O prejuízo líquido de R$ 6,7 bilhões da Natura no terceiro trimestre deste ano está diretamente ligado ao write-off da Avon Products Inc (API), subsidiária não operacional da Avon nos EUA. Esse é um efeito não recorrente, mas que reverte o lucro líquido de R$ 7 bilhões registrado no mesmo período de 2023.
“É importante frisar que é apenas um movimento contábil e não afeta a nossa capacidade de investimento. No entanto, anula o lucro líquido positivo obtido com as operações continuadas no período”, afirma Fábio Barbosa, CEO do Grupo Natura &Co.
Esse é mais um trimestre em que a Avon impacta os resultados da Natura. No segundo trimestre, o pedido voluntário de recuperação judicial na justiça americana, em agosto, havia surpreendido o mercado e acabou ofuscando o balanço da companhia, que vem trabalhando para simplificar a estrutura das suas operações.
Considerada somente as operações continuadas, a Natura registrou R$ 302 milhões lucro líquido no período. A retirada dos resultados da Avon e subsidiárias no terceiro trimestre faz parte do Chapter 11.
“Qualquer perda líquida que possa ainda constar no nosso resultado anual poderá ser potencialmente compensada pela reserva de capital, com a devida aprovação dos acionistas, visando permitir que a companhia possa retomar a distribuição de dividendos”, complementou Barbosa.
Se a última linha do balanço veio negativa, a receita líquida consolidada da Natura foi de R$ 6 bilhões, um crescimento de 18,5% em moeda constante em relação ao mesmo período do ano passado. E o Ebtida recorrente saltou 52% para R$ 870 milhões, também em relação a 2023.
O crescimento foi impulsionado pelo melhor desempenho tanto da Natura como da Avon no Brasil e pela aceleração do ritmo de crescimento da Natura nos mercados hispânicos. No entanto, o resultado foi parcialmente ofuscado pelo desempenho da Avon em toda a região hispânica e pela categoria casa & estilo, que registrou um declínio menor da receita em relação ao trimestre anterior.
A margem bruta atingiu 67,3% no trimestre, 3,4 pontos percentuais a mais em relação ao ano anterior, impulsionada pela melhor alavancagem operacional em meio à aceleração do ritmo de vendas e ao escalonamento de R$ 19 milhões em créditos fiscais.
A margem bruta também se beneficiou de um melhor mix de países, uma maior contribuição da marca Natura para as vendas totais e uma melhor execução da dinâmica de preços/promoções e redução de 43% nas despesas corporativas ano contra ano.
O banco Goldman Sachs analisou os resultados como muito positivos, especialmente da marca Natura no Brasil, e que a companhia mostrou tendências de melhoras importantes na sua lucratividade. Mas o banco continua neutro em relação às ações.
Já o Itaú disse que os resultados mostram uma boa tendência de crescimento, que os impactos do Chapter 11 ficaram para trás. Além disso, sugere que a implementação da estratégia de crescimento, chamada de "onda 2", está indo bem e que os investimentos feitos pela companhia estão começando a dar resultado.
O banco afirma que está revendo as suas estimativas para as ações e que a integração do México com a Argentina em 2025 será fundamental para recuperar a margem da empresa. Para o Itaú, a companhia está mais madura para fazer essa implementação.
A dívida líquida da Natura&Co no terceiro trimestre estava em R$ 3,7 bilhões, uma alavancagem de 1,5 vez. A companhia encerrou tinha R$ 3,3 bilhões de saldo em caixa.
A ação NTCO3, da Natura, negociava perto da estabilidade no início da tarde de sexta-feira, 8 de novembro. No ano, o papel acumula queda de 15%. O valor de mercado da companhia é de R$ 19,7 bilhões.