A Contabilizei, que nasceu como um serviço online para contadores, vai se transformar em uma fintech a partir de 2021. A startup já oferece uma conta corrente online em parceria com o BS2 aos seus clientes e prepara novos serviços financeiros, como cartão de crédito, empréstimos e capital de giro. “Esse é o nosso próximo passo”, disse Vitor Torres, fundador e CEO da empresa, ao NeoFeed.
A startup está também negociando um novo aporte com fundos de venture capital, disseram duas fontes ao NeoFeed. Entre eles, o Softbank. Questionado, Torres não confirmou, nem negou a informação. O empreendedor disse apenas que não está ativamente em busca de uma rodada de investimentos. Procurado, o Softbank disse que não iria comentar.
Desde sua fundação, em 2013, a Contabilizei já recebeu mais de R$ 100 milhões de fundos como Kaszek Ventures, Igah Ventures (ex-e.bricks eventures), Banco Mundial (IFC), Quona Capital, Endeavor Catalyst e Point72 Ventures.
O novo investimento seria um aporte Série C e ajudaria a Contabilizei nos investimentos para se transformar em uma fintech. Perguntado, Torres afirmou que não precisa de recursos para investir em serviços financeiros em 2021. Segundo apurou o NeoFeed, as conversas estão avançadas, mas não há nenhum compromisso assinado entre as partes.
O plano de se tornar uma fintech não se trata de uma mudança de estratégia. Quando recebeu aporte de R$ 75 milhões em janeiro de 2019, liderado pela Point72 Ventures, a Contabilizei se preparou para usar os recursos na expansão do serviço atual e na entrada no mundo financeiro.
O modelo de negócio da Contabilizei é o SaaS (software as service), com uma mensalidade que começa em R$ 89. Por exigência da lei, é necessário um contador para prestar o serviço. O pulo do gato da startup foi digitalizar uma série de processos, como o envio de obrigações do governo. “Automatizamos os processos, mas mantivemos o atendimento humano”, diz Torres.
A Contabilizei conta com 20 mil empresas clientes e vem dobrando de tamanho a cada ano desde 2016. “Já somos o maior escritório de contabilidade do Brasil e queremos dobrar o número de clientes em 2021”, afirma Torres.
Estima-se que existam 70 mil escritórios de contabilidade no Brasil. São negócios pequenos e, na maioria das vezes, com atuação regional, atendendo poucos clientes. “O nosso público é a micro e a pequena empresa e há entre sete milhões e oito milhões de empresas”, afirma Torres, mostrando o potencial de expansão da startup na área original.
Desde que estreou sua conta corrente digital, o Contabilizei diz que 80% dos novos clientes passaram a adotar o serviço. “O cash in na conta está muito perto de 100% do faturamento”, diz Torres. O empreendedor afirma também que negocia com diversos parceiros para oferecer os serviços financeiros. Entre eles estão a Visa e a Mastercard, as duas principais bandeiras de cartão de crédito.
Desde que estreou sua conta corrente digital, o Contabilizei diz que 80% dos novos clientes passaram a adotar o serviço
Torres acredita que a burocracia para aprovar um cartão de crédito deve ser menor com a Contabilizei porque a startup tem acesso as informações financeiras dos clientes. “A nossa taxa de aprovação vai ser maior do que a de um banco tradicional”, afirma Torres.
O movimento da Contabilizei é o mesmo de diversas startups e até mesmo de companhias tradicionais da área de varejo, que querem aproveitar a base de clientes e de consumidores para ofertar serviços financeiros.
No passado, o caminho era fazer parcerias com financeiras e bancos tradicionais para ofertar os serviços. Agora, é possível criar carteiras digitais e negociar com uma série de fintechs para acrescentar aplicações que podem ser integradas via APIs de forma rápida e segura.
O aplicativo de transporte 99, por exemplo, lançou a 99Pay, uma carteira digital usada pelos motoristas, que transforma a startup em uma fintech. A Via Varejo, dona das marcas Casas Bahia e Ponto Frio, tem o banQi, um banco digital que é visto internamente com potencial de se tornar um unicórnio, como são chamadas as startups que valem mais de US$ 1 bilhão.
As empresas de software de gestão estão tentando capturar também uma parcela do movimento que passa por seus ERPs para ganhar escala em serviços financeiros. A Totvs conta com uma área batizada de techfin e comprou a Supplier por R$ 452 milhões para acelerar sua entrada nessa área, no ano passado.
A Linx, rival da Totvs, conta também com uma divisão de serviços financeiros e foi comprada, em meados de novembro, pela Stone por R$ 6,7 bilhões, o que deve acelerar sua integração com pagamentos e o mundo financeiro.