete cabeças ou coisa de rico.

Por quê?
Porque é a retórica da distribuição nacional. Minha carreira foi em corretora. Antigamente, os bancos dificultavam a ida dos clientes para as corretoras. Agora, anos depois, são as corretoras que se juntam nessa retórica. Elas dizem: ‘investir numa corretora nos Estados Unidos é difícil, você vai se embananar todo, é perigoso, é em outro país, tem que recolher imposto e, olha só, tenho um produto exatamente igual e você nem vai precisar abrir conta lá fora’. É a mesma dinâmica de indústria de bancos.

Mas essa dinâmica e retórica não frearam o surgimento e o crescimento das plataformas aqui no Brasil...
O produto fora do banco sempre foi melhor que o produto vendido no banco. Só que a população não tinha conhecimento. Na hora que ganhou conhecimento – boom! – veio a desbancarização. Agora a gente está vivendo a mesma virada. As pessoas estão tendo mais informação e conhecimento básico.

Qual é o perfil do seu cliente?
É claramente o que desbancarizou e está investindo fora do banco. São pessoas que investem uma média de 10% do patrimônio no exterior.

Os brasileiros investem em marcas como Apple, Alphabet, XP, Stone. Além dessas, Zoom, Slack e Coinbase

No que eles investem?
Investem em marcas. Aparece muito Apple, Alphabet, XP, Stone. Além dessas, Zoom, Slack e Coinbase, que foi uma loucura. Temos também muito ETF de renda fixa.

O que faz os investidores abrirem conta?
Existem alguns eventos que são gatilhos de volatilidade em captação.

Quais são?
Não é nem quais, é quando. É quando tem volatilidade no câmbio, para cima e para baixo. E, antes de fundar a Avenue, tínhamos a ideia de que o dólar alto era ruim. Quando o dólar sobe é quando mais captamos dinheiro.

Por quê?
Entendemos que não é a questão do dólar, é o risco Brasil. Quando tem a percepção de que o risco está ficando alto é quando bomba.

“Quando o dólar sobe é quando mais captamos dinheiro”

Mas você disse que eram vários gatilhos. Quais são os outros?
Gatilhos positivos em relação aos Estados Unidos. O dia que a gente mais captou, tirando segunda e terça-feira dessa semana, foi a eleição do Biden. O que começamos a aprender é que as captações e aberturas de contas acontecem em eventos.

Você diz em IPOs?
Sim. Há três anos, eu estava em uma conferência de fintechs aqui nos Estados Unidos e depois das apresentações tinha um almoço. Na mesa, estava o Vlad Tenev, o fundador do Robinhood. A Avenue nem existia ainda. Nesse almoço, ele começou a dizer que os eventos que eles mais viam aberturas de contas eram nos eventos de colocação. Ele contou, por exemplo, que a indústria de investimentos nunca captou tanto cliente como na abertura de capital do Facebook. Foi a maior abertura de contas em uma semana na história dos Estados Unidos.

E você tem visto isso agora?
Sim, é real. Airbnb, Slack e Zoom foram muito fortes. Mas Coinbase, que é um assunto de tribo, foi uma loucura. Você não tem noção do que foram esses últimos dias.

Vocês esperavam isso?
A gente esperava, só que veio bem acima. Nos últimos dias, foram recordes de aberturas de contas e captação sem parar. Na segunda-feira e na terça-feira, abrimos 30% acima do último recorde. Captamos mais de R$ 60 milhões em um dia. Nos primeiros cinco minutos de negociações, enviamos seis mil ordens de Coinbase. Não tinha visto isso nem no Brasil, em minha carreira toda. Foram seis mil ordens de brasileiros aqui no exterior. Isso tem a ver com adoção, a turma está adotando e usufruindo o sistema financeiro internacional.

O IPO da Coinbase foi um divisor de águas para vocês?
Não, foi mais um evento. Mas temos certeza de que a expansão da vida financeira para o exterior começou. Esse é o momento que a gente vive.

Qual é a meta de vocês?
Em cinco anos, queremos começar a crescer a pace de Nubank. Vamos ter milhões de clientes aqui, vamos oferecer outros produtos, completar a prateleira.