O Banco do Brasil (BB) voltou a apresentar resultados que dividiram o mercado, com avaliações no melhor estilo “copo meio cheio, meio vazio”. Pelo lado positivo, a instituição registrou um lucro líquido ajustado de R$ 9,5 bilhões, um aumento de 8,2% em relação ao mesmo período de 2023.

Outro destaque foi o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) do período, que alcançou 21,6%, aumento de 0,26 ponto percentual em base anual, vindo abaixo do registrado pelo Itaú (22,4%), mas acima do Bradesco (10,8%) e do Santander (15,5%). A carteira de crédito ampliada cresceu 13,2%, para R$ 1,2 trilhão.

“O resultado que anunciamos é uma clara demonstração da gestão com acionistas, clientes e a sociedade brasileira”, disse a presidente do BB, Tarciana Medeiros, na quinta-feira, 8 de agosto, em entrevista coletiva sobre os resultados. “Nosso lucro foi construído ao longo das cadeias de valor e diversas linhas de negócios, com os resultados bem distribuídos nos negócios em que atuamos.”

No entanto, quando pegaram a lupa e foram olhar de perto os números, muitos analistas focaram seus relatórios mais na parte do “copo meio vazio” do balanço do BB. Para muitos deles, apesar do lucro ter ficado em linha ou acima do que esperavam, houve perda de qualidade nos números. “Quando olhamos para o core business, vemos o qualitativo piorando”, diz trecho do relatório da Ativa Investimentos.

Um dos principais pontos foi a questão da inadimplência e das provisões para devedores duvidosos (PDD). O NPL acima de 90 dias (relação entre as operações vencidas há mais de 90 dias e o saldo da carteira de crédito classificada), finalizou o segundo trimestre em 3%, acima dos 2,90% vistos no primeiro trimestre e dos 2,73% apurados no mesmo período de 2023.

As provisões para crédito de liquidação duvidosa (PCLD) foram mais um fator apontado. No trimestre, o índice subiu 8,8%, para R$ 7,8 bilhões. Pesou ainda foi a revisão para cima do guidance, com a faixa de projeções indo de R$ 27 bilhões a R$ 30 bilhões para R$ 31 bilhões e R$ 34 bilhões.

Para os executivos do BB, porém, a situação não deveria ser motivo de preocupação para o mercado, destacando que a situação está sob controle. “Estão procurando pelo em ovo”, afirmou Geovanne Tobias, vice-presidente financeiro do banco.

Segundo ele, o aumento da inadimplência era um movimento esperado, considerando especialmente a situação do agro, que teve que lidar com situações adversas neste ano, como queda dos preços das commodities.

Ele disse que o guidance anterior não contemplava essa possibilidade, porque foi feito na segunda metade do ano passado. “Não tinha uma conjuntura com queda de preços de commodities, dólar em alta, fazendo com que muitos produtores atrasassem os pagamentos”, afirmou.

Tobias afirmou ainda que desde o começo do ano o BB vem alertando que a inadimplência no agro estava voltando ao nível histórico. “Não se trata de um problema estrutural”, afirmou.

Ainda no tema da inadimplência, o vice-presidente financeiro do BB destacou que o banco tem um índice de cobertura adequado para lidar com a situação – o índice de cobertura encerrou o segundo trimestre em 191,3%, menor que os 196% dos três meses anteriores e dos 201,3% do segundo trimestre de 2023.

Para ele, a perspectiva de crescimento da margem financeira bruta vai amortecer o aumento da PCLD e permitir alcançar um lucro líquido de R$ 18,8 bilhões – o guidance para a expansão da margem financeira bruta também foi revisado para cima, de um intervalo de 7% a 11% para 10% e 13%.

No segundo trimestre, a margem cresceu 11,6% em base anual, para R$ 25,5 bilhões, puxada pela margem com o mercado, que se beneficiou dos resultados do Banco Patagonia, na Argentina. Já a margem financeira com clientes recuou 1% em base anual, sendo um ponto considerado negativo pelos analistas.

Para Tobias, porém, com a Selic ficando estável, a tendência é que essa margem também se estabilize e se beneficie da perspectiva de crescimento da carteira.

Sobre a carteira para pessoas físicas, os executivos do BB anunciaram que a instituição pretende retomar o crescimento de crédito não consignado a partir de 2025, com destaque para cartão de crédito, depois de fazer um de-risking das carteiras, após a alta concessão nos anos de pandemia.

Segundo Medeiros, o BB pode fazer essa expansão com segurança depois dos investimentos que fez para melhorar os modelos de risco, depois das experiências do passado. “Vamos correr um pouco mais de risco, mas é um risco calculado”, afirmou.

A grande questão é se essas explicações e os planos para o futuro vão convencer o mercado. "Nosso viés positivo a respeito da história [do BB] se enfraqueceu nos últimos meses, e já há algum tempo não consideramos o banco como nossa principal escolha, como foi nos últimos anos", diz trecho do relatório do BTG Pactual.

Por volta de 12h31, as ações do BB recuavam 0,95%, a R$ 26,06. No ano, elas acumulam queda de 3%, levando o valor de mercado a R$ 149 bilhões.