Em mais um sinal de como está aquecido o mercado de venture capital na América Latina, a fintech argentina Pomelo está recebendo um aporte série A de R$ 190 milhões (US$ 35 milhões), o seu terceiro investimento neste ano para acelerar seus planos de expansão na América Latina.
O primeiro aporte foi em maio deste ano, em uma rodada seed de R$ 49,5 milhões, liderada pela brasileira Monashees e pela americana Index Ventures. Em julho, a Sequoia Capital participou de uma extensão da rodada de R$ 5,5 milhões na Pomelo, no primeiro investimento da gestora americana, desde que voltou a olhar para a região.
Agora, é a vez de a Tiger Global apostar na startup, em uma rodada que contou também com a participação de diversos fundos de venture capital, como Monashees, Index Ventures, Insight, QED, SciFi, Greyhound e Box Group, bem como dos fundadores de Affirm, Checkout, N26, Plaid e Ramp, entre outros.
“São tempos malucos”, brincou Gaston Irigoyen, fundador e CEO da Pomelo, ao NeoFeed. “Fintechs estão quentes e a América Latina está quente também. Não precisávamos do dinheiro, mas ele será essencial para sermos mais rápido e agressivos.”
O que chama atenção também é que a Pomelo tem apenas sete meses de vida e, até agora, conquistou apenas quatro clientes na Argentina, cujos nomes não são revelados – em dezembro, eles devem começar a operar a solução da fintech, segundo Irigoyen.
Com os recursos, a Pomelo, que atua fornecendo infraestrutura para que empresas construam suas próprias fintechs, vai ser mais agressiva no Brasil, onde acaba de contratar John Paz, que comandou a empresa de patinetes Lime no País e na América Latina, para ser o gerente-geral por aqui – ele será também o COO da fintech.
O dinheiro também será usado para a Pomelo acelerar sua expansão pela América Latina. Ela está abrindo um escritório no México e vai atuar também na Colômbia, no Peru e no Chile. O plano é ser uma infraestrutura latino-americana de pagamentos para as empresas da região.
A fintech argentina permite a criação de conta digital white label e a emissão de cartões pré-pagos, de débito e de crédito. A parceria é com a Mastercard. A Pomelo estima que os cartões movimentem US$ 900 bilhões por ano na região e que 95% do processamento seja feito por empresas locais.
Na visão da Pomelo, a emissão de cartões de crédito e débito é um processo lento e burocrático para as empresas que queiram fornecer aos seus clientes. A ideia é fazer isso de forma rápida e descomplicada.
Faz sentido injetar tanto dinheiro em uma empresa que está dando os primeiros passos, desenhando seu produto e com poucos clientes? Segundo investidores com os quais o NeoFeed conversou, a aposta são nos empreendedores que estão por trás do negócio, com experiência no mercado financeiro.
Irigoyen, por exemplo, foi um dos primeiros funcionários do Google na América Latina e ex-CEO da Naranja X, um dos maiores bancos digitais da Argentina, que conta com milhões de usuários.
Juan Fantoni, outro fundador, atuou como diretor na Mastercard. E Hernan Corral, que completa o trio de fundadores da Pomelo, era o CPO da Naranja X, além de ter trabalhado também como head de contas digitais e cartões do Mercado Pago.
Outra razão para acreditar na companhia é que seu modelo de negócio se assemelha ao da americana Marqeta, uma fintech que ajuda empresas a emitir cartões e a processar pagamentos. A companhia acaba de abrir o capital nos Estados Unidos, levantou US$ 1,2 bilhão e está avaliada em US$ 15 bilhões.
O Brasil, aliás, será crucial nessa estratégia de crescimento da Pomelo. Dos 100 funcionários atuais, 50 deles estão no Brasil sob comando de Paz. Com o aporte, mais de 150 funcionários vão ser contratados. “Queremos atuar fornecendo nossa solução para a fintechs, mas também empresas do ramo de mobilidade, varejo e logística. No futuro, todas as empresas serão fintechs”, diz Paz.
A Pomelo não é a única que tem experimentado rodadas seguidas neste ano. A Hash, que também atua como uma “fintech as a service”, acaba de levantar uma rodada série C de R$ 235 milhões, liderado pelos fundos QED Investors e Kaszek, com a participação da Endeavor Scale-Up Ventures. Detalhe: cinco meses depois de captar R$ 81 milhões. Outras fintechs, como Addi e TruePay, engrossam essa lista.
Ao que tudo indica, não só uma grande parte das empresa vai ser fintechs. Uma quantidade considerável investidores quer também investir só em fintechs.