A fusão entre Marfrig e BRF, anunciada na noite de quinta-feira à noite, 15 de maio, foi bem recebida pelo mercado quando se olha as perspectivas de longo prazo, por criar a terceira maior companhia de alimentos do mundo, atrás da JBS e da Tyson Foods, e ao lado da chinesa WH Group.
Mas analistas e investidores viram um claro vencedor nesta união no curto prazo ao passarem um pente fino nos termos da incorporação: a Marfrig, considerando os termos do negócio e o que a companhia está prestes a ganhar.
Essa leitura é vista no comportamento das ações das companhias no início do pregão de sexta-feira, 16 de maio. Os papéis da Marfrig registrava a maior alta do Ibovespa perto das 13h, subindo 18,3%, a R$ 24,44. Já os ativos da BRF caíam 2,3%, a R$ 20,15.
Um dos pontos levantados por analistas para explicar esse comportamento é a questão da relação de troca. O acordo prevê que os acionistas da BRF vão receber 0,85 ação da Marfrig para cada ação da BRF que possuírem.
“Esperamos que os investidores se concentrem inicialmente na oportunidade de arbitragem”, diz trecho do relatório do BTG Pactual. “Com base na relação de troca anunciada, no pagamento de dividendos e nos preços de fechamento de ontem, nosso cálculo aproximado sugere um valor justo de R$ 17,30 para as ações da BRF, cerca de 16% abaixo dos níveis atuais de mercado.”
Fique Por Dentro
Um gestor ouvido pelo NeoFeed logo após a confirmação da transação, e que pediu para não ser identificado, destacou que a operação trazia um desconto para BRF e um prêmio para a Marfrig, fator que influencia as ações no pregão de hoje.
Em coletiva de imprensa para tratar da incorporação, na noite de ontem, os executivos das duas empresas disseram que a lógica de cálculo da relação de troca envolveu um prêmio para a ação da BRF de cerca de 15% a 20% dos preços negociados na Bolsa. No caso da Marfrig, o prêmio é maior, equivalente a cerca de 38%, diante da avaliação de que a empresa está com valor descontado.
A leitura de que a operação tende a ser mais favorável à Marfrig neste momento também é vista quando se olha para a parte operacional, considerando os momentos vividos pelos diferentes produtos das duas empresas, segundo os analistas da XP Investimentos.
“O perfil da nova companhia favorece os acionistas da Marfrig, ao ampliar a exposição a produtos processados e ao atual ciclo positivo de frango – que vemos como mais duradouro – ao mesmo tempo em que reduz exposição ao segmento de carne bovina nos Estados Unidos, atualmente pressionado”, diz trecho do relatório.
O BB Investimentos apontou ainda que o acionista da BRF terá participação em uma companhia com maior alavancagem financeira, além de estar exposto à proteína bovina na América do Sul e na América do Norte, operações com rentabilidade inferior aos negócios da BRF neste momento.
No primeiro trimestre, a relação entre dívida líquida e Ebitda da Marfrig atingiu 2,69 vezes no primeiro trimestre, queda em relação às 2,82 vezes apuradas no quarto trimestre. Em dólares, a alavancagem é de 2,63 vezes. Na BRF, essa relação chegou a 0,54 vez nos primeiros três meses do ano, abaixo da 0,79 vez do trimestre anterior.
“Diferentemente da visão que temos sob a ótica dos acionistas da BRF, enxergamos o movimento como positivo para os acionistas da Marfrig desde o início, considerando que a companhia resultante da combinação dos negócios (MBRF) fortalece sua presença global e de diversificação de proteínas, elevando sua participação na companhia que está contribuindo com a maior rentabilidade para o resultado operacional”, diz trecho do relatório do BB Investimentos.
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A expectativa é de que, no longo prazo, a operação destrave valor para as companhias, com a diversificação do portfólio de produtos ajudando a mitigar eventuais perdas de rentabilidade nas diferentes operações de proteínas, quando alguma delas passar por um ciclo mais complexo.
“Estimamos receita líquida [da nova companhia] de R$ 162 bilhões e Ebitda ajustado de R$ 13,8 bilhões em 2025 (ex-sinergias), com o papel negociando a 5,5 vezes o EV/Ebitda e um FCF yield de 7,4% para o mesmo ano”, diz trecho do relatório da XP.
No ano, as ações da Marfrig acumulam alta de 42,9%, com o valor de mercado de R$ 21,5 bilhões. Os papéis da BRF caem 18,7% e o market cap soma R$ 34,1 bilhões.