A pandemia abriu caminho para um salto da Hilab. Em pouco mais de dois anos, a startup curitibana fundada em 2004 ganhou tração com seu laboratório portátil que, a partir de gotas de sangue e da conexão com uma central remota, fornece os laudos dos exames em minutos, no celular do paciente.
A desaceleração da Covid-19 e o cenário macro mais incerto, entretanto, trouxeram um dilema para a healthtech: como seguir sustentando esse ritmo de crescimento? Uma das respostas para essa pergunta está sendo dada nesta quarta-feira, 31 de maio, com uma nova injeção de recursos na operação.
A rodada, cujo valor não foi divulgado, é liderada pela eB Capital, gestora de Eduardo Sirotsky Melzer, Pedro Parente e Luciana Antonini Ribeiro, que passa a integrar a base de acionistas da startup. E envolve ainda a entrada da brasileira Rise Ventures, além da participação da Positivo Tecnologia, que já investia na Hilab.
“Nós crescemos muito na pandemia, com um equipamento e, basicamente, exames de Covid”, diz Marcus Figueredo, cofundador e CEO da Hilab, ao NeoFeed. “Com essa rodada, vamos escalar novos segmentos e reconstruir, entre aspas, a empresa, dentro de uma operação que, agora, é muito maior.”
Com o aporte, eB Capital e Rise Ventures se juntam a um quadro de investidores que, além da Positivo Tecnologia, conta com a Península, de Abilio Diniz, a Endeavor Catalyst, a Monashees e a Qualcomm Ventures.
Um dos racionais da captação é fortalecer questões como a governança e o time de executivos C-Level da companhia. Outro componente é o momento mais favorável do ponto de vista da regulação do setor.
Em 1° de agosto, entra em vigor uma nova resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que aprova a realização de exames de análises clínicas em farmácias.
Ao mesmo tempo, recentemente, a Justiça deu ganho de causa para a Hilab em uma ação movida pela Anvisa e estimulada, nos bastidores, por rivais tradicionais do setor, ainda em 2019. Na época, o plano era barrar o uso dos equipamentos da healthtech, que já começava a incomodar, nas drogarias.
“Esse era um obstáculo ao nosso crescimento e, mesmo assim, nós consolidamos esse segmento de farmácias”, diz Figueredo. O canal está por trás de boa parte do alcance da operação, presente hoje em mais de 1,5 mil cidades e com um volume de mais de 4 milhões de exames já realizados.
No segmento, a Hilab mantém parcerias com redes como Pague Menos, no Norte e Nordeste; Bemol, na região Norte; Promofarma, em São Paulo; e Unipreço, no Paraná. “O próximo passo é ganhar escala em outros canais que começamos a abrir recentemente, pós-pandemia”, conta Figueredo.
Essa relação de segmentos a serem explorados envolve empresas, clínicas, consultórios e hospitais. E passa, inclusive, por quem, até pouco tempo, via a Hilab como uma ameaça – os laboratórios e grupos de medicina diagnóstica.
Em linha com essa orientação, outra novidade na operação é a contratação de Marcelo Mearim, que acaba de assumir o recém-criado posto de chief revenue officer da startup. Entre outras credenciais, o executivo traz uma última passagem de cinco anos pela Dasa.
“A minha chegada tem a ver com esse histórico mais conturbado com os laboratórios”, afirma Mearim. “Como tenho boa abertura com todos esses players, parte do meu trabalho é aproximar a Hilab desse mundo.”
Novas fronteiras
Nessa linha, embora não revelem nomes, Figueredo e Mearim dizem que a Hilab já mantém conversas com os principais players no espaço de laboratórios. Um dos motes nessas negociações é oferecer, até mesmo em um modelo white label, uma oferta complementar ao portfólio dessas empresas.
“Nós entendemos que, diferentemente da visão do passado, é quase um ganha ganha”, observa Mearim. “Em muitos casos, esses laboratórios precisam de um diagnóstico imediato e, hoje, eles não têm uma tecnologia que permita entregar isso sem um gasto excessivo de logística.”
Em outro canal ainda recente, o de empresas, com serviços e estruturas in-company, a startup já começa a migrar dos projetos-piloto para a assinatura de contratos comerciais. Encaixam-se nesse contexto acordos firmados com empresas como a Renault e a ArcelorMittal.
Outras empresas do setor também vêm reforçando suas apostas em clínicas in-company. A relação inclui desde nomes de medicina diagnóstica, como o Sabin, até grupos hospitalares como o Sírio-Libanês, que já atende clientes como Itaú e Santander, e o Hospital Israelita Albert Einstein.
No caso da Hilab, a abertura de novos mercados e parcerias conta com o reforço da ampliação do portfólio de equipamentos e exames, fruto de um trabalho desenvolvido no decorrer do ano passado. Em dispositivos, a empresa conta agora com cinco laboratórios portáteis.
O maior destaque é o Hilab Lens, que carrega outra oferta recente da empresa: a possiblidade de realizar hemogramas completos. Completam essa linha o Hilab Volt, do tamanho de um mouse e mais voltado a consultórios e emergências médicas, e o Hilab Wave, que reúne 40 exames e não exige o uso de reagentes da própria startup. Ou seja, é uma plataforma aberta, mais voltada aos parceiros.
“Hoje, nós cobrimos cerca de 60% do volume dos exames realizados por um laboratório tradicional”, diz Mearim. “Com esses novos equipamentos, estamos saindo de uma base de 30 a 35 exames para aproximadamente 45 e nossa projeção é chegar próximo de 80% a 90% de cobertura.”
A entrada em novas fronteiras também envolve a possiblidade de expansão internacional. A Hilab já teve equipamentos testados em Portugal, durante a pandemia. Agora, essa nova abertura vem a reboque de uma série de registros de sua tecnologia feita em publicações científicas nos últimos anos.
“Com isso, passamos a ser procurados por empresas de diferentes mercados e, atualmente, já temos negociações com parceiros em 14 países”, diz Figueredo. “No curto prazo, vemos mais potencial em países como Indonésia e Índia, que são mercados com maior similaridade com o Brasil.”