As gigantes de luxo europeias estão enfrentando uma fase nebulosa com queda de vendas e faturamento em baixa para boa parte do setor. Porém, o anúncio de um grande pacote de estímulo monetário feito pelo Banco do Povo da China (PBoC) pode ser a luz no fim do túnel que as marcas estavam precisando.

O presidente do PBoC, Pan Gongsheng, aprovou o maior pacote de estímulo do país desde a pandemia, no qual reduziu a taxa de juros em 50 pontos base e implementou mais apoio ao mercado imobiliário e de ações. Em outras palavras, isso significa que o poder de compra dos chineses deve melhorar nos próximos meses.

Com esse novo ânimo, os consumidores chineses, que representaram entre 22% e 24% das vendas globais de luxo em 2023, de acordo com um relatório da consultoria Bain & Co, devem voltar a destinar parte de seus fundos para os itens de luxo. E é nisso que os investidores estão apostando.

Com a notícia, as ações das marcas de moda de luxo foram impulsionadas. A Hermès subiu 3,85%, a Burberry, alta de 2,1% e  Kering e LVMH, com valorização de 3,2%.

Para essas marcas, o momento se assemelha ao período pós-pandemia do Covid-19, no qual os consumidores, que passaram meses em casa, decidiram gastar boa parte de seu dinheiro nos itens de luxo, sem pensar no amanhã.

Porém, o cenário é diferente. Na época, o mercado de luxo da China havia triplicado de tamanho entre 2017 e 2021, alimentado pelo rápido crescimento da classe média do país, que foi impulsionado pelo aumento da riqueza das famílias e pelo boom no número de milionários na região.

Hoje, a China passa por um momento de forte desaceleração em sua economia, que foi desencadeada pela crise no altamente endividado setor imobiliário. Como 70% da riqueza total das famílias chinesas está armazenada em valores imobiliários, segundo o Instituto Cato, é preciso esperar que a crise, que teve início em 2020 e se estende até os dias de hoje, mostre sinais de recuperação.

Além disso, a recente repressão da China às "celebridades exibicionistas" e sua ostentação nas redes sociais também ameaça atingir a demanda por produtos de luxo.

Porém, para as marcas de luxo que estão sofrendo os impactos da queda econômica da China há meses e chegaram a perder US$ 200 bilhões em valor de mercado no período, a notícia continua sendo positiva.

Para o momento, algumas empresas parecem estar mais estruturadas financeiramente, como é o caso da Chanel. A casa de luxo francesa levantou € 700 milhões com a emissão de títulos de dívida privados em julho, negócio que conectou a empresa aos investidores institucionais, evitando a volatilidade dos mercados de crédito públicos.

Apesar do aumento de demanda não passar de uma expectativa no momento, essa movimentação pode ser positiva para a companhia conseguir surfar a nova fase.