Na análise fria dos números, a rede de atacarejo Assaí registrou crescimento no primeiro trimestre de 2025. Pelo balanço, a empresa alcançou faturamento de R$ 20,3 bilhões nos primeiros três meses do ano, alta de 7,8% sobre o mesmo período de 2024. Mas isso não foi encarado como uma boa notícia para a companhia.
O problema está no volume de vendas sobre as chamadas mesmas lojas (unidades físicas inauguradas há mais de 12 meses), que representam 292 das 302 lojas hoje em operação no Brasil. Nesse recorte, o crescimento no período foi de 5,5%. Só que a inflação de alimentos acumulada dos últimos 12 meses, segundo o INPC, foi de 7,68%. Ou seja, a empresa perdeu receita.
“O mínimo que deveríamos ter crescido seria a taxa de inflação, mais o volume de vendas. Mas não foi isso que aconteceu neste trimestre”, diz Belmiro Gomes, CEO do Assaí. “Na realidade, a gente teve redução no nosso faturamento quando olhamos essas lojas.”
O impacto imediato, segundo o executivo, foi o aumento do trade down (mudança de produtos para outras linhas mais baratas) nas lojas, principalmente nas unidades localizadas no Nordeste e entre o público de baixa renda.
Segundo Gomes, esse volume representa em torno de 5% da receita da companhia. “É o que poderíamos ter a mais no nosso faturamento. Essa relação é automática”, diz ele.
“O consumidor daquela região está fazendo muita substituição de marca. Isso nos chamou a atenção e trouxe um cenário bem diferente do que esperávamos. A gente não perdeu volume de vendas, mas não conseguiu alcançar o mesmo valor, por causa da inflação”, diz Gomes. “Está faltando dinheiro para o consumidor.”
O cenário não foi pior pela consolidação do volume de clientes A e B que passaram a frequentar a rede de atacarejo. Do total de consumidores, 40% são de pessoas jurídicas. Dos demais 60%, composto por pessoas físicas, 40% são do público da classe média para cima. “Eles mantêm as compras e não ficam muito sujeitos ao trade down.”
Além da inflação, o aumento da taxa de juros também impactou o planejamento dos investimentos da companhia. No balanço de resultados, o Assaí fez uma revisão para baixo do número de lojas que estavam programados para abrir em 2026. Agora, serão 10 lojas inauguradas no ano que vem, metade do que estava previsto anteriormente. Para este ano, também estão previstas 10 novas lojas.
Na quarta-feira, 7 de maio, o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou a elevação da taxa de juros em 0,5 ponto percentual, alcançando índice de 14,75% ao ano. Isso, na avaliação do executivo da rede, inviabiliza parte dos aportes que estavam no horizonte da companhia.
“O custo de capital aumentou demais. Por isso fizemos agora essa sinalização para o ano que vem, já que as decisões são tomadas com antecedência”, diz ele. “Em 2025, as aberturas estão concentradas no Sudeste e, para 206, vamos ainda tomar essa decisão sobre os locais.”
De qualquer forma, há linhas positivas no balanço, na análise do CEO do Assaí. Um destaque foi o lucro líquido apurado no período, que chegou a R$ 162 milhões, alta de 74,2% sobre o mesmo período de 2024. O Ebitda ajustado, de R$ 1 bilhão, cresceu 13,9%.
Outro ponto positivo do Assaí no primeiro trimestre foi a redução da alavancagem em 0,6 ponto percentual. A empresa reportou índice de 3,15x vezes a relação dívida sobre Ebitda, contra 3,75 vezes dos primeiros três meses de 2024. O guidance para 2025 é de alcançar 2,6 vezes até o fim do ano.
“Mesmo com o impacto dos juros no primeiro trimestre, que é o período mais difícil do ano, o Ebitda é o dobro do custo da despesa financeira. Isso significa que não há risco para nossa meta de desalavancagem”, diz o CEO.
Belmiro Gomes também falou sobre a conclusão, no trimestre, do fechamento de capital da unidade brasileira do grupo Carrefour. Para ele, o impacto para o Assaí, caso haja, será na bolsa e não no volume de vendas.
“Ainda que com capital fechado, o Carrefour vai continuar firme, do ponto de vista operacional. Pela visão dos investidores, as ações do Assaí podem ser uma opção pra aqueles que tinham papéis”, afirma o executivo.
No acumulado de 2025, as ações do Assaí na B3 acumulam valorização de 72,48%. A companhia está avaliada em R$ 12,8 bilhões.