O investimento de empresas em startups está ganhando mais um integrante. Na verdade, uma consultoria. A Deloitte está anunciando que entrou para esse time com a chegada da Deloitte Ventures ao Brasil.

Não se trata de um fundo tradicional de corporate venture capital (CVC), com capital comprometido, para investir em startups. A ideia da Deloitte, que atua com auditoria, tax advisor, financial advisor, risk advisor e consultoria, é usar recursos do balanço para apostar nessas empresas iniciantes.

O Brasil é o quinto país a receber a Deloitte Ventures. Canadá, Reino Unido, Alemanha e Austrália já contam com a iniciativa. Mas o Canadá é o único lugar que montou um fundo estruturado, com US$ 150 milhões, para investir em startups.

“Estamos nos posicionando como open innovation”, diz Gláucia Guarcello, líder de inovação e ventures da Deloitte Brasil, responsável pela iniciativa. “O objetivo é encontrar startups para acelerar, desenvolver e investir.”

A estratégia da Deloitte Ventures é um pouco diferente das empresas que investem em startups via CVCs. Há três formas de se aproximar de uma empresa inovadora.

A primeira delas é via parcerias, na qual a prestação de serviço se transforma em uma dívida que será paga quando a startup atingir um determinado nível de faturamento.

A segunda forma é o desenvolvimento de um produto ou serviço em conjunto com a startup, cujo “pagamento” é feito via equity. E, por fim, é o investimento puro e simples na companhia.

A Deloitte Ventures não revela o valor dos cheques que pretende assinar, nem o valor que tem para investir. Mas a ideia é sempre ficar com uma fatia minoritária na faixa de 5%.

Em casos excepcionais, onde a consultoria considerar que o negócio da startup pode ser muito estratégico, a Deloitte Ventures pode assumir uma fatia perto de 50%, no que Guarcello chama de um pré-M&A.

Guarcello está de olho em startups que atuem na área de serviços financeiros, risco e compliance, segurança cibernética, ciência de dados, inteligência artificial, bens de consumo, sustentabilidade e recursos humanos.

No momento, a Deloitte Ventures está em fase de análise de 10 startups – de um deal flow que chegou a quase mil empresas. Dessas, quatro estão no comitê de aprovação. E quatro já estão em fase de formalização, com os processos perto da assinatura do investimento.

O investimento em startups por empresas é uma das principais tendências de 2022, indo em uma direção contrária ao mercado de venture capital, que passa por uma retração.

Segundo estimativas conservadoras, mais de R$ 2 bilhões de recursos em fundos de CVCs foram anunciados em 2022, mais do que o dobro do ano passado. São mais de 100 empresas investindo em startups, a maioria delas usando capital do balanço, como a Deloitte Ventures, em vez de estruturar um fundo de investimento.

Entre os fundos de CVC anunciados nesse ano estão a Telefônica/Wayra, que divulgou um fundo de R$ 320 milhões; a B3, que criou a L4, com R$ 600 milhões; a Suzano, com R$ 350 milhões; a Vale, que vai apostar R$ 300 milhões em CVC; a Braskem, com R$ 500 milhões; e a Ânima, com R$ 150 milhões.

O interesse é tanto que gestoras estão se especializando em atuar nesta área. É o caso da Valetec Capital, que atende sete fundos de CVC, como o da Eurofarma (Neuron Ventures), da ArcelorMittal (Açolab Ventures), da Ânima (Ânima Ventures), da Locaweb (LW Ventures) e, claro, da Dexco (DX Ventures) – outras duas empresas não divulgaram ainda seus fundos para o mercado.

Outro exemplo é MSW Capital, que faz a gestão do BR Startups, o primeiro fundo multi-corporate venture capital do Brasil, que reúne Microsoft, Algar, BV, Monsanto e BB Seguros. O segundo fundo da gestora atraiu BB Seguros, Baterias Moura e AgeRio. Ela também gere um fundo de CVC para o Banco do Brasil.

Não bastasse isso, os fundos de venture capital também estão entrando nessa, criando estruturas para gerir CVCs. É o caso da Vox Capital, que está à frente de dois fundos: um do Einstein e outro do Banco do Brasil.

Na área de consultoria, a Falconi estruturou também um CVC. Mas o caso mais conhecido é o da Bain Capital, que estruturou uma área que já levantou 18 fundos e investiu em dezenas de empresas ao redor do mundo, de acordo com o Crunchbase. O mais recente deles é um fundo de US$ 5 bilhões para “special situations”.