Depois de aproveitar a liquidez abundante da última década para conquistar clientes e expandir aceleradamente, a palavra de ordem entre bancos digitais e fintechs passou a ser monetização.

Com a escassez de recursos elevando as taxas de desconto sobre praticamente todos os tipos de investimentos, os sobreviventes precisarão avançar em temas como alavancagem operacional e controle de custos, além de manter a diferenciação de atendimento via tecnologia, se quiserem permanecer neste novo momento, segundo relatório da XP Investimentos.

Diante deste receituário, que inclui ainda expansão da base de clientes e investimentos em tecnologia, os analistas Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre mantiveram a preferência pelo Banco Inter, ao mesmo tempo que pioraram a visão para a Méliuz e fizeram elogios ao Nubank (ainda que não melhoraram a recomendação para as ações).

O trio de analista reiterou a recomendação de compra para o Inter e elevou o preço-alvo dos recibos de ações (BDRs) de R$ 18 para R$ 20,30. Os analistas avaliam que apesar de estar um pouco atrás do Nubank na monetização de seu portfólio de produtos, o banco está progredindo operacionalmente, tem boas perspectivas de crescimento, além de apresentar um valuation atraente, com o múltiplo P/VP (que avalia o preço das ações em relação ao seu patrimônio líquido) de 0,9 vez para 2023.

“As iniciativas de corte de custos lançadas recentemente devem permitir que a empresa aumente a rentabilidade de suas operações daqui para frente, à medida que a monetização de sua base de clientes amadurece”, diz um trecho do relatório.

Os analistas da XP Investimentos afirmam ainda que o preço-alvo do Inter pode crescer ainda mais caso o banco consiga cumprir com o plano de ter 60 milhões de clientes, um índice de eficiência de 30% e um retorno sobre patrimônio líquido de 30% até 2027.

No caso do Nubank, apesar de ter elogiado os avanços obtidos nos últimos trimestres, com o banco registrando lucro após anos de prejuízos, os analistas destacaram que o valuation, com o múltiplo P/VP em 5,6 vezes para 2023, precifica a maior parte do valor potencial das ações.

A XP manteve a recomendação para os papéis em neutro, mas elevou o preço-alvo dos BDRs foi R$ 4 para R$ 5,90, dizendo que a companhia está conseguindo expandir sua base de clientes pela América Latina e está controlando custos, dois itens que fortalecem a tese de monetização.

“O recente desempenho positivo do Nubank nos levou a acreditar que a tese da alavancagem operacional, que as fintechs defendem há mais de uma década, está começando a se materializar”, diz outro trecho do relatório.

A Méliuz, por sua vez, teve sua recomendação reduzida de compra para neutro, com o preço-alvo caindo de R$ 20 para R$ 11,20, com os analistas da XP Investimentos avaliando que a fintech está ficando para trás no esforço de monetizar suas operações e de melhorar sua alavancagem operacional.

Segundo os analistas, o cenário macro desafiador está afetando negativamente o varejo, consequentemente prejudicando a principal linha de negócio, a de cashback. Eles também dizem que a venda do Bankly representa uma grande mudança na estratégia de oferecer serviços financeiros, reduzindo os ganhos com esse tipo de operação.

“Embora a gente reconheça os esforços da companhia de cortar custos, que deve ajudar a preservar caixa, estamos preocupados com o contexto operacional e a direção estratégica da Méliuz”, diz um trecho do relatório.

Por volta das 12h07, as ações da Méliuz caíam 0,33%, a R$ 9,13. No ano, elas acumulam queda de 22,6%, levando o valor de mercado a R$ 792,5 milhões.

Os BDRs do Nubank subiam 2,48%, a R$ 6,19, acumulando alta de 76,3% no ano, com o valor de mercado do banco somando R$ 177,4 bilhões. Os papéis do Inter tinham alta de 0,18%, a R$ 16,82. Em 2023, os BDRs registram alta de 52,2%, levando o valor de mercado a R$ 6,8 bilhões.